Eu não entendo.
Há um minuto atrás, eu estava na saída da escola, vazia e silenciosa, cheio de confiança e determinação para ir pedir perdão a um grande amigo com um passado cheio de arrependimentos para ambos. Agora estou à frente dele, porém estamos dentro do ginásio escolar com mais pessoas, que por coincidência ou não, conheço toda essa gente.
No centro do campo há um círculo formado por inúmeras cadeiras ocupadas. Uma delas é onde estou sentado, totalmente imóvel. Começo a entrar em pânico, tentando mexer um único dedo, mas sem sucesso. É como se eu levasse uma anestesia. Tentei chamar alguém, mas a minha voz não saía por mais esforço que eu fizesse. Desisti de lutar por enquanto e meti a mente ativa.
Pelos vistos, todos estavam na mesma situação que a minha. Será que estamos sendo assaltados, ou pior, executados? Porque eu não consigo perceber que, de um momento para o outro, o meu corpo está aqui... preso? É como se um vídeo de memória fosse dividido em três no Movie Maker e daí a parte do meio fosse... eliminada, sobrando apenas o início e o final da gravação.
O campo de futebol em que situamos permanece em silêncio durante longos minutos, mas para mim, e possivelmente para todos, é o barulho de explosões ecoando na alma numa eternidade.
Então decido olhar bem para cada pessoa, e pelo menos contar a quantidade de pássaros dentro da gaiola.Mas antes que pudesse terminar a contagem, a área central surge vapor lentamente até não poder enxergar as pessoas do outro lado do círculo. Tenho alguma dificuldade de ver algo ou alguém dentro daquela fumaça, mas acabo por detetar um adulto desconhecido.
O homem está vestido de traje azul-escuro, como se fosse um uniforme de uma agência secreta. Botas e luvas da mesma cor da roupa. O cabelo branco aparentava ser estilo emo. Sinto um arrepio de medo quando ele me encara com os seus olhos amarelados. Calculo que ele tenha entre trinta e quarenta anos, mas o que mais me chama a atenção é o símbolo prateado na sua jaqueta escura: Uma cabeça de lobo.
Quando ele acaba de aterrorizar cada um com o seu olhar neutro, mas sério, finalmente aquele que parece ser o caçador de pássaros decide abrir a boca.
-Reltih Obol. Meu nome - apresenta o desgraçado intimidante - Vocês devem ter imensas perguntas, mas vou ignorar a maioria delas - sorri de maneira maligna - Pois estou ansioso para ver quem vai sobreviver ou morrer nesse jogo.
O meu coração travou perto do final da frase. Esse idiota está tratando todos nós como peões ou personagens de ação? Só pode ser um pesadelo! Eu nem me lembro de ter consumido drogas!
-Sim, meus caros, pelo menos metade serão mortos nesse jogo, de acordo com os meus cálculos. Então sejam bem-vindos ao início do vosso maravilhoso e delicioso pesadelo - diz Reltih na maior das calmas, como se tivesse treinado o discurso para uma peça pela milésima vez - Como todos os jogos, a vitória tem prémio, nesse caso é desconhecido. Todavia o preço da derrota será a vossa tranquila vida. Então espero que tenham aproveitado ao máximo antes, pois a qualquer momento vocês poderão estar sem ela.
Eu estou ficando parvo! Eu estava prestes a recuperar a minha rotina amigável e agora estou aqui com um tal Reltih Obol brincando com a linha limite que indica a Vida e Morte.
-Continuando... Vou contar-vos uma história, na verdade, o início e sinopse dessa história para melhor compreensão - tento prestar atenção, por mais traumatizado eu esteja - Era uma vez... Uma aldeia, nesse caso, uma escola, que vivia cerca de cinquenta pessoas.
Cinquenta. É o número de pássaros presentes nesse ginásio.
-Era uma aldeia normal com vidas tranquilas, se não fosse pelo facto que alguns dos aldeões eram na verdade - deu uma pausa de olhos fechados, pronto para mais um susto - lobisomens.
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Falso Dilema
WerewolfFalso Dilema: Quando se reduz todas as opções para apenas duas. Existe pior lugar para ser preso, matar amigos e provavelmente morrer do que na escola? O jogo mortífero começou sem hesitar ou permissões. Somos 50 pássaros nessa gaiola. O objetivo é...