Abri meus olhos sem vontade alguma; sentia-me esmagada pelo cansaço... resultado de uma semana agitada de trabalho na W. A., mas, infelizmente, meu celular não deu a mínima para isso, já que tocava sem trégua.
Olhei para tela resmungando; detestava falar quando estava com sono.
Era minha secretária.
Ouvi um soluço.
Sentei-me, surpresa.
__ Aline, o que foi? __ perguntei.
__ É Meu pai, senhora. Ele... ele...__ sua voz estava trémula, frágil.
Meu corpo todo estava em atenção.
__ ... Meu pai está Na O. T. I., senhora; sofreu um A. V. C.
Percebi que fiquei muda. Procurei pensar no que dizer, mas não me veio nada.
Tentei me recompor.
__ Bem... Amh... __ tentei articular algo __ por favor, Aline, diga do que precisa. O que estiver em meu alcance, será feito.
Sentia-me sodariaderizada; já havia passado por algo parecido, mas em uma situação bem diferente. Conhecia um desespero bem pior que esse.
__ Esse é um dos motivos da minha ligação a esta hora; a reunião com o Sr. Mont'vidal será amanhã no horário de almoço... E, bom, estou em Santa Maria.
__ Santa Maria? __ tentei raciocinar de que lugar ela falava.
__ Sim, senhora. Santa Maria, Rio Grande do Sul.
Fiquei estática.
Mas que...?
__ Aline, poderia me dar um minuto, por favor?
__ Sinto muito por isso... Eu realmente... __ começou à lamentar-se, já conhecendo minhas reações melhor do que eu mesma.
Mas não escutei o resto de suas palavras.
Calcei minhas sandálias, coloquei o robe e fui até a cozinha pegar uma bebida. Olhei a geladeira, procurando algo refrescante para me despertar; nenhuma bebida combinava com meu estado de humor.
Desisti, fechando a geladeira.
Então vamos de whisky...
Servi-me do meu Royal Salute de 38 anos, e voltei ao quarto.
Então esse era o ponto.
Era uma questão que não me ocorreu até Aline menciona-la. A compra de amanhã.
Peguei o celular, pensando no que dizer.
Esse negócio com o Mont'vidal estava em andamento fazia meses; foram muitas reuniões, acertos, balanços e negociações de acordo com o mercado financeiro e a bouça de valores.
Era a aquisição de uma marca estrangeira conhecidíssima e renomada, que ampliaria meus negócios e traria a imagem que sempre almejei para minha rede de varejos.
Por outro lado, tinha um homem lutando pela vida no sul do país, que, por um acaso, era o pai da minha melhor funcionária.
Mesmo que eu não quisesse admitir, ela era essencial em meu escritório. Quando eu não estava na cidade, era ela que assumia e era a única funcionária em que eu confiava meus arquivos confidenciais.
E sem ela, como foi especificado no acordo de não divulgação, não haveria aquisição e um bom e precioso tempo seria perdido.
O liquido âmbar começou à balançar em minha mão com o tremor que percorreu meu corpo.