Capítulo Único

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Estava parado em um quarto escuro, não podia enxergar nada ao seu redor. Uma voz horripilante soava na mente do pequeno ômega, não podia ser controlada, ela dizia sempre a mesma palavra: MORTE. O ômega de olhos negros tentava inutilmente tampar os ouvidos para que a voz parasse. Seu corpo frágil se contorcia no chão frio do quarto escuro, o seu coração batia forte no peito.

De repente um súbito momento de silencio, ouviu uma voz masculina conhecida o chamar. Claro que conhecia aquela voz, mas não se lembrava de onde. Estava assustado demais para ter algum pensamento coerente. A voz masculina o chamava de uma maneira tão frágil e quebrada... A voz de quem o chamava tinha tanto desespero quanto ele tinha naquele momento. Será que podia salva-lo? Mas como podia? Era apenas um filhote, um simples filhote ômega.

– Sasuke... Sasuke! Socorro... Onde você está? Por favor, responda – a voz o chamava intensamente.

O pequeno ômega se ergueu e começou a andar entre a escuridão que o rodeava, a voz ficou ainda mais alta, os pedidos de socorro ecoavam por todas as direções. Ficou muito difícil se concentrar em alguma coisa. Com os bracinhos esticados para frente, sentiu com as mãos algo que parecia uma porta, tateou a superfície fria até achar a maçaneta e abriu sem dificuldades.

Ao passar pela porta, ouviu a voz masculina mais próxima de si, uma luz branca com um corpo franzino em baixo da claridade, logo reconheceu os fios negros e compridos espalhados em uma poça de sangue e saiu correndo em direção à luz. Suas perninhas não aguentaram e desabaram no chão frio. Agora sabia onde estava e de quem era a voz que lhe pedia ajuda de uma maneira tão desesperada.

– Itachi... – Sasuke sussurrou perto do seu irmão mais velho.

Percebeu que suas roupas estavam manchadas de sangue, assim como suas pequenas mãos.

– O que aconteceu com você, aniki? – perguntou com a voz chorosa, seu corpo tremia sem controle.

– Me desculpe Sasuke, mas não haverá uma próxima vez – Itachi falou com um fio de voz, mas seus lábios ostentavam um sorriso amável para seu pequeno e doce irmãozinho tolo.

Sem mais conseguir segurar as lágrimas que haviam se formado em seus olhos, sentia-se sufocado, Sasuke gritou o mais alto que seus pulmões conseguiam, tentando fazer toda a dor em seu peito sair de uma vez só.

  ↪⚜↩  

Seus olhos se abriram rapidamente, sentia um nó na garganta, o suor escorria pelas têmporas. Foi apenas um sonho? Somente um sonho que ele tinha com frequência. Era sempre o mesmo escuro, com a mesma pessoa, a morte do seu querido irmão, Itachi, nunca iria sair de sua mente. Ele ainda conseguia sentir o cheiro ferroso de sangue e nunca esqueceria independente de quantos anos se passasse. Que criança esqueceria o assassinato do próprio irmão? Com certeza, ele não. Era uma marca cravada a ferro em sua alma.

– Mais um pesadelo, Sasuke? – uma voz grossa lhe tirou de seus pensamentos, cheiro de menta e canela se fez presente em suas narinas.

O seu alfa estava parcialmente deitado em cima de si, o corpo nu do Naruto encontrava-se coberto por um lençol de retalhos dado por sua mãe assim que se casaram. Os cabelos loiros encontravam-se mais bagunçados que o normal, era resultado de mais uma noite de entrega a paixão que dividiam e que os consumiam. Os olhos azuis celestes o olhavam com ternura, esperando alguma resposta que sabia que talvez não viesse, conhecia bem o ômega marrento que marcará, sabia o quanto ele era orgulhoso e que não gostava de demonstrar fraqueza, mas era por esse teimoso que seu coração batia mais forte, não tinha muito que fazer em relação a isso, amaria para sempre o pequeno ômega embaixo de si.

Sasuke não sabia o que tinha feito para merecer alguém como o Naruto, seu alfa era mais do que ele merecia. Depois de tudo o que fez para vingar a morte de seu irmão, o moreno não esperava encontrar a felicidade, mas a vida é cheia de surpresas e dá muitas voltas. Soube que havia encontrado seu companheiro de alma no exato momento que colocou os olhos sobre o alfa loiro, mas Sasuke não se sentia digno de algo tão puro e raro, decidiu que não deixaria seus instintos o dominarem, mas é tão difícil resistir quando algo tão precioso é nos dado sem nenhuma reserva, foi isso que Naruto fez, se doou para o moreno, o tirou da escuridão que rodeava sua vida e matava aos poucos sua alma.

Encontrar o seu companheiro de alma é algo tão raro que algumas pessoas acreditam que tal fato não passa de um mito contado para ninar os seus filhotes. A história conta que originalmente havia apenas gêneros: Alfa, Beta e a junção deles. Estes últimos seres tinham quatro braços e quatro pernas. Tinham também uma cabeça com dois rostos virados para lados opostos e um formato arredondado. Podiam caminhar para frente e para trás, tinham um poder imenso e podiam, também, rolar. Estes seres quase perfeitos quiseram se igualar aos deuses, por isso Hagoromo, o deus supremo, decidiu dar a eles uma lição e os dividiu ao meio feito maçãs, daí surgiram os Ômegas, porém estes eram frágeis e acabavam morrendo sem a energia da sua parte Alfa.

Mas Hagoromo era um deus misericordioso e, com pena das pequenas criaturas, uniu suas almas com a suas metades alfas, a partir desse momento eles passaram a buscar a porção que faltava de sua alma, porém, só saberiam que reencontraram com sua antiga metade em um abraço, que os libertaria da saudade e da busca eterna.

Sasuke tinha encontrado sua metade, a parte que lhe faltava na alma, mesmo não se achando digno, não tinha como fugir do seu destino, sua vida estava amarrada a do loiro e não havia nada que pudesse fazer a respeito.

O pequeno ômega suspirou cansado, escondeu o rosto no peitoral amorenado do seu alfa e respirou fundo o cheiro do loiro na tentativa de acalmar seu coração angustiado, sua presença era tão reconfortante, o dono dos orbes claros achou estranho tal ato. Geralmente, quando o ômega de fios negros tinha sonhos perturbadores, ele simplesmente o ignorava e dormia novamente.

– Não precisa ficar assim, Sasuke! São apenas sonhos, não vão mais te machucar... Não mais. E eu vou estar sempre por perto para garantir isso – o loiro falou tentando confortar o moreno.

Não fazia o estilo de Naruto dizer palavras de conforto, não sabia como consolar alguém, ele sempre foi uma pessoa mais de ação do que palavras, mas não era mentira, ele estaria sempre estaria presente para o seu moreno e o filhote que ele carreava no ventre; o seu filhote, a prova incontestável do amor que existe entre eles. Ao ouvir as palavras do loiro, Sasuke o agarrou e inverteu as posições na cama velha, que rangeu bastante.

Os olhos azuis assustados de Naruto encaravam os orbes negros como uma noite sem estrelas de seu amado ômega. O moreno diminuiu a distância entre os dois, e os lábios de ambos se tocaram de leve, os orbes cerúleos fecharam-se vagarosamente, seguidos pelos de Sasuke. O beijo ficou mais intenso, as línguas se chocavam ferozmente em uma batalha árdua por espaço.

Naruto circulou com o braço a cintura do moreno, o apertando contra seu corpo buscando mais proximidade daquele que era o dono de seu coração. Desgrudaram os lábios quando o ar se fez ausente nos pulmões.

– Você promete? – Sasuke perguntou ofegante assim que encerraram o ósculo.

Naruto sorriu abertamente em resposta, não precisavam de longas conversas para se entenderem, seus corpos respondiam por eles a cada toque mais íntimo, a cada beijo trocado, cada olhar significativo. Sasuke atacou os lábios avermelhados e levemente inchados do seu alfa, Naruto inverteu as posições e começou a beijar com devoção a tez pálida do moreno, deu atenção especial para o ventre levemente inchado do seu ômega.

O sonho que o moreno tivera anteriormente, já tinha se dissipado da mente, agora, preenchida com os gemidos que escapavam de sua boca cada vez que o loiro estocava com força em seu interior, o ranger da cama velha se misturava com suas súplicas por mais e alcançou o orgasmo fazendo uma oração silenciosa para qualquer deus que estivesse prestando atenção nele, desejou que estes fossem os únicos sons que ouviria pelo resto da vida.

Companheiros de AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora