Prólogo

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– Mamãe, mamãe, corre! Eles vão pegar a gente! Eles vão pegar a gente, mamãe! – Laura corre e grita, mas não tira o sorriso do rosto por nada. Nem eu. Esses são os momentos mais felizes da minha vida. Um domingo à tarde, eu, meu marido e minhas duas filhas, correndo, brincando ao ar livre debaixo desse sol maravilhoso. Pega-pega é a brincadeira favorita das gêmeas e de Marlon, ele parece a verdadeira criança quando está brincando com as filhas. É a coisa mais linda de se ver, se eu pudesse me sentaria e passaria a tarde toda assistindo os três brincarem, mas se eu fizesse isso acabaria sendo jogada na piscina, eles exigem que eu brinque também. Não vou reclamar, eu amo passar a tarde com eles, mas meu pique não é dos maiores e eu me canso mais rápido. – Corre mamãe! Eles estão chegando perto!

Nós nos acostumamos a brincar dessa brincadeira em duplas, então Marlon e Lydia correm enquanto eu e Laura devemos fugir. Ela leva a brincadeira muito a sério, aliás, tudo o que ela faz ela leva muito a sério. Laura sempre foi a mais competitiva das duas, sempre quer atingir a perfeição em tudo o que faz, tanto que ela é a melhor pianista mirim do país, apresenta concertos em todos os lugares, inclusive internacionalmente. E ela só tem quatro anos. Eu sei que minha filha ama o que faz, que o piano para ela é como parte de sua alma, mas como mãe eu não posso deixar de me preocupar. Me preocupa o senso de responsabilidade que uma garota tão nova tem, me preocupa a pressão a qual ela é submetida, uma pressão exercida por ela mesma, mas o que mais me preocupa é que ela deixa de lado coisas de criança, como brincadeiras numa tarde de domingo, por ensaios e concertos. Hoje é um dos raros dias que ela ainda não se sentou na frente do piano e lá ficou por horas.

Enquanto isso Lydia é mais sensitiva, ela tem uma capacidade, um dom natural para entender as coisas sem a necessidade de palavras. Ela também é muito madura, assim como Laura, mas de uma maneira diferente. Lydia carrega consigo o peso do mundo, ela quer resolver os problemas de todos e fazer todo mundo ficar feliz. Essas duas unidas são imparáveis.

Depois de muito brincarmos, o cansaço bateu sobre nós, eu melhor, sobre mim, os outros três ainda tinham energia suficiente para acender todas as lâmpadas da cidade. Mal sentindo os meus pés e com a respiração ofegante, me deito ali mesmo na grama para respirar um pouco, porém quando vejo, Marlon está encima de mim, Lydia encima dele e Laura no topo.

– Montinho em cima da mamãe! – Marlon grita e nossas filhas começam a gargalhar e gritar ao mesmo tempo. Em segundos eu também estou gargalhando e nem sei como, mas nós estamos fazendo cócegas uns nos outros e rolando na grama. Meu coração se aperta por tamanha felicidade, tenho a impressão que vou explodir e de meu corpo sairá alegria em sua mais pura forma. Se eu pudesse, faria esse momento durar para sempre.  

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