Essa semana eu estava vendo fotos de quando era criança, em algumas tinha pessoas que eu nem sequer lembro o nome, uma foto em especial me chamou atenção, nela estávamos meu pai, minha mãe, meus irmão e eu que tinha um sorriso no meu rosto, mas não se engane, ele era forçado, as pessoas dizem que quando se é criança as coisas são mais fáceis, se eu dissesse isso, estaria mentindo a você. Detrás daquele sorriso, existia uma criança que se escondia embaixo da cama para chorar.
Quando me olho no espelho, vejo traços daquela criança. Ainda consigo sentir o medo que transbordava em meus olhos com todas as cenas que observava calada, era apenas mais uma criança presenciando crueldades, sem poder fazer nada e sem ninguém para ajudá-la.
O que você está dizendo?
Eu não quero a sua pena, isso não muda nada.
Então pegue suas palavras bonitas e sua falsa importância e transfira para alguém que acredite nelas.
Então você quer ouvir mais sobre minha infância...
Bom, eu cresci em um ambiente que pode ser comparado com um campo de guerra, a qual todos estavam contra mim, a culpa sempre era minha, em tudo.
Quando tinha 8 anos minha mãe tentou se matar, e quando perguntado o porquê, ela culpou a mim. Dizer que superei isso seria mentira. Lembro-me que naquele dia me escondi embaixo da cama e chorei até adormecer ali mesmo.
Eu era apenas uma criança.
O que poderia fazer?
As palavras que você diz são bonitas, mas como já disse elas não mudarão nada. Apenas peço que tente fazer com o que aconteceu comigo não aconteça com outras pessoas.
Não se preocupe, eu não vou me matar.
E sim, ainda posso continuar a contar minha história.
Mas peço que não se atreva a sentir pena, porque para mim pena é um sentimento desprezível.
Eu ainda me lembro que quando voltava da escola, mesmo machucada, arrancava uma flor para entrega-la. Em todas as tentativas as via parar no lixo.
Quando recebi a notícia sobre meu primeiro prêmio, corri para conta-la, mas ela não quis escutar. Quando o recebi, ela não estava lá, lembro-me muito bem que pedi que a dedicassem, mas ela simplesmente não estava lá.
Pare de tentar dizer que era mentira quando ela disse que preferia que eu morresse. Isso foi dito diversas vezes.
Apenas deixe-me continuar.
Logo após todo aquele pesadelo, eu não tinha desistido, e isso fez com que ela me olhasse com surpresa.
Eu ainda carregava uma flor na mão, mas dessa vez, coloquei-a direto em um jarro que estava em cima da cômoda ao lado da cama dela, no quarto daquele hospital.
Por um longo tempo eu nunca havia sentido o seu amor.
Hoje as coisas estão um pouco melhores.
Mas ainda passa pela minha cabeça que se eu não tivesse nascido, as coisas seriam diferentes e talvez ela fosse mais feliz.
Eu sinto muito, mãe!
Eu realmente sinto muito...