A semana estava ótima, Suzi e eu nos escrevemos em alguns cursos extracurriculares, papai aparentemente estava feliz no seu novo cargo e mamãe aliviada por ter se livrado das caixas pela casa, e Paty se preocupando apenas em brincar. Hoje é uma quarta feira e já era cerca de 16h30min quando Théo, Anna, Henrique e Pietro apareceram em casa.
_Nossa esqueci completamente da prova? _Falei para eles colocando as mãos na cabeça.
_Se troca logo e vamos, Charlie não gosta de atraso. _Diz Théo sem descer da bicicleta.
Era quarta feira já, e eu havia esquecido completamente da segunda prova que ocorreria no bosque, subi correndo as escadas e troquei as roupas em menos de cinco minutos, e voltei para encontrar meus colegas que estavam no portão à espera. Quando cheguei dei de cara com minha mãe e com Suzi no maior papo com eles, mamãe sorriu para mim como se estivesse feliz por me ver enturmando tão rápido, principalmente porque nunca fui do tipo extrovertido e popular como Suzi, e as minhas amizades maiores se resumiam a Nora e Diogo. Sempre sofri bulling na escola por ser tímido, e até meu oitavo ano não tinha nenhum amigo e os trabalhos em grupo ou dupla ou fazia sozinho ou era empurrado para algum grupo que aparentemente ignorava minha participação e existência. Por tempos me ignoraram com louvor e mérito, mas as coisas deram uma mudada quando ganhei um prêmio nacional por aluno destaque em ciências, com um projeto que bolei sobre a reutilização da matéria orgânica, e assim consegui alguns colegas interesseiros que me chamavam para trabalhos em grupo, mas quando entrei no ensino médio conheci Nora e Diogo, uma amizade verdadeira sem preconceitos e interesses notáveis.
_Posso ir mãe. _Escuto Suzi falando, enquanto pego a bicicleta em um canto da garagem.
Anna e Théo a chamaram para ir junto, enquanto Pietro como sempre tentava a perturbar e ela o ignorava com sucesso. Mamãe permitiu nossa saída, com a condição de não chegarmos tarde em casa. Suzi foi comigo na garupa, não era muito longe o local e minha irmã não pesava muito, mas minha vida sedentária acostumava me assombrar nestas horas, me lembrando da última vez que fiz um exercício digno.
Cortamos a cidade em menos de dez minutos até chegarmos à entrada do bosque, o qual não era muito grande e sem grandes variações de árvores, mas de uma beleza incrível. Descemos um caminho cheio de cascalho até darmos de cara com um pequeno rio, onde encontramos Ruan e Estevão sentados em pedras, deixamos as bicicletas perto de uma grande árvore e nos sentamos junto aos mesmos, enquanto Ruan nos dava uma aula de botânica regional. Me aproximei do rio e comecei a visualizar a cristalinidade da água, e Ruan simplesmente continuava naquela conversa de naturalista fazendo Suzi se focar nele, deixando claramente Pietro revoltado. Mas tudo foi estabilizado com a voz de Anna dizendo algo sobre barulhos vindos da trilha, e estava certa eram os demais, Charlie, Meire e para minha alegria Laila. Depois daquele beijo não parei de pensar nela e sempre me pegava pensando no beijo, que certamente foi o melhor da minha vida. como não a vi na escola deduzo que seja mais velha, porém além de seu primeiro nome e que é irmã de Charlie não sei muito mais sobre ela.
Eles deixam as bicicletas perto das nossas e se aproximam, as meninas sempre com um lindo sorriso e Charlie carrancudo, quando para a nossa frente Meire se solta de seu braço e vai ao encontro de Suzi e Anna, e se abraçam como se já se conhecessem há anos, mas o clima de amor e amizade acabou quando Charlie abriu a boca e pronunciou a primeira palavra.
_ Vamos começar logo isso Erik "o pegador". _Ele diz sério fazendo aspas com os dedos em sua última palavra, mas posso observar a feição dos demais rindo, inclusive Laila que ficou rosada quando percebe que a olho, a única que me olhou em duvidas foi Suzi que não entendeu nada da citação e encarou Charlie meio receosa. _ Então Erik a sua segunda prova é a seguinte. _Me apontou o dedo e continuou. _E dessa vez fiz questão de escolher uma prova difícil sem subestimar a sua carinha de bom moço.
_ Achei que eu era sua carinha de anjo, fui trocado pelo Erik? Magoei. _Diz Pietro interrompendo Charlie, fazendo cara de triste. E todos caem na gargalhada menos Charlie que passa a mão na cabeça.
_Cala essa boca Pietro, fazendo favor... _ele encara Pietro e o mesmo lhe manda um beijo. _Mereço você, e o resto podem parar de rir... _ Ele se volta para mim e começa. _ Você em sua segunda prova apenas deverá passar a grande ponte chegar ao outro lado e trazer goiabas para todos, simples.
Eu achei simples, mais algo me alarmou na reação dos demais, e daí comecei a imaginar mil teorias bizarras sobre a tal ponte e as goiabas, devem existir abelhas gigantes do outro lado ou a ponte deve ser uma pinguela de madeira toda consumida pelo tempo. Mas fui interrompido de meus devaneios pela voz mais gostosa de ouvir, e isso fez minhas teorias desabarem.
_ Não char, isso é perigoso ele pode cair e pior pode levar um tiro... _era a voz de Laila, a qual parecia música aos meus ouvidos, mais a melodia virou terror com o que ela acabara de dizer.
_Cair, tiro... O que? _Me desesperei.
_Sabia que não era boa ideia trazer você Lay, sempre superprotetora, ele não vai cair, e se cair não morre assim de primeira, terá alguns pontos na cabeça e alguns ossos fraturados, mas os médicos darão um jeito. _Ele diz com uma voz calma acariciando o rosto da irmã. _Vamos Erik, vou lhe mostrar o caminho.
Ele saiu me puxando pelo braço até a beira do rio e passou por cima de algumas pedras que faziam uma ponte um pouco escorregadia, os outros nos seguiram e podia ver bem estampado no rosto de todos certos ares de apreensão.
Adentramos um matagal alto e andamos alguns minutos e chegamos a um barranco meramente alto, se caísse poderia não morrer mas os ossos e os pontos Charlie estava certo, a ponte era velha e de madeira e estava bem abatida, em baixo passava um trilho de trem desativado. Pietro tentando me acalmar contou que esses trilhos levavam na época dos grandes barões do café, os grãos plantados por escravos na região para a capital. Os escravos eram torturados por seus donos, e essa ponte foi o ponto de fuga de muitos escravos, onde hoje é a cidade era uma floresta bem densa e quando os escravos conseguiam passar pela ponte e se embrenhavam na floresta nunca mais conseguiam ser apanhados. Então uma vez um dos escravos do grande barão Moreviste estava passando a ponte tentando fugir, foi baleado pelo dono e seu corpo caiu no trilho bem na hora que o trem passava, e diz as lendas locais que a partir daí a ponte passou a ser assombrada pelo fantasma do escravo fugitivo, então quem passasse a ponte após o anoitecer levava um tiro do barão e era empurrado da ponte pelo escravo.
Após contar toda essa história de terror, Pietro me olhou e teve a coragem de perguntar.
_ E aí está mais calmo meu amigo? _Ele fala com um meigo sorriso no rosto me olhando e a única reação que tive foi abrir a boca, mas as palavras não saiam.
_Nossa isso me encheu de coragem Pietro. Acho que vou junto com o Erik pegar goiabas. _Disse Anna irônica e todos olhavam boquiabertos para Pietro, inclusive Charlie.
_Poxa gente, só queria ajudar, sempre fui bom em história local, porque só o Ruan pode dar uma de inteligente. _Ele aponta para Ruan que se defende.
_ Acho que é... Porque não coloco mais medo em pessoas claramente assustadas, Pietro. _Ele diz me apontando, pois claramente eu devia estar branco feito um papel. Pietro dá um riso sem graça e coloca a mão em meu ombro.
_Desculpa Erik, boa sorte. _E me puxa para um abraço.
_Para hoje meninas, isso é pra hoje, vamos Pietro larga o osso, eu quero sair daqui antes dos fantasmas aparecerem. _Diz Charlie tentando esconder um sorriso.
Eu me viro totalmente atrapalhado para o lado da entrada da ponte, puxo todo ar e quando vou pôr o pé na primeira madeira sou puxado para trás.
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SIMPLESMENTE ERIK
AdventureMudanças repentinas podem assustar muito, principalmente se você for um adolescente tímido, sonhador e com forte atração para encrenca. SIMPLESMENTE ERIK relata a história de um adolescente que precisou deixar sua zona de conforto ao se mudar com s...