Murphy me ama

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Na vida, ao menos, na minha vida, Murphy é igual Rexona, nunca me abandona! Porque assim como na Lei de Murphy, é certeza que se algo pode dar errado na minha vida, dará! Quer um exemplo disso?
Quando eu finalmente achei que as coisas iriam começar a dar certo na minha vida- eu tinha conseguido bolsa integral pra cursar jornalismo na UMC!- advinha? Murphy resolveu me lembrar o quanto ele me ama e quando eu cheguei lá com toda aquela papelada da documentação necessária para o Prouni, simplesmente não tinha turma para Jornalismo, nem de noite, nem de dia, nem em qualquer outro período. Eu tinha duas opções: eu poderia fazer Publicidade e Propaganda ou poderia esperar até o segundo semestre e torcer para abrirem uma turma.
Bem, inicialmente, eu optei por trancar matrícula e esperar até o segundo semestre, porque Jornalismo não tem nada a ver com Publicidade, quer dizer, ambos são cursos de comunicação social e tem a grade parecida, mas, tem um bela diferença entre escrever artigos e escrever anúncios publicitários, não?
Entretanto, algumas pessoas, quer dizer, quase todo mundo que me conhece me aconselhou a "pegar publicidade mesmo" uma vizinha disse até que tinham vários concursos públicos para publicitários e que os salários podiam chegar até R$ 5.000!
E, cá entre nós, jornalismo não é bem umas  das profissões mais bem remuneradas do mercado. E, meus pais insistiam em dizer que eu já tinha perdido um ano e não podia perder mais tempo( o que é bem irônico porque eu só tenho dezoito anos, concordam?) E, que oportunidade assim a gente não pode deixar passar... Se a vida te der limões faça uma limonada!
E foi isso que eu fiz. Afinal, havia uma possibilidade de eu me apaixonar pela publicidade, não?
Ao menos, era isso que eu pensava. E a resposta veio azeda como um limão.
Agora, um mês depois, eu estou aqui me perguntando o que estou fazendo da minha vida? E para piorar sozinha!
Não que eu seja o tipo de personagem excluída que não tem amigos, tecnicamente, eu sou a excluída da sala, porque entrei pela segunda chamada e até eu conseguir correr atrás de toda aquela papelada (que eu acho totalmente desnecessária, afinal, ter estudado a vida toda em escola pública já não é atestado de pobreza suficiente?) As aulas já tinham começado há um bom tempo, os grupinhos ou panelinhas já estavam formados e como você pode imaginar a minha maior habilidade não é socializar, então, foi assim que eu me tornei uma universitária sem turma, em todos os sentidos.
Porém, antes que você pense "coitadinha" e comece a sentir pena de mim, saiba que eu tenho um amigo: o Pietro, que está mais para Pietra se é que você me entende, rs!
O Pietro está no primeiro semestre de medicina, mas ele não é bolsista, o que não faz muita diferença para mim, pois foi preciso passar somente alguns intervalos com ele e as novas amiguinhas dele para elaborar a teoria de que em medicina até os bolsistas são metidos á filhinhos de papai e patricinhas, correção nem todos eles, mas os três amigos do Pietra, correção, Pietro, são.
Ah, e aí vai um fato interessante sobre o Pietro: os pais do Pietro não sabem que ele é viado e o padrasto rico dele que é extremamente homofóbico, racista e moralista, obviamente não pode sequer imaginar uma coisa dessa, pois como você deve ter imaginado é o padrasto quem paga a mensalidade e todos os outros custos da faculdade. E, essa é razão principal pela qual eu sou a única na universidade que sabe do lado gay do meu amigo.
- você é aluna nova?
Fecho meu caderno, antes que o professor cujo qual o nome estou incapacitada de lembrar porque passei a aula toda escrevendo isso, olha para mim. E, nossa, eu não tinha reparado que ele até que é bonito! Não do tipo minhaaaaa nosssaaaa! Mas, bonito sabe? Ele tem olhos azuis, o cabelo preto e liso com uma franjinha eeeee, ele está olhando para mim e sorrindo.
Só que provavelmente ele só está olhando para mim porque somos os únicos que ainda estão na sala. Então, deixo de ser idiota e tento articular uma resposta antes que ele comece a achar que eu sou meio idiota, o que seria meio que verdade, porque a aula já acabou faz tempos e eu nem percebi.
- Sim, me desculpe eu estava distraída- finalmente respondo, enquanto começo a guardar meu material.
- Imagina. Nem percebi- diz ele com ironia, enquanto termino de guardar o meu material. Olho para ele com a minha típica cara de deboche.
- Então, a senhorita vai se apresentar aqui e agora só para mim, ou prefere se apresentar na próxima aula para todos nós?
Oi?Quê? Olho incrédula para o professor que agora se encontra sentado em cima da mesa com um olhar divertido, enquanto morde os lábios.
- Bem, eu já me apresentei semana retrasada, então, nenhum dos dois- respondo verbalmente sua provocação da forma mais debochada possível.
O motivo? Eu detesto esse professor! Ele não passa nada sobre jornalismo, só publicidade e propaganda e blá blá blá...
- Mas, não se apresentou para mim, então, pode começar falando me falando qual é seu nome, quantos anos você tem, essas coisas sabe?- ele diz com a minha cara de deboche.
- ok. Meu nome é... Demi! Posso ir agora?
- Hahaha, e eu sou o Picasso, Demi Lovato!- o professor faz piada...
- Então, acho que você está na aula errada, né? Porque a aula de Arte E Estética foi ontem e hoje é aula de Psicologia da Comunicação.
- Muito engraçado. Agora, falando sério, qual é o seu nome?
- Meu nome é DEMI!- eu respiro fundo e respondo.
-Demi o quê?
- Demi de Demétria, meu nome é Demetria e eu tenho dezoito anos, satisfeito?- eu respondo com raiva. Eu odeio meu nome! Odeio mais ainda porque as pessoas sempre fazem alguma piada sobre a minha mãe ser fã da Demi Lovato, e bem, eu sou fã da Demi Lovato, mas na verdade tenho esse nome porque minha mãe é professora de filosofia e conhecendo bem a mitologia achou que seria legal eu ter o mesmo nome que a Deusa da Fertilidade, o resultado? Eu odeio filosofia, principalmente, a parte da mitologia e tenho uma irmã chamada Afrodite!
- Ainda não. E porque você escolheu publicidade e propaganda, Demetria?
- Sério?- eu revirei olhos.
- Deixe me ver. Você não prestou atenção em uma vírgula do que eu falei durante a aula e aposto que o quê você escreveu no caderno não é nenhuma anotação sobre a minha aula, então, sim! Eu estou falando sério!
Começo a rir da pergunta: por quê eu escolhi fazer publicidade e propaganda? Que pergunta ridícula!
- Quer mesmo saber?
-o quê?  Foi o quê sua mãe te disse para fazer?- o professor pergunta rindo da minha cara.
- Eu não escolhi publicidade.
- Ok. Então. O quê você está fazendo aqui Demétria? Porque eu estou aqui para formar publicitários e caso você ainda não tenha se tocado isso é uma aula de publicidade e propaganda.
Aí que ranço! Respiro fundo, tentando me conter, porém, o ranço que sinto transborda em palavras:
- Ah é? Não me diga! É que caso você nunca tenha se tocado, a grade de Jornalismo e Rádio e Televisão é praticamente a mesma de publicidade durante o primeiro ano e eu passei para jornalismo e não para publicidade. E,- alguém bate na porta me interrompendo. O professor olha com ódio para porta e da mesma forma para mim.
- Eu abro- pego minha mochila e começo a andar em direção a porta.
- Não, pode ficar aí, eu abro!- o professor diz e pelo tom de voz ele está muitoo bravo.
Uma aluna que eu imagino ser do segundo ano entra falando que gostaria de tirar uma dúvida com o professor, e pelo forma que ela diz, posso apostar que a dúvida dela não é nada sobre a matéria. Aí que nojo! Eles não vão transar aqui na sala, vão? O professor entende o recado, e sorrindo maliciosamente diz:
- Claro, pode entrar. Fique a vontade!
- Com licença- eu digo, passando pelos dois apressada e enojada.
- Te vejo na próxima aula, Demétria! Isso não acaba aqui, é só o começo, viu?!- o professor grita quando já estou na metade do corredor.
É, isso é só o começo, professor! Penso comigo mesma, então, respondo ele com o mesmo tom de provação e bem alto:
- Mal posso esperar, Sr. Picaaaaassso!
Olho uma última vez para o depósito de todo o meu ranço e desço as escadas, me sentindo vitoriosa após o ele me fuzilar com o olhar.
Ranço é um caminho sem volta!

Uma Universitária Sem TurmaOnde histórias criam vida. Descubra agora