Parte 1

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Eu estava na praça esperando um amigo. Apesar de estar cheia, não havia nenhum conhecido meu. O estranho é que em menos de meia hora ela esvaziou total, exceto por um grupo de skinheads e um cara de camisa amarela floral com um volume estranho na cintura. Alguma coisa estava me dizendo que esse cara não era boa coisa. Então, tomei coragem, tirei um bloco de papel e uma lapiseira da bolsa e comecei a fingir a desenhar. Depois levantei fui até os skinheads, disse um ‘oi’ como se os conhecesse e mostrei o papel. Eles olharam meio interrogativamente, mas leram. “Oi, meu nome e Meg, eu acho que aquele cara quer me assaltar ou algo do tipo. Posso fingir que conheço vocês até ele ir embora, por favor?” era o que estava no papel. Eles se entreolharam e um deles disse “Mas que desenho maneiro, Meg, trouxe mais algum?”. Por sorte sim. Abri um sorriso enquanto pegava minha pasta na bolsa. Por mais sorte ainda era a pasta que eu mostrava pra todo mundo, ou seja, não tinha nenhum desenho gay (coisa que adoro fazer).

Depois de entregar aquele que perguntou, comecei a reparar em volta. Nada do meu amigo, o cara esquisito ainda estava lá. Voltei minha atenção para meu novo circulo de amizade. Todos se vestiam iguais, até as garotas, era cabeça raspada, calça larga com coturno por cima, camisa ou camiseta lisa e suspensório. Tinha uma garota que eu achei muito linda, mesmo de cabeça raspada. Não dava pra acreditar que dentro daquele rosto bonito tinha uma pessoa preconceituosa e violenta. No momento que eu estava divagando sobre isso, ela virou pra mim e disse “adorei este desenho!”, era um cara beijando e arrancando o coração de uma garota. Sorri e disse “tem uma copia dentro, pode pegar pra você.”.

Eu estava tentando ser o mais agradável possível. Ela sorriu, agradeceu, pegou o desenho e enfiou no bolso da calca larga. Outros pediram o que mais gostaram e eu disse o mesmo. Algum tempo depois, meu amigo chegou. Agradeci pela ajuda deles e fui embora com minha companhia recém-chegada.

Assim que saímos do campo de visão dos skinheads quase espanquei meu amigo. Ele disse que se atrasou porque teve que passar na casa do Rafa e que veio a pé. E perguntou por que eu estava com o pessoal barra pesada. Disse que eles me ajudaram a não ser assaltada e sabe-se mais o que. Por sorte o estranho suspeito não nos havia seguido. Subimos até a orla da praia e ficamos conversando lá, observando o mar e o deck quase pronto da reforma da última ressaca. Andamos mais um pouco até a praça das águas, um lugar que tinha uma piscina gigante com chafariz e cheia de peixe, uns bancos de concreto e duas estatuas de bronze, de um jogador de futebol e de um surfista, e era a beira mar. Desperdício e verba e água total, a praia é muito mais bonita.

Sentamos num dos bancos e continuamos conversando. Começamos a falar sobre filme de terror e seus elementos. Por exemplo, uma criança sozinha nunca é bom sinal, ainda mais duas. Ou que nunca se deve debruçar sobre coisas, principalmente se for uma sacada, ou no caso o que vimos uma moça fazer, o cercado do lago-piscina gigante. Rimos muito imaginando um monstro aparecendo do nada e a comendo. Depois de sermos considerados loucos por tanto rir, fomos comer algo, no caso sanduiches. Fizemos tudo isso e não achamos um conhecido. Voltamos pra nossas casas por não haver o que fazer.

Mais ou menos duas semanas depois, eu recebo uma ligação. No visor do celular havia um número também de celular que eu desconhecia. Assim que eu atendi uma voz ligeiramente familiar disse, 

“Oi, Meg? Aqui e a Sharon” Não conheço nenhuma Sharon. 

“Quem?”

“Você me conheceu na praça, quando achou que um cara queria te assaltar.” Ah sim, e qual das garotas era essa? Como conseguira meu numero? 

“Hum…”

“Eu preciso de um desenho. Achei seu número no desenho que você me deu, por isso resolvi ligar.” Verdade. Sempre coloco número pra contato no verso das copias dos desenhos. 

O quadroOnde histórias criam vida. Descubra agora