Sob a Luz da Lua

NÃO ME DEIXE

26/11/2016, Residência dos Campos, 16:47

— Por favor, Valentina, por favor, não desiste da gente, não desiste de mim, por favor, não me deixe. - Luiza suplicava à mulher que estava à sua frente.

— Eu não quero terminar, mas eu não aguento mais isso, Luiza. Não dá mais pra mim. Eu estou completamente sufocada. - Valentina ergueu as mãos e secou as bochechas molhadas.

— Eu sei, meu amor, eu sei que você tá cansada disso tudo... - a jovem mulher deu três passos à frente ficando a milímetros da outra, segurando seu rosto entre as mãos e encontrando aqueles lindos olhos verdes e igualmente molhados — Eu também tô exausta, e eu sei que tudo isso é uma droga, mas, por favor, me dá só mais algum tempo... Um ano... Eu só te peço mais um ano pra eu poder sair de casa e eu juro...

— Mais um? Eu esperei três anos, Luiza. Eu esperei a porra de três malditos anos e nada aconteceu. Se nesses três anos você não contou sobre a gente nem pra sua mãe, sabe-se lá quanto tempo você vai levar pra dizer pro seu pai... - Valentina ergueu as mãos tirando as de Luiza de seu rosto e suspirou, exausta, abaixando o tom de voz e falando quase inaudivelmente — Eu te amo, Lu. Te amo pra caralho como eu tenho certeza que nunca vou conseguir amar outra pessoa na minha vida, mas eu cansei de viver assim, cansei de viver escondida... - a mulher de olhos verdes abaixou a cabeça e fechou os olhos, tentando reunir o último resquício de forças que tinha.

— Eu cansei de não poder segurar sua mão quando estamos na rua, eu cansei de toda vez chegar aqui e ter que fingir que nós somos só amigas enquanto seus pais ficam falando sobre os caras que estão a fim de você, e eu tô exausta de sofrer por ter que esconder de todo mundo a mulher que eu amo.

— Amor, eu vou falar pra minha mãe e pro meu pai, eu vou sair de casa, eu juro, eu só preciso me estabilizar e...

— Você já tem 20 anos, Luiza. - Valentina a interrompeu novamente — Você já é uma mulher adulta e não precisa mais dar satisfações da sua vida pra ninguém.

— Eu moro com eles, Valentina. Eu sei que você não entende, que pra você é fácil sair por aí sem olhar pra trás, mas enquanto eu viver aqui vou ter que seguir as regras deles.

— Fácil? - a mulher respirou fundo — Eu tive que abrir mão da minha vida pra poder ser quem eu realmente sou. Eu abri mão da minha vida pra poder amar você.

— Eu sei, e eu tenho muito orgulho de você por isso. Mas eu não pedi pra você fazer isso e eu não sou tão corajosa quanto você, Valentina. Eu queria ser, eu queria largar tudo e...

— Vem morar comigo, Lu. Vem comigo pra São Paulo... A gente tá se mudando, tá alugando um apartamento no centro. Não é muito grande, mas é um lugar ótimo, e eu tenho certeza que as meninas não vão se importar.

— Eu não quero sair de casa pra viver uma aventura, Valentina. Eu não quero me aventurar em uma república com um monte de gente.

— Não é viver uma aventura. Não é se aventurar com um monte de gente. É viver comigo, Luiza. É viver uma vida comigo.

— Amor, eu não consigo deixar meus pais assim, não ainda. - a voz da morena estava visivelmente embargada.

— Que ótimo. Você não consegue deixar seus pais, mesmo morrendo de medo deles não te aceitarem, mas consegue deixar a pessoa que sempre esteve do seu lado e aceitou todas as suas versões. - Valentina tentou parecer sarcástica, mas sua voz saiu magoada.

— Você não entende, não é?

— Sinceramente? Não! Eu gostaria, muito, de verdade, mas realmente não consigo te entender... - a morena respirou fundo — Quer saber, Luiza Campos? Não vou mais perder meu tempo tentando entender alguém que, supostamente me ama, mas não quer ficar comigo. - Valentina tentava ser o mais indiferente possível, embora seu peito estivesse repleto de dor.

— Supostamente? - Luiza riu com desdém — Você é inacreditável, Valentina Albuquerque, inacreditável e, caralho, eu tenho vontade de quebrar sua cara quando você começa a agir feito uma estúpida...

— Relaxa que a estúpida aqui entendeu o recado perfeitamente e tá saindo de cena, tá te deixando sozinha nesse teatrinho... - Valentina respirou fundo buscando forças para falar — Acho que eu não tenho mais motivos pra ficar nessa cidade. Adeus.

O peito de Luiza Campos parecia que iria explodir tamanha era a dor que ouvir aquelas palavras causaram, assim como Valentina Albuquerque teve seu coração partido em milhares de pedaços ao dizê-las.

Era o fim.

Por mais doloroso que pudesse ser, era o fim. E ambas sabiam disso.