Giulia

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Eu caía. O chão, que minutos atrás estava sob mim, havia cedido e desmoronara, rumo a uma escuridão completa. Eu tentava me agarrar nos escombros de concreto que vinham em minha direção, mas não conseguia. Meu corpo parecia cansado, minha mente me traía me dizendo para desistir e permitir cair, deixar que aquela noite me engolisse. Nunca havia cogitado a hipótese de desistir de tudo, abrir mão sem lutar, mas naquele momento essa possibilidade era tão tentadora como um copo de água no meio do deserto. Melancolia, angústia, dor e cansaço me atingiam diretamente no peito. Queria gritar, mas não conseguia emitir som algum, meu corpo havia me traído... A unica saída que me restava era me entregar, respirei fundo, fechei meus olhos e parei de lutar, simplesmente deixei-me ser levada pelas trevas.

- Giulia! Giulia! - ouvia uma voz rouca distante. Com um pesar terrível consigo abrir meus olhos e afastar a visão enevoada. Gustavo estava em minha frente com uma feição preocupada. - Pesadelos de novo? - perguntou ele com uma entonação triste, como se já estivesse cansado de me ajudar com meus terrores noturnos. Acinto com a cabeça baixa e no mesmo instante sinto seus braços longos e grossos se enroscarem ao meu redor, me puxando para seu peito nu. Acariciava meus cabelos acastanhados com tanta destreza que poderia dormir novamente, mas meu medo de mergulhar novamente naquela escuridão não iria me deixar cair no sono tão cedo. Ele sempre fazia isso quando tinha medo. Desde pequena sou perseguida por esses tormentos obscuros e tanto ele quanto Vitória tem me ajudado com isso desde que nos conhecemos, desde que nos tornamos família.

- Ei, esta tudo bem por aqui? - Vitória surge na porta do quarto com um copo de água nas mãos e caminha em minha direção com um sorriso bondoso no rosto. Senta-se ao meu lado na cama e me oferece o líquido transparente e insípido. Aceito de bom grado, entorno o copo inteiro, e sinto a água rasgar minha garganta, que deveria estar tão seca quanto um deserto. Sinto a mão de Vivi sobre a minha e automaticamente me sinto a salvo novamente. Eu os amava com toda minha força, sabia que quando mais precisasse eles estariam lá por mim, e pensar isso me acalmava novamente. - Ok, acho que vamos todos dormir juntos de novo, relembrar os "bons" não é Vivi? - disse Gustavo com um sorriso fraternal. - Com toda a certeza, até porquê duvido que consiga dormir novamente sozinha depois de acordar. Vocês sabem que pessoas me acalmam. - disse Vitória abrindo um sorriso e levantando os ombros. - Bom nós sabemos, por isso você seduz todo mundo! - retrucou Gustavo, me fazendo abrir um leve sorriso. Vitória sempre foi a maior sedutora que conheci, uma domadora de homens, eles caiam aos pés dela, só com um simples olhar ou mexer de cabelos. Por mais que recebesse muitos elogios, nunca me sentia tão bela o suficiente, mas isso não era algo que me incomodava tanto mais, pois tinha eles ali, pra me lembrarem o quão incrível posso ser do meu próprio jeito. - Ei! - disse Vitória fingindo-se ofendida - Eu só sou extremamente afetuosa, não é miga!? - disse ela à mim. - Bom, se por "extremamente afetuosa" você quer dizer, sair com 12 caras quase ao mesmo tempo, então sim Vivi, você é extremamente. - digo rindo, o medo e angústia já haviam ido embora... agora era só eu, me divertindo com meus melhores amigos. - Vocês são péssimos, ok? Vamos dormir - respondeu Vitória, voltando-se para apagar o abajur e juntar-se à mim e Gustavo na cama king size, que agora realmente exercia sua função de acomodar muitas pessoas. Estava feliz, me sentia novamente bem, pelo menos naquele momento nada podia me ferir.

Ouço o alarme do despertador (10:00) e levanto-me rápido para fazer minhas obrigações matinais. Viro me para o lado e vejo Gustavo totalmente jogado, com um braço para fora da cama e a boca aberta babando no travesseiro. Essa cena me faz soltar um riso, viro me para o lado e vejo Vitória na mesma posição, só que agora é sua cabeça que esta caída para o lado. Corro para o banheiro, escovo meus dentes, olho para meu cabelo e penso: "Meu deus.", tento dar uma rápida arrumada, troco de roupa, coloco meu shorts preto de corrida, meu top preto, calço meu tênis, preparo rapidamente uma vitamina e um pão, os como. Ponho "I Love Rock 'n Roll" em meu iPod, abro a porta, desço o elevador, e caminho até o parque. Quando jovem nunca gostei de caminhar/correr, mas agora quando o fazia me sentia livre. Me preparo e disparo parque adentro, sumindo em meio as árvores.

Glory, Power and BloodWhere stories live. Discover now