ANTES

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— É a sua vez, Tobias. Essa será uma jogada decisiva! Está vendo aquele homem? — Meu treinador refere com o seu dedo indicador na direção de um homem vestido formalmente, dono de um semblante carrancudo e olhar penetrante. — Ele irá decidir se você irá para os Bulls ou se tornar um derrotado. Se fracassar, diga adeus a sua vaga, garoto!

Que seja feita a sua vontade, Senhor! — Sussurrei discretamente, para que só Deus ouvisse.

Agarrei com todas as minhas forças a minha fé e corri para a quadra, agitando a bola de basquete em meus dedos. O suor começava a correr pelo meu rosto esbranquiçado e as minhas pernas lutavam para me sustentar.

Da arquibancada, murmúrios me despertaram da minha concentração. Em questão de segundos, os meros sussurros passaram por uma incrível metamorfose.

Tobias! Tobias! Tobias! — A torcida gritava pelo meu nome, torciam por mim e senti uma ponta de orgulho crescer em meio a minha fé, da mesma forma que um joio indesejado floresce entre o trigo. Aquele foi um erro fatal. E naquele instante, me desvencilhei da minha confiança em Deus e passei a planejar as jogadas pela minha própria vontade.

Deixei a torcida em seu estado de ansiedade e me concentrei em meus adversários. Eles não pareciam muito felizes, aliás, eu tinha a fama de bom jogador, e aquele ponto do jogo era crucial. Uma só enterrada e eu poderia comemorar não só a vitória, como também a minha vaga garantida na liga de basquete da capital do estado, os Chicago Bulls*¹, e ganhar milhões fazendo o que realmente gosto.

Percebi algo que talvez naquele instante fosse algo insignificante. Alguns jogadores do time adversário sussurravam algo entre si e me intimidavam com olhares, mas um deles não parava de fitar a minha perna esquerda. Eu estava me sentindo completamente vulnerável, mas decidi confiar em mim mesmo.

O cronômetro finalmente dispara, os últimos segundos restantes passaram como um relâmpago que reverbera na escuridão do céu noturno. Saí correndo pela quadra com a bola, confiante do que eu fazia.

— Tobias, passa pra mim! Eu livre! — Dimmy grita ao lado da cesta, mas tudo o que eu queria era fazer a cesta da vitória, queria que o mérito fosse restritamente meu.

Ignorei completamente Dimmy. Cheguei em frente ao garrafão, subi meus braços acima da cabeça e impulsionei a bola entre meus dedos. Foi quando senti uma dor emergindo em meus sentidos.

Caí humilhantemente, deixando a bola escapar da cesta. O fim do jogo foi anunciado, eles haviam vencido e eu estava sem poder me locomover. Veio à tona uma multidão a minha volta, todos colocavam suas mãos em seus lábios, tentando conter o espanto. A minha perna direta estava com uma fratura exposta e sangrava de acordo com os meus movimentos, e foi aí que senti o desespero lutando para sair pela minha garganta. Logo os paramédicos chegaram e me colocaram em uma maca, as lágrimas começaram a descer pelos meus olhos azuis, a dor era inexplicável, e o que mais me conturbava era que eu não sentia o movimento da minha perna.



A Última PreceOnde histórias criam vida. Descubra agora