Último

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   O dia amanheceu quente e ensolarado, apagando das superfícies todo o brilho azul sanguinário, como se tudo não tivesse passado de um majestoso pesadelo.

   Mas Dom estava ali, sozinho, subindo a pequena ladeira que tinha entre sua chácara e a rodovia, tentando controlar os quatro bois, que, acostumados a voz do verdadeiro dono, pareciam indispostos a continuar sem ele. Iam devagar, meio perdidos, um tanto atordoados. Mas iam, precisavam ir, seguir em frente.

   No seu colo, Dom carregava a espingarda, que tinha sido limpa nas águas da represa, a lanterna e o chapéu. Guardaria consigo aqueles pertences enquanto tivesse forças. Pietro merecia ser lembrado o máximo de tempo possível; o homem que não tinha medo de viver, o homem que tinha salvado sua vida.

    Chegaram na rodovia. Dom, ainda imaturo no serviço, pediu para que os animais parassem no acostamento. Barão fora o primeiro a obedecer, forçando os outros a fazerem o mesmo. Dom olhou para um lado, de onde tinha vindo com o velho. Voltar era uma boa opção? Ele não sabia. Não tinha ninguém o esperando em lugar algum; no mundo, eram ele e os seus quatro novos amigos.

   Olhou para o outro lado, para a cidade logo afrente, tão sem vida quando os corpos que jaziam aos montes dentro das casas e empilhados nas ruas. Era para lá que Pietro iria… Então, era para lá que ele devia ir.

   — Vamos, rapazes… — comandou com a vara, sendo prontamente obedecido pelos quatro.

   Iriam continuar a viagem. A capital estava logo a frente, um ninho de infecção sem precedentes, porém isso não importava para Pietro, então não devia importar para ele também. Seguiria em frente, sim, aproveitando a viagem o máximo que pudesse.

   Não podia ter medo de morrer. De forma alguma.

Azul Que Cobre O AsfaltoOnde histórias criam vida. Descubra agora