Otabek observava o homem alto, de olhos azuis brilhantes e chorosos, que encaravam um copo cheio de bebida. Podia ler que o homem tentava decidir se se entregava ou não ao vício. E o demônio sentia saudade do gosto do whisky, ah como sentia. Se aproximou devagar, assumindo uma forma humana que fosse familiar ao outro e se sentou ao seu lado. Se pudesse influenciá-lo a beber e tocá-lo nem que fosse por um instante, teria sua vontade saciada. Viu a pele morena do homem se arrepiar quando se sentou ao seu lado e sorriu perigosamente, "eles podem sentir o perigo, mas são descrentes demais para fazer algo a respeito".
Começou a falar com o homem alto com voz grossa e calma. Jean, era seu nome. Estava se divorciando. Tão previsível. Era um homem bom, dizia. Mas tinha problema com álcool. Estava sóbrio há mais de um ano mas com o pedido do divórcio da mulher tinha ido automaticamente até o bar.
— O álcool é meu demônio. - ele disse. "Eu também posso ser", Otabek pensou. Estava quase convencendo o outro de que não faria mal tomar uma dose e, pela maneira como ele já tinha se aproximado de si, não seria nada difícil tocá-lo casualmente quando o fizesse. "Talvez não seja nada difícil tocar ele inteiro" Otabek pensou, umedecendo os lábios, apreciando a ideia de, quem sabe, ter mais desejos saciados naquela noite. Foi então que sentiu o ar à sua volta mudar.
Olhou para a porta do estabelecimento e viu a figura loira entrando no bar. Esguio, olhos verdes muito firmes, forma humana pequena e quase delicada... e a auréola e as asas visíveis para o demônio de forma difusa. "Droga. Aqui não, aqui não" Otabek pensava vendo o loiro olhar ao redor. Podia perceber que a influência dele tinha afetado Jean, que parou no meio do movimento para pegar o copo. Quando o anjo se aproximou e se sentou do outro lado do humano, Otabek xingou internamente. Porém, se viu perdido no olhar do loiro, que misturava irritação e cuidado. "Malditos anjos e sua beleza."
Logo o anjo falava com Jean, numa voz menos suave do que Otabek poderia imaginar, mas claramente influenciando o homem a não sucumbir ao vício. Em dado momento seus olhares se cruzaram e Otabek viu a reprimenda silenciosa na expressão do loiro. Decidiu aceitar o desafio. Se aproximou novamente de Jean, quase encostou em seu corpo ao estender a mão para o loiro ao lado do de olhos azuis.
— Muito prazer, sou Otabek e você é? - perguntou, querendo saber se o anjo ousaria dizer o próprio nome e apertar sua mão. Não ficou totalmente surpreso quando ele o fez, com um sorriso zombeteiro nos lábios.
— Olá, Otabek. Yuri.
Quando as mãos se tocaram até mesmo o humano pôde perceber que isto não era algo comum, tendo ficado atordoado por alguns segundos.
Otabek atordoou-se também. A mão do anjo era mais fria que a sua, ridiculamente delicada e suave, e lhe passava uma sensação estranhamente prazerosa. Percebeu que Yuri também não tinha ficado imune ao toque, lhe encarando com olhos inocentes e assustados pela primeira vez, a face corada pela sensação. De repente o humano que ainda se lamentava não parecia assim tão interessante, a atenção do demônio toda voltada ao anjo. Otabek mal reparou quando Jean se levantou, o copo ainda cheio, e se despediu, dizendo que era melhor ir para casa. Estava concentrado no sorriso doce - e um pouco debochado? - que o anjo direcionava ao homem.
Assim que Jean se afastou Yuri sentou-se perto de Otabek e o olhar duro estava de volta.
— Olha aqui, demônio. Esse humano é um idiota chorão e é chato a beça, mas é um dos idiotas chorões de quem tenho que cuidar. Se afaste.
Otabek queria retrucar. Responder que não estava nem aí pro humano, que apenas viu uma oportunidade e a agarrou. Talvez desafiar e dizer que, se tivesse realmente tentado, teria ganhado a parada mesmo com a influência do anjo. Mas estava perdido nos olhos verdes e se viu levantando a mão para tocar a face alva. O anjo recuou, alarmado, e disse, entredentes:
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Touch
FanfictionProibido. Tudo era proibido. Era errado e impossível que sequer tivessem se conhecido, quanto mais o que estavam fazendo. Otabek não esperava que encontraria tal criatura, muito menos o que ela viria a despertar em si. Será que um demônio ainda cons...