Capítulo 1

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Voltamos ao mesmo inferno de sempre. É o primeiro dia de aulas depois das férias de verão e não estou preparada psicologicamente para voltar pra escola muito menos voltar a ver pessoas que tanto me ridicularizaram.
Não consigo chamar ninguém de amigo como antes, depois de todos os que me rodeavam e a quem eu chamava de meus "amigos" me deixarem quando eu mais precisei: quando eu fui internada com depressão profunda depois da morte do meu pai. Depois disso, apenas chamo de amigo quem está do meu lado em tudo.

Levanto-me da cama vou à casa de banho e visto-me. Já consigo ouvir a minha mãe a cozinhar o pequeno-almoço, mesmo sabendo que não vou comer.

-Bom dia Mia. Como estás querida? - Pergunta ela com um tom doce.

-Estou bem mãe, com sono apenas.

Desde o meu internamento que a minha mãe se preocupa imenso comigo, tem receio que eu faça algo comigo mesma. Entendo o lado dela, viúva e com a sua única filha diagnosticada com depressão não é fácil.

-Não vais comer Mia?

-Não tenho tempo, mas como algo na escola. Até logo.

Pego na mochila, e saio da porta de casa para apanhar o autocarro. O dia estava frio mas com sol, o meu tipo de dia favorito. O autocarro chega por volta das 07: 55h e assim que me sento no assento perto da janela, coloco os meus fones e fecho os olhos.

Depois de 10 minutos saio do autocarro e já tenho o Dylan à minha espera, encostado à parede e a fumar.

-Como está a minha revoltada favorita? -Diz com um sorriso.

-Estás engraçado hoje! -Respondo com um sorriso também.

Sim, este é o nosso tipo de amizade e nossa forma de afeto de um pelo outro. O Dylan é uma das pessoas mais importantes da minha vida, ele é o irmão mais velho que eu nunca tive (eu tenho 18 anos e ele já tem os seus 21 anos) Ele foi uma das razões pela qual eu lutei contra a depressão, desde do dia em que fui internada que ele nunca me deixou desistir.

Acho que isso aconteceu porque eu sou a pessoa mais próxima que ele tem. Eu e ele começámos a falar quando tivemos geografia juntos à dois anos atrás e desde aí que não nos largamos mais.
Ele não tem família. O pai dele abandonou-o e à mãe dele quando ele nasceu e mãe dele morreu mais ou menos na altura em que eu fui internada, ou seja, à quase 1 ano. Desde aí começou a trabalhar como bartender  e conseguiu arranjar uma casa onde viver, se bem que a maioria do tempo dele é passado em minha casa. A minha mãe adora-o e trata-o como se ele fosse filho dela.

-Pareces doente hoje, estás bem?

-Sim, apenas não dormi nada.

Ele sorri e põe o braço dele à minha volta enquanto vamos ter com o resto do pessoal.
Esta é uma única coisa que eu gosto da escola, é poder estar com meus amigos, os meus verdadeiros amigos. Assim que a Veronica me vê corre na minha direção e abraça-me.

A Veronica e eu conhecemos-nos à uns 15 anos, então com o tempo acabamos por nos tornar melhores amigas. Crescemos juntas por sermos vizinhas e nossos pais sempre se deram bem, então todos os dias estávamos juntas. A pessoa que eu sou hoje formou-se com ela e vice-versa. Aprendemos juntas, choramos juntas, rimos juntas, já tivemos discussões enormes mas nunca nos separámos.

-Parece que saíste de um filme terror!

-É sempre bom ouvir um elogio teu logo de manhã.

-Well, de nada.

Depois deste carinho desatamos a rir e vamos ter com o Ethan e com Christian, ou como todos nós o chamamos, Chris.
O Chris é o namorado da Veronica. Eles namoram à 3 meses então conhecemo-lo muito pouco. Todos nós nos damos bem com ele e ele é um rapaz bacano mas há algo nele que não me agrada. Algo nele que não me inspira confiança e o meu instinto raramente se engana. Não sei se é medo que ele magoe a Veronica  mas sei que há algo que não me agrada nele. Já o Ethan é o irmão da Veronica. Ele foi adotado pelos pais dela em pequeno mas sempre foi tratado como filho de sangue e eles sempre se trataram como irmãos de sangue.

-Olá Mia , estás linda como sempre!

-Obrigada Ethan!

Ficamos a olhar para o outro e sorrimos enquanto o resto do grupo fica a olhar para nós um pouco confusos.
Eu e o Ethan tivemos um caso no verão mas nunca contámos a ninguém. Eu e ele gostamos um do outro à algum tempo mas como eu não quero nada por agora, somos apenas amigos.

-Podes parar de te atirar à minha melhor amiga por favor? Agradecida.

-Lamento se ela é gira e eu sou honesto.

Todos nós começamos a rir e vamos para dentro da escola, estava quase na hora das aulas.

-Hey, eu estive a pensar em sairmos todos mas de uma maneira diferente, não simplesmente ir para um bar e beber. -Diz Chris enquanto guarda o maço de tabaco na mochila.

-Em que pensaste amor?

-Que tal irmos acampar para a Floresta Blackwood?

-A floresta que todos dizem estar assombrada? A floresta que "não deixa sair" quem lá entra? A sério que é para essa que queres ir acampar? -Diz o Ethan, com um olhar de desconfiança.

-Vá lá, isso são apenas mitos. Não temos nada a perder e ia ser giro.

-Sim, giro para quem quer estar morto.

-Pensem nisso e voltamos a falar ao almoço.

Todos concordaram e foram para as salas respetivas ao horário de cada um. Antes de o Dylan entrar para aula eu disse-lhe que queria falar com ele no intervalo antes do almoço. A ideia do Chris não me agradava, nem um bocadinho ..

Blackwood ForestOnde histórias criam vida. Descubra agora