Capítulo 6

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O resto do jantar foi silencioso. Ninguém falava e apenas olhávamos uns para os outros, menos a minha mãe. Ela apenas olhava para o prato e comia. Já não a via dessa forma desde a morte do meu pai..

Acabámos de jantar, arrumamos tudo e fomos para a sala. Sentámos-nos no sofá enquanto a minha mãe foi buscar umas cartas e uma cadeira. Eu nunca tinha visto aquelas cartas na vida.
A minha mãe sentou-se finalmente na cadeira, suspirou e começou a falar.

-Bom Mia, espero que não te arrependas.

-Não irei. Podes começar.

-Está bem...honestamente nunca pensei ter que te contar isto e ter esta conversa contigo, mas acho que sempre foste curiosa demais. Enfim, já tens idade suficiente também.

O Dylan deu-me a mão, acho que ele também estava nervoso.

-Começando pela fotografia da suposta Caroline aqui em casa. Não, aquela não é a verdadeira Caroline. A verdadeira Caroline é a da foto da polícia.

-Então porque é que o pai fez aquilo? Porque é que ele me mentiu?

-Porque a Caroline teve um filho do teu pai e ele nunca quis que tu soubesses.

-Espera, quê? Como? O pai traiu-te?

-Não. Eu e o teu pai estivemos um tempo separados devido às horas de trabalho que ambos faziamos. Não tinhamos tempo um para o outro e decidimo-nos seprarar. Anos depois voltamos a estar juntos, casamos e quando eu lhe disse que estava grávida ele contou-me que tinha um filho com dois anos de idade. Mas isso não é o foco agora.
Naquela noite, o filho deles foi com a Caroline e com os outros para a floresta mas o corpo dele nunca foi encontrado, então ainda se acha que ele esta vivo. O teu pai sentiu-se muito culpado então procurou-o durante 7 meses seguidos, mesmo quando a polícia já tinha encerrado o caso mais foi em vão..E para que tu nunca descobrisses nada, ele pediu-me ajuda e pediu-me então uma fotografia de alguém que tu nunca viesses a conhecer.

-Então quem é aquela mulher da fotografia que o pai me andou a mostrar durante anos?

-Ela chama-se Elle e foi minha colega na faculdade. Ela mudou-se para Amesterdão então eu sabia que nunca te irias cruzar com ela.

-Como é que vocês foram capazes de nunca me terem contado que eu tinha um meio irmão? Tinha ou tenho, sei lá...

-Eu disse-te que não ias gostar.

O Ethan e o Dylan permaneciam em silêncio absoluto, congelados. Não sabiam como reagir, tal como eu.

-Eu não acredito que nunca soube disto...Como é que ele se chama?

-Tyler..-diz a minha mãe baixando a cabeça.

-Tyler...-repito, colocando a minha mão no peito.

-Naquela noite a Caroline não era suposto ter ido com eles acampar, ela apareceu em nossa casa com o Tyler , a dizer que o teu pai tinha que voltar para ela e para junto do filho deles mas o teu pai recusou e mandou-a embora.

-Ele fez o quê?! Como é que ele foi capaz de fazer isso? Eles ainda poderiam estar vivos se ele não...não..-eu comecei a sentir um aperto enorme no peito que não me deixava falar- Eu quero ficar sozinha!

Eu levantei-me e saí de casa. O Ethan e o Dylan começaram a chamar por mim mas eu não ouvi e continuei a correr para fora de casa. Aquilo deixou-me arrasada. O meu pai teve outro filho, a Caroline nunca foi quem eu pensei que era, eu tenho um meio irmão que pode estar morto..Ou ele pode o ser o Christian..

Sentei me no passeio e comecei a tremer. Estava nervosa, triste, magoada, sentia-me traída..era um conjunto de emoções ao mesmo tempo.

O Dylan veio atrás de mim e sentou-se comigo no passeio. Não disse nada, apenas ficou do meu lado, à espera que eu dissesse alguma palavra mas eu estava bloqueada, não sabia como reagir.

-Dylan, eu sinto que não faço ideia de quem sou, de quem o meu pai é, de quem a minha mãe é...sinto que toda a minha vida foi uma mentira!

-Mia, ouve, não é por alguém cometer um erro ou ter uma atitude má que se torna uma má pessoa. O teu pai e a tua mãe continuam a ser as mesmas pessoas e tu também.

-Eles esconderam-me isto durante 18 anos Dylan, 18 anos! A minha vida inteira! E não foi apenas um erro cometido ou uma atitude errada, eles originaram uma morte!

-Mia, eles sabiam lá que ela e o teu meio irmão iam morrer. Ou só ela.

 Eu levantei-me e comecei a andar de um lado para o outro. Não sabia no que acreditar. Queria perguntar-lhe se o Christian podia ser o Tyler mas ao mesmo tempo não queria falar mais no assunto. É demasiado para assimilar só de uma vez.Passado uns segundos senti o meu corpo cair e ficar sem forças. Lembrou-me de ouvir o Dylan gritar por ajuda e depois não me lembro de mais nada.

Acordei no hospital umas horas depois. Os médicos disseram tinha tido um pico de adrenalina e ao mesmo tempo um ataque de pânico, não percebi muito bem. Tudo aquilo não me saía da cabeça, os pensamentos na minha cabeça estavam numa confusão enorme. A Veronica foi a primeira a entrar no quarto. Ela estava mais confusa que eu, e naquele momento isso era bem complicado.

-Estás bem princesinha?- Pergunta ela enquanto me dá a mão e limpa as lágrimas da cara.

-Sim, estou bem.

-O Dylan contou-me que estavas aqui, vim o mais rápido que pude.

-Ainda bem..O que se passou?

-Acho que tive um ataque de pânico e desmaiei...nada de mais.

Passado uns minutos, ela recebeu uma chamada do trabalhoe foi-se embora do quarto.
Depois da Veronica se ter ido embora, demorou certa de 10 minutos até alguém entrar novamente e, honestamente, foram os 10 minutos mais pacíficos daquele dia.

O Ethan entrou no quarto sem dizer uma única palavra. Ele sentou-se na ponta da cama do meu lado, agarrou a minha mão e deitou-se na minha barriga. Ficamos cerca de 15 minutos assim até que ele abraçou-me e ficamos assim um bom bocado. Uns 20 minutos depois ouço alguém a falar com a minha mãe, uma voz masculina, que nunca tinha ouvido antes. Ela entra no quarto com um agente da polícia, chega-se ao pé de mim, dá-me um beijo na testa e diz:

-Vai ficar tudo bem.

Eu ainda gritei por ela mas ela apenas sorriu. Depois disso ela foi-se embora e eu congelei...

Blackwood ForestOnde histórias criam vida. Descubra agora