Capitulo 3

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Lição número 3: Querida, nunca converse com alguém usando meios comunicação duvidosa.

"O que seria um meio de comunicação duvidoso ao certo?"

"Uma mesa por exemplo"

Por um momento eu pensei que fosse brincadeira, mas quando o diretor telefonou para minha mãe dizendo que eu levaria um mês de castigo por ter quase provocado dois afogamentos, minha ficha realmente caiu e eu entendi que iria passar o próximo mês cumprindo 2 horas de reclusão na biblioteca, ou seja, para continuar saindo da escola no horário normal, teria que passar a chegar duas horas mais cedo todos os dias pelos próximos 30 dias.

Levei praticamente duas horas inteiras e sem descanso de sermões, tudo para no fim mamãe perguntar o que me levou a empurrar a Regina na água, quando eu expliquei, ela pensou por um momento e depois quando saiu do quarto eu escutei um "bem que a monstrinha mereceu."

Era no mínimo engraçado se não fosse desesperador, eu aguentava tanta coisa naquela escola, é ainda teria que passar duas horas a mais dentro dela.

A primeira semana foi esclarecedora, eu refleti e muito os últimos acontecimentos e tirei uma conclusão: Regina precisava de ajuda médica, não era normal infernizar tanto a vida de uma pessoa.

Comecei a ajudar a bibliotecária e gostei, não era difícil. Se resumia em recolher os livros e coloca- los no seu devido lugar, registrar os empréstimos, cobrar pelos livros atrasados e carimbar os novos. Eu gostava, me acalmava e nas horas vagas eu lia algum livro e me deleitava com as mais diversas histórias, e também podia aproveitar e colocar algumas matérias em dia, e organizar matérias que estavam bagunçadas.

Já fazia uma semana que eu vinha ajudando na biblioteca , Regina nem se quer olhava para mim, e ela não era do tipo que vinha muito a biblioteca.

Era terça feira, estava recolhendo livros de história do terceiro ano, tinha acabado de sair uma turma que precisava de cola para a prova da segunda guerra mundial, então eles largaram tudo espalhado pela mesa. Assim que peguei o último livro pra por de volta na estante, lá estava o primeiro recadinho rabiscado na mesa.

"Você é a bibliotecária mais bonita que essa biblioteca já viu"

Ignorei, é claro, obviamente aquilo ou era uma zoação com a minha cara, ou algum aluno estava apaixonado pela dona Madalena, o que era meio impossível visto que ela tinha 65 anos e tinha bigode.

No dia seguinte foi a mesma coisa, tinha um papel jogado na mesma mesa, e quando peguei para jogar fora tinha outro recado.

"Acreditaria se eu dissesse que não quero zoar com sua cara e que realmente acho você muito bonita? É sério, eu só tenho um pouco de vergonha de me revelar"

"Pai, você era muito fofo!"

"Um galã irresistível, não sei como sua mãe resistiu tanto tempo"

"Ah você sabe sim..."

Resolvi que fosse lá quem fosse que estivesse tentando me sacanear, não ia conseguir nada de mim, então respondi.

"Desculpa, mas eu não converso com mesas de biblioteca"

Sai para ir ao banheiro e quando voltei tinha outro recado.

"Seu nome é Patrícia Oliveira Marques, você tem 17 anos, sua cor favorita é lilás, adora gatos, seu livro favorito é Sonho de Uma Noite de Verão. Sonha em viajar pra Disney, gosta de ouvir Britney Spears e Back Street Boys. Seu desenho favorito é Thundercats. Ama biscoito amanteigado de qualquer sabor porque o que gosta mesmo é da sensação que eles dão na língua. Tem vergonha das suas sardas mas não sabe o quanto elas são adoráveis, tenta disfarçar a cor do cabelo mas a maioria das meninas morreria pra ter os cabelos como os seus, elas só não admitem isso. Provavelmente está sorrindo agora é se culpando por dar ideia a 'uma mesa' mas confia em mim Pat, me dá uma chance de te mostrar que você não é esse patinho feio que a Regina fez todo mundo acreditar... até você"

O Guia de Uma Mãe, Sobre O Que Não Fazer no Ensino Médio. [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora