Herdeiros Da Luz [EM ANDAMENTO]

[+17] 02 - Sete Vezes

Capítulo dois, Sete Vezes

[Revisado, mas se acharem erros, por favor, avisem]

O PASTOR DA IGREJA da rua de baixo dizia que não se podia ler a Bíblia como se fosse um livro de história normal, devia-se lê-lo com o coração, pois a Bíblia era a conversa com Deus e com o Senhor Jesus Cristo. O padre da igreja de cima também dizia a mesma coisa. Alice não sabia qual era a diferença de uma leitura para com a outra, mas tinha certeza de que lia a Bíblia de maneira errada. Não dava a mínima, todavia.

Sempre tivera gosto por ler. Até bula de remédio, para falar a verdade. Entretanto, as literaturas do ensino médio, aquelas que a escola a obrigava, não se permitia o trabalho e quase sempre pesquisava um resumo junto com suas colegas. E ultimamente, lia mais eram textos do Facebook, alguns blogs, o que estava na moda, e o que seus amigos liam e comentavam. Porém, a Bíblia transmitia certa curiosidade, já que era um livro misterioso, cheio de poder e revelação, acreditavam, e que narrava o princípio e o arrebatamento da humanidade; se era verdade ou não o que aquelas páginas relatavam, ela em parte não ligava. Mas gostava de mergulhar naquele livro de capa rosa-choque que tinha, o único livro que tinha atualmente, mesmo que cheio de palavras difíceis, segundo ela, e que faziam-na por vezes virar duas ou três folhas de uma só vez sem nem dar uma mísera olhadela.

Ler cansa, devaneou. Estava a mais de três meses tentando devorar o livro de Cristo. Antes de começar a tentar esse feito, ler o sexto livro de sua vida por completo, que seria a Bíblia, do início ao fim, já havera se pegado olhando alguns capítulos do mesmo, principalmente os de Gênesis e Apocalipse. "E que a graça do Senhor esteja com todos", era o que dizia o último dos últimos parágrafos. E também lia algumas passagens quando o pastor ou o padre pediam.

Alice desejou que a graça do Senhor fizesse sua mãe devolver seu celular e a tirasse do castigo. Aline não havia descoberto sobre a fuga da filha para o aniversário do namorado, uma semana atrás, porém Alice acordara bem tarde no dia seguinte aquele. Passava-se das de três horas da tarde, e ela trancara a porta de seu quarto (por isso Aline não conseguira lhe acordar). Disse que ficou muito preocupada com ela, tentou até arrombar a porta, e que ela não deveria se trancar daquela forma novamente. Tomou a chave. Tomou o celular. E proibiu Alice de sair, até mesmo para a igreja evangélica que ia com uma amiga. Em verdade, faltavam metade do culto na maioria das vezes e iam para uma pracinha conversar fiado. Desde então, desde o castigo, ia somente para a igreja católica que a mãe frequentava.