Eu acordei com todos gritando. Meus braços e pernas doíam. Tudo, pra ser sincera, estava doendo. Luzes vinham de todos os lados. Celulares, lanternas e tudo que pudesse emitir luz estava girando ao meu redor. O roncador babão havia sumido e parecia que eu era a única que ainda não estava fazendo algo de útil para sair daquela situação.
- Precisa de ajuda pra tirar o cinto, moça? - disse uma voz masculina com rosto borrado que chegou perto de mim. Balancei a cabeça que sim, mesmo que eu não soubesse exatamente o que eu queria nesse momento. Na verdade a única coisa que eu queria nesse momento era estar deitada na minha cama bebendo um café e folheando um bom livro.
- Cuidado que está tudo escorregadio por aqui. Você tem alguma bolsa pra pegar? É melhor se apressar porque logo a polícia vai chegar aqui. Os bombeiros estão a caminho também.
- O que aconteceu? - perguntei
- Alguém bêbado invadiu a pista e o ônibus capotou pro lado. Estamos bem longe da pista, no meio do mato. Você se machucou? Consegue andar sozinha?
Só acenei que sim com a cabeça e continuei a andar com ele para tentar chegar fora do ônibus. É difícil se mexer quando o ônibus está de lado. Tudo parece fora do normal. Nos esgueiramos bastante para conseguirmos chegar até a porta e finalmente sair. Algumas pessoas estavam do lado de fora, porém a maioria estava reunida próximo da pista. O motorista estava inconsciente e as pessoas estavam tentando cuidar dele de alguma maneira.
Por sorte eu só tinha minha bolsa com coisas simples para carregar. Havia deixado a maior parte das coisas na casa de Eduardo quando parti, e na casa dos meus pais havia um guarda roupas inteiro só de coisas minhas para usar. Talvez algumas não servissem mais, mas ainda assim eram úteis.
- Agora eu entendo porque pedem pra gente sempre usar cinto de segurança no ônibus. - Eu disse, me sentindo um pouco mais aliviada de tudo aquilo.
- Ainda bem que você estava usando. A maioria não estava, incluindo eu, - e ele deu uma risada que me fez querer conhecer mais sobre ele - e então se machucaram e caíram uns por cima dos outros. Me chamo Antônio, e você? Qual sua graça?
Graça? Ele pensa que estamos na metade do século XX ou está apenas tentando ser bem humorado?
- Mônica. Prazer em conhecer vossa senhoria. - Será que era uma resposta adequada para a piada ruim? Não sei, mas ele sorriu também. Não deve ter sido das piores. A visita ao campo se tornou uma viagem no tempo também?
Caminhamos então até perto das outras pessoas que esperavam o resgate dos bombeiros.
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Memórias de Outro Tempo
RomanceMônica retorna às suas origens para se redescobrir nesse mundo de incertezas que sua vida se tornou. O que irá acontecer, que rumos estas trajetórias ao passado vão guiar, só o tempo dirá. Se ela verá novamente Eduardo é uma pergunta que apenas ela...