Capítulo 1

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Mallasta sempre foi uma cidade grande. Ir à escola demorava mais do que deveria, por isso minha mãe aceitou a oferta do seu patrão para se mudar de casa. Por mais que as pessoas que vivem aqui reclamem do quanto o nome da cidade é estranho, dos cidadãos sem educação e da criminalidade, eu gosto de morar aqui. Sinto o aroma que a cidade exala, cheira a esperança.

Esse é um dos motivos por ter mais gente de fora do que a população que nasceu aqui, há muitas oportunidades para quem sabe aproveitá-las. Não é o meu caso, porém, já que é a terra da esperança, eu acho que mereço uma segunda chance.

Enquanto o carro parava em mais um engarrafamento, observei as lojas e os prédios enormes que enfeitavam a rua mais movimentada de Mallasta. São oito horas da manhã e os estabelecimentos já estão abertos. As pessoas que andam de um lado para o outro estão muito animadas, afinal, hoje é sexta-feira.

Talvez eu devesse estar feliz por finalmente fazer algo de útil esse ano, como estudar. Ou simplesmente sair de casa, tomar um sol e emagrecer. Mas escola não é e nunca será um lugar de paz. Os alunos não iam permitir, os professores não iriam parar de falar o que você deve fazer e ser e, por último, ninguém liga se você estiver com problemas. 

Cortar o cabelo, prender no banheiro, sumir com a mochila e arremessar bolas de futebol na cabeça são algumas coisas básicas que eu passava quase todo mês. Já tentei falar com a diretora, porém, o que mais importa pra ela não é o bem estar dos estudantes, é a desagradável filha dela. Não preciso dizer o quanto Britney se aproveita disso para passar impune. 

Já pensei em dizer tudo que está acontecendo para a minha mãe, mas nas poucas vezes que ela fica em casa, está exausta e quer descansar. E também, não tenho provas de nada, já que não tem câmeras naquele lugar e a diretora nunca vai chamar a minha mãe por conta disso. Como já aguentei até aqui, não vai ser difícil passar por só mais um ano. 

Passamos pelo engarrafamento e faltavam poucas quadras para conhecer a nova moradia. Assim que chegamos, conversamos com o porteiro e ele permitiu a nossa entrada. Notei que nossa casa era menor que a antiga, as paredes são brancas e o telhado é verde como todos os outros sobrados do condomínio. Tem uma placa com o número "140" escrito em dourado.

Como são dez da manhã, tenho o dia inteiro para arrumar minhas coisas. Coloquei uma caixa cheia de livros em cima da cama, quando me virei, minha mãe estava na porta analisando meu quarto.

— Filha, às dezenove horas nós iremos jantar na casa do senhor Bruno. — Esse é o novo chefe dela, não estou tão ansiosa para conhecê-lo. — Vista uma roupa adequada para a ocasião. — Revirei os olhos. Nada que faço é o suficiente, talvez se eu andasse pelada ela não reclamaria das minhas roupas.

 Por que não posso ir de calça jeans? Não é feio. — Passei as mãos pela calça, tirando a poeira da mesma. Ela tem alguns rasgadinhos, é uma das únicas coisas que me lembram do meu pai. 

— É sim. — Ela falou baixinho e eu ouvi. — É só hoje filha. — Me olhou com o olhar que não posso negar. Não me sinto confortável usando saias e vestidos, tenho uma sensação estranha. Suspirei derrotada.

— Tudo bem. — Ela fez uma pequena comemoração e me abraçou. Depois avisou que ia ao mercado, já que não havia comida na geladeira.

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Coloquei meus fones de ouvido e comecei a organizar minhas coisas. Passei a maior parte do tempo inventando passos e rodando pelo quarto do que desencaixotando as roupas. A música e eu temos uma ligação, ela fala comigo, me ajuda em momentos difíceis e me inspira a dançar.

O quarto é grande, tem duas portas, uma do banheiro e outra do closet. As paredes são de um tom de creme, junto com algumas partes em violeta. A cama fica no meio do quarto, de frente para a porta do cômodo. Tem uma janela a um metro e meio da cama e ela não tem cortinas.

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⏰ Última atualização: Oct 01, 2023 ⏰

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