Efeito Inicial

29 1 2
                                    

-Rafael! Acorda! O jogo começou! Rafa! – ouço alguém chamando, que pela voz feminina aparenta ser uma fedelha da primária.

Abro os olhos lentamente por conta do forte brilho solar. Que estranho, o sol devia estar ocultando ao invés de parecer ser meio-dia de pleno verão. O odor por sangue desapareceu, assim como a dor.

Quando consigo finalmente enxergar apercebo vários rostos ao meu redor mirando em mim. Todos são crianças, porém sei quem são todos eles. Mas ainda assim, é fora do normal. Esses miúdos... Esses miúdos deviam estar adolescentes atualmente.

O que se passa? Estou drogado? W-Wolf transformou os meus amigos em menores? Olho para as minhas mãos e elas são pequenas, além de ter dedos finos.

Será que voltei ao passado para evitar a tragédia? Essa é a única lógica que vem à minha mente, mesmo sendo bizarra. Outra coisa que me incomoda é que tenho um péssimo pressentimento.

Levantei com a ajuda de Alexandre. Ele parece que não mudou nada com o seu cabelo curto e preto, como todos os detalhes do seu rosto. E a escola primária está tão pacífica. As árvores e palmeiras estavam em pé, pois no "futuro" vão ser cortadas até sobrar meio metro dos troncos.

-Qual é o jogo? – pergunto preocupado.

-Toca-e-foge! – exclama Britney, prima do Alex.

Ney nasceu na Austrália, todavia mudou para Portugal. Ela tem cabelo castanho-claro, olhos azuis e usa óculos.

Toca-e-foge é uma brincadeira que só funciona em grupo. Consiste em duas áreas: A Casa e o Campo. Todos ficam protegidos dentro da Casa, que é a zona de uma linha vermelha até ao portão da entrada da escola, porém a Casa é inútil se os jogadores mantiverem por mais de dez segundos, o que obriga todos correrem pelo Campo, onde vive o Poderoso.

A função do Poderoso é apanhar todo mundo criando poderes imaginários, como "Câmara Lenta" ou "Tornado". E quando toca em alguém, a vítima tem que ficar parada e esticar os braços de forma que fique como uma cruz. Assim, os outros fugitivos podem tactear mártir para voltar fugindo.

O jogo tem duas finalidades: Ou são todos apanhados com a posição de Jesus Cristo e a vitória vai obviamente para o Poderoso, ou o toque da campainha anuncia a próxima aula antes de todas os fugitivos serem travados, sinalizando a glória deles.

-Mas quem é o Poderoso? – pergunto empolgado, esquecendo a minha situação extravagante.

-Oh burro, você nunca está atento! – reclama Inês, minha "atual" namorada.

Ela ainda não tem o cabelo tingido de azul, porém ainda tem aquela arrogância.

-É ela! Toma cuidado. A Poderosa vai fazer a contagem decrescente para o reinício do jogo! – aponta a Érica, pequenina como sempre.

O seu apontador delgado dirige para a única criança do Campo.

-Atenção, seus tolos! A Rainha Poderosa vai caçar todos vocês! Eu vou ganhar e ninguém vai ser um obstáculo para mim!

-Claro, Andreia. Como é você vai apanhar todo mundo sendo baixa e lenta? – pergunto duvidando dela.

-Você vai arrepender por ter dito isso! Super poder: Skate! – ela faz de conta que sobe em algo e começa a contagem enquanto todos se preparem para sair do abrigo.

Eu tenho noção do quão infantil esse jogo sucede, mas é tão inocente e divertido, além de viciante.

A vitória ocorre pelo toque para entrar na aula de português. Mas a professora disse que precisa de tratar de uns assuntos particulares no qual não interessamos, já que isso só significa uma coisa: Intervalo prolongado!

Falso DilemaOnde histórias criam vida. Descubra agora