Carência III

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O mundo parecia ruir, términos de relacionamentos duradouros são física e emocionalmente desgastante, o habito cria o apego e por mais critico que esteja o estado da relação o apego é certamente o sentimento mais difícil de se livrar pois isso não cabe só aos dois, é algo que apenas o tempo permite.
Duas rotinas sincronizadas para que uma possa agradar a outra, hábitos forçosamente ganhos com o intuito de agradar alguém e não a si mesmo, meios sociais tornam-se num em comum, a entrega de si mesmo, para a pessoa amada custa o risco de nos perdemos na entrega e nunca mais voltar a ter tudo aquilo que de nós mesmos demos.
"Precisares confesar"
Olhos semi abertos com ramelas a ofuscar a visão que tentava focar o ecrã do telemóvel
'Quê,mas isto não faz sentido'
Passo a mão na cara, esfrego os olhos na tentativa de espantar a sonolência que restou de uma noite com os sentidos desligados por conta do álcool e consigo ler melhor:
'Precisamos conversar'
Essas palavras assim combinadas geralmente significam 'Prepara-te para o que vem ai'.
As pessoas não são tão idiotas, todo mundo consegue sentir quando alguém vai perdendo o interesse, os beijos já não sabem ao mesmo, a frequência dos abraços tendem para menos, as conversas que duravam toda madrugada reduzem-se a meras palavras de conveniência como: Bom dia, Dorme bem, e alguns "O que estas a fazer" sem o interesse real na resposta. E o que torna tudo ainda mais doloroso para os dois é que um deles sofre mais e como se não bastasse, sofre mais aquele que mais gosta, aquele que mais sente, quanto maior o sentimento for maior é a dor quando o sentimento deixa de ser.
Justiça poética, raramente parece ser justa.
-Alô, o que foi? O que me queres dizer? Sê rápida com as palavras.
Digo eu ao telefone com a minha namorada, parecia que seria fácil, eu já sabia que ali seria o fim, que o amor havia acabado, eu estava a espera e queria que fosse rápido, normalmente o rápido é menos doloroso.
-Eu já não vejo sentido nisso
Foi a resposta dela
-Como assim ? Eu sei que não esta...
-Não estamos, eu preciso ficar sozinha, queres que nos encontremos para falar?
Eu não sei controlar as minhas emoções, isso é uma verdade constatada, eu não sei lidar com a rejeição isso é outro facto,como eu poderia engolir aquelas palavras?!
-Não, não precisa, fico feliz por conseguires falar, Xau.
Fácil, como eu achei que seria, digito outro numero e ligo:
-Filho da puta, uma hora para atender cão!
-Estava a dormir, não me julga porra.
-Estou solteiro.
-Haha Já desconfiávamos que iria acontecer e como estas?
-Normal isso não me afecta, não é primeira vez que terminam comigo, alias, não é a primeira vez que ela termina comigo, então amanha quero beber
-Esta bom compadre, amanhã vens, me ajudas a arrumar a casa, vamos ter visitas hahah
-Haha, Imagino, tu és um louco Rui, amanha estarei aí, Xau.
Me levanto e vou em direção ao guarda roupas pensando "Preciso preparar as minhas roupas para amanhã" e sem querer encontro algumas roupas da minha ex namorada e sou consumido por uma inesperada onda de tristeza, e logo percebi que até aquele momento eu não acreditava realmente que ela havia realmente partido da minha vida, todos o -momentos juntos se estavam a repetir na minha mente, 'Descrença' a descrença já n era real naquele momento, é quando somos obrigados a substituir toda aquela tristeza por 'Raiva'
Raiva, pego na minha mala ja feita e ligo para o taxi, o mesmo faz cerca de 5 minutos até chegar em minha casa, chaves no bolso e cara trancada vou para fora de casa e entro no taxi.
-Sr vou para a estação
-Esta bem, é para lá então, vai viajar?
-Passar uns dias em casa de um amigo
-Você não me parece muito feliz
-Não estou
-Então o que foi?
-Não quero falar sobre isso, e hoje a noite vou tratar de esquecer isso, em algum outro corpo.
-Outro corpo ? Quer dizer que é o coração que o esta deixar assim.
-Me apanhaste Sr
-Aceita, é a única forma de fazer essa dor passar
-Dor? eu? Nem me importo com alguém que me abandonou e não quer saber de mim,
-Haha, Sei
Foi a ultima resposta do Sr Taxista, repleta de sarcasmo e ironia
-Chegamos jovem, Faça boa viagem.
No caminho sinto toda raiva que eu achava ter ser substituida por um sentimento de culpa "Damn, fiz merda, fiz muita merda". Problemas de comunicação, uma das consequências desse transtorno é a dificuldade de demonstrar afecto, e nenhuma relação é capaz de dar certo sem isto, era uma bomba relogio e fazia sentido para mim aquela ditado popular que diz "Quando a Mulher se cansa não há nada a fazer" é o caso, a culpa de ter magoado por tanto tempo alguem que eu gostava me consumia sempre, as traições, as mentiras, eu estava decepcionado comigo por ter magoado tanto alguem que se entregou de uma forma extrema, Rapazes tambem têm sentimentos, as pessoas olhavam para mim como um vilão, por ter feito uma mulher sofrer ao ponto de despertar nela a "dor maior" conhecida como depressão.

- Então o mais novo solteiro do grupo, hoje é de beber.

Diza o Rui com despreocupado com a certeza que eu não estava mal por aquilo, e foi ai que o contei:

-Eu não estou bem, não queria que tivesse acabado assim, não queria mais tristeza!

Rui:

-Ainda gostas dela?

-Claro que gosto, não como namorada, como pessoa e pelo que ela significou para mim, me sinto mal por tudo.

-Não te sintas amigo, erraste muito mas eu tenho a certeza que ela sabe que tu nunca farias nada para a magoar, simplesmente já não havia amor entre voçes, a carencia deixou isso claro.

-Entendo, espero que um dia eu consiga me perdoar.
-Esta bem, eu entendo, e caso Sófia?

-Aff, A tua amiguinha a contou que eu tenho namorada, e aquela maluca tirou as conclusões dela enfim..
-Enfim és um cão
-Hahah Sempre.
Horas se passam e eu passava todas elas a olhar para o teto do quarto do Rui, era o penultimo estagio de um término de relação, esse estagio vem e se junta com a culpa, as lembraças, os erros, tudo se repetia na minha cabeça, tudo aquilo me fazia sentir tão mal que o apetite desaparece, a vontade fazer até mesmo as coisas que gosto muito de fazer, o penultimo estagio da separção, era a depressão.
"Toc Toc"
-Entra
Rui abre a porta e diz:
-Xé idiota, as visitas chegaram, prepara-te

"Como se eu tivesse alguma vontade de interagir" me levanto pela primeira vez no dia e vou para casa de banho, geralmente os rapazes não demoram muito para ficar pronto para uma saida, diferente das raparigas,  um banho de 15 minutos cosmeticos e perfumes e prontos, lá estava eu em direção a sala da casa do Rui, conseguia ouvir as vozes mas infelizmente nenhuma delas era a voz de Sófia, que eu já conhecia direito mas ainda assim pude ouvir uma voz feminina dizer:
-Não, ela esta com o bae e eu tenho quase a certeza que não vem!
"Namorado? como assim? será que ela estava a falar da Sófia" palavras que ficaram presas nos meus pensamentos exactamente antes de eu entrar para sala, parado no hall de entrada a ouvir a conversa alheia, eu sabia que precisava ver a pessoa que havia dito aquelas palavras, era a unica maneira de quem se tratava.
O meu coração acelerou de medo e ansieade, medo de descobrir que aquelas palavras se tratavam de quem eu já desconfiava e ansieade para saber a resposta para as minhas perguntas.
Reações estão longe de ser o meu forte, logo entro pela porta com uma expressão palída e ansiosa, a olhar para cara de todo mundo a procura de alguém, alguém que se eu encontrasse seria a confirmação para as minhas paranoias e desconfiaças criadas minutos atrás enquanto estive na porta a ouvir, Boquiaberta mostrava o quão surpresa estava, levanta-se como se tivesse tomado um susto, a atenção toda da sela era derigida a mim, um maluco que entrou lá e de repente sem falar nada se meteu a olhar para todos, mas naquele instante eu só olhava para uma um rosto, e esse rosto boquiaberto também olhava para mim, é facil julgar que esse rosto não queria que eu tivesse ouvido as palavras, era Viviane, a melhor amiga de Sófia.
-Desculpa
Disse Viviane, deixando visivel que entendia que aquelas palavras me iriam magoar.
Raiva e Tristeza eram os unicos sentimentos que se faziam presente em mim, decido sair e andar pela rua, de madrugada e sozinho.
"Namorado né, o que eu achava? que aquilo foi real?, aff que havia algo, sim havia e esse algo se chama carencia, o apego fez com que confudissemos os sentimentos, carencia e o amor são facilmente confundidos, algumas pessoas não conseguem ficar sozinhas e talvez esse tenha sido o nosso caso, explica direito o facto de eu ter sido substituido de uma forma rapida e silenciosa, Carencia é uma necessidade emocional afectiva ou sentimental, pensando direito existe uma lacuna nessa definição, existe uma falha entre a necessidade de afecto e sentimento que com as atitudes ou palavras certas podem conduzir a uma confusão emocional e é garantido que um coração que não sabe o que quer aceita o que o der"
Pensava eu, enquanto caminhava com os olhos postos nas estrelas.
5:34 me assusto com o passar das  horas e decido voltar para casa de Rui, convicto que nunca mais a voltaria a ver, Sófia foi uma aventura que eu quis viver para sempre, convicto que devia esquecer e nunca mais deixar a carencia falar.

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⏰ Última atualização: Aug 28, 2020 ⏰

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