IDENTIDADE

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O Banana

Era Janeiro, do ano de 1999, um dia comum, e lá seguia pelas ruas o intelectual, porém, desconhecido pela sociedade Léo. "Lerdo" era assim que as vozes das ruas o chamavam em frustrantes tentativas de obter dele atenção, com propósito único lhe usar de chacotas.
Municiado de seus livros e cadernos figuras importantes em sua vida. Destino? Quem sabe? Rumo ignorado, olhar perdido, todos os dias o mesmo olhar filtrado ao nada como se estivesse diante de uma das maravilhas do mundo. Quem consegue entender? Jovem. Era tão grande sua inocência que às vezes a cisma se doía em saber se, real ou fictícia parecia até que, sua idade como de um garotinho de nove anos, tanto era sua fragilidade que transmitirá naquele olhar, dono de um corpo esquelético cheirava as melhores essências, pele escura, de quem sofre os maus tratos recebidos involuntariamente pelo sol do meio dia, cabelo? Se for justo chamar aquele amontoado de fios embaraçados, uns aos outros de cabelo, crespo cinza. Quem o via indagava se tinha vida. Talvez um dos motivos de prender tantos olhares. Sua estrutura gigantesca não era nada comum, os olhares sempre curiosos o seguiu por onde passou, pelas vilas, praças e ruas da pacata cidade de Caraguatá. Léo cuida em cumprir rigorosamente sua rotina, difícil decifra-lo, compreender é impossível, em dias quentes se vestia com agasalhos, casacos de aquecer um inverno inteiro, tão curioso tal situação que mais uma noite fugirá o sono, rolaria em minha cama como uma bola de futebol em dia de jogos. Castigou meus pensamentos.

Lembro de ouvi-lo pronunciar algumas palavras, aquela voz ainda ecoa adentrando meus ouvidos no mais profundo. Espantoso, tomado pelo pavor, coração palpitante, parece querer sair do peito. Falava ao relento, mas, quem o respondia era o vento que naquele dia assoprou ferozmente por toda a pequena cidade de Norte a Sul, de leste a Oeste. Ainda atônito lembro daquele assobiar em meus ouvidos. Para ele era como uma pessoa respondendo-o. Ouvi relatar o seguinte fato:

-Vinte e nove de setembro de mil novecentos e oitenta e seis, como uma semente é plantada com toda ciência e amor, assim fui brotando em rigoroso inverno.
O vento passou em assobio como resposta. Continuou.

-Mas, não foi somente eu, naquele dia muitas outras brotaram.
Aguardando seu amigo vento lhe falar algo, dominou alguns segundos de silêncio.

-...

Antes de vir o tédio a cabeça, quebrou aquele silêncio todo.

-uma linda sequência de brotos a suspirar...
-vuuuu!!!
Interrompido por seu amigo calou-se para ouvi-lo. Desta vez foi mais impetuoso talvez estivesse bravo. -sinalizando que havia chegado!
Continuou ele com sua história.
-Momento difícil para alguns.

-totalmente consumidos por um estado de "ansiedade" olhos apreensivos avermelhados, transbordando água do mar. Aparentavam ser jardineiros no primeiro dia do Outono aguardando ansioso o brotar.

Dali por diante não consegui mais acompanha-lo, o jovem adentrou o prédio onde estuda.

Essas palavras insistem em ecoar dentro de mim aquela cena tenebrosa vaga meu subconsciente. Fora do normal aquela situação. Pela primeira vez o temi...

Como terminará essa historia? Fiquei a me perguntar.

Aguardei-o dia após dia passar por aquele caminho novamente, precisava matar em mim a curiosidade. Quando desfalecida as esperanças de reencontrar eis que o destino o trouxe novamente a sua rotina. Com mãos trêmulas, lábio palpitante, pernas sem firmeza, aproximei então dele, a gagueira não deixou esconder o meu nervosismo. Mas eu precisava interrogar e saber o desfecho daquela tenebrosa história.

chamei-o receoso. -Jovem!!

Cabisbaixo, talvez intimidado virou a responder:
-pois não senhor?

Sem esbaldar muita reação procurei conduzir aquele histórico momento, sem muito rodeio de palavras, fui direto ao que era de meu interesse. Contei todo ocorrido que meus olhos presenciaram naquele dia. Logo o pedi que me contasse o fim de sua história. Pela primeira vez o vi sorrir. Percebendo o rapaz meu espanto tratou logo de se explicar:

- A história ainda não terminou meu senhor. contarei o fim.

-conte!

- Não foi tão difícil assim, nascemos em conjunto, passamos horas dividindo a mesma incubadora dormimos por horas, nossos corpinhos entendiam que, um aquecia ao outro, era a nossa defesa não queríamos nos separar, precisávamos crescer juntos, sofrer as mesmas tempestades, enfrentar o mesmo sol, era pra ser assim, porém como acontece sempre, separados fomos antes da hora tomando rumo ignorado cada um.

-hum!... Expressei minha satisfação. Antes que eu o interrompesse o enchendo de perguntas me olhou nos olhos. Me senti acuado, sem alternativas, faltou palavras a boca só consegui perguntar-lhe o nome:

-Qual seu nome?

Sem responder minha pergunta ignorando-a, voltou a contar sua historia:

- Já amadurecido me tornei forte. Utilidades? Tenho muitíssimas nada se perde

Naquela dialogo entendi que ele se comparava ironicamente a uma banana, talvez resultado das inúmeras vezes que o chamávamos assim pelas ruas. Carregava naquele momento um tom de sarcasmo. Minha expressão mudou completamente subiu a memória inúteis vezes qual me frustrou o coração junto aos companheiros na tentativa de zombar o chamando de "banana". Imóvel diante dele, os meus olhos lacrimejantes, senti o amargo sabor da lágrima arrependida que rolou pausadamente em meu rosto adentrando os lábios. Como alguém poderia tirar bom proveito de uma desdenha? Não satisfeito talvez o jovem, jogou mais um bocado de palavras em mim.

- Na verdade estou me erguendo depois da triste separação de meu amigo. Minha vida prosseguiu enfrentei as adversidades da vida sozinho, sem notícias, do meu amigo Eric. Ele esteve na mesma incubadora comigo. Soube apenas por boatos que se tornou Dr em Medicina, que orgulho para um banana.

Dizia isto com muita ironia. A partir de então a ironia tornou sua defesa em palavras autênticas.

- Se eu ainda mantivesse contato. Tornou a dizer.

-Contaria-lhe que, aqui vou eu com meus livros e cadernos, destino? Ignorado, olhares ao nada diante de uma grande e maravilhosa obra de arte que se chama natureza pensando no dia em que nascemos, não apresento ter muitos anos de vida, pois tamanha inocência o meu olhar transmite, estou magro, de pele escura, meu cabelo ficou crespo, ganhei alta estatura, cuido somente em exercer rigorosamente minha rotina. Sempre no caminho a faculdade fico estagnado, com o olhar ao horizonte, remoendo o passado. Lembro de sermos simples bananinhas que não queriam nunca serem separadas. Que ironia estar no último ano de psicologia e você um Dr. em Medicina, porém, sempre seremos bananas.

Aliás, senhor meu nome é Leonardo Augusto "o banana".

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