Lan house

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No dia seguinte , cheguei na UMC e fui direto para o meu prédio. Não queria sequer ver o Pietra, deixei meu celular desligado o dia inteiro e cheguei até a entrar pela outra portaria, ao invés da portaria que ficava perto da estação para não ver aquele falso.

E, quando cheguei na sala, uma das meninas que era do mesmo grupo que eu do trabalho de História da Comunicação veio correndo falar comigo. Logo percebi que tinha algo errado.

- Demi, lembra aquela lan-house que a gente imprimiu o trabalho da última vez?

- Lembro sim, por quê?

- Então, as meninas estão na fila da copiadora aqui da faculdade, mas tem tipo umas cinquenta pessoas na frente, parece que a impressora deles quebrou, eu vou tentar imprimir na outra copiadora, você pode ir naquela lan-house ver se consegue imprimir antes? Eu já mandei o e-mail com o trabalho para eles.

- Posso sim.

Deixei a sala, desci as escadas o mais rápido que pude e saí da universidade correndo para lan-house. Só quando cheguei lá que fui lembrar de olhar qual era a nossa senha. 67? Tá de brincadeira! Faltava apenas meia hora para aula começar.
Não vai dar tempo! Comecei a me desesperar. Então, liguei o celular e mandei mensagem para as meninas para saber se já tinham pelo menos conseguido arrumar a impressora da copiadora. Nenhuma resposta! Só chegavam mensagens daquele falso do Pietro "Não entendo porquê você está brava comigo" "você está me ignorando?" Era última mensagem recebida. " Não, imagina! É só que eu estou ocupada procurando uma árvore chamada peróba para extrair óleo e passar nessa sua cara de pau" pensei em responder. E, de tanta raiva e nervoso, comecei a andar de um lado para o outro dentro da Lan house. Foi aí que reparei numa folha de sulfite na parede que dizia "precisa- se de jovem com experiência, tratar aqui" e tive uma ideia.
Olhei para o balcão, só tinha uma garota atendendo, então, tomei coragem e fui lá falar com ela.
- Oi, tudo bem? Vocês estão precisando de alguém para trabalhar aqui, né? Olha, eu não tenho experiência nenhuma, mas eu tenho uma impressora parecida com aquela em casa e a impressora da copiadora da universidade está quebrada e tem tipo umas cinquenta pessoas lá desesperadas vindo para cá, então, como eu não sei os valores que vocês cobram, por que você não fica com o caixa e eu lido com aquela impressora? Não, precisa nem me pagar, eu só quero imprimir meu trabalho! E se eu conseguir ajudar mais do que atrapalhar, você me contrata, pode ser?
A garota demorou um instante para pensar e respondeu:
- ok. Passa para cá- ela abriu a portinha do balcão para mim- meu nome é Miranda e você é a?
- Demetria, mas por favor, me chame de Demi.
- Ok. Demi, o e-mail com os trabalhos já está aberto naquele computador, siga a ordem e ela é toda sua- disse Miranda, apontando para impressora.
Coloquei uns cinco trabalhos para imprimir, os e-mails não paravam de chegar, escrevi em pequenos pedaços de papel a senha de cada um e separei eles com clips, rapidamente entreguei os cinco para Miranda e voltei para impressora.
Liguei a segunda impressora e em vinte minutos já tinha imprimido tudo, inclusive o meu trabalho.
Fui até ela, para explicar que eu precisava voltar, quando meu celular começou a tocar.
- Alô?
- por favor, me diz que conseguiu imprimir nosso trabalho! A copiadora devolveu as senhas, eles não conseguiram consertar a impressora! E, está todo mundo indo aí!
- Calma, eu já consegui! Só vem aqui buscar o trabalho!
Desliguei o telefone e olhei para Miranda que continuava encadernado os trabalhos:
- quer uma ajudinha, aí?
- Por favor!- ela disse rindo.
- ok. Então, vai lá e deixa que eu termino.
Peguei o trabalho e a espiral de plástico preto da mão dela, conferi se ela tinha colocado as capas e comecei a encadernar. Terminei de encadernar um e ela veio com outro já com os furinhos feitos.
- Esse aí vai dar R$ 15,60! E é para aquele cara ali, vai lá!
Cobrei o trabalho e passei para o próximo, notei que Miranda tinha anotado o valor com um Post It em cada trabalho! Menina esperta!
- 67? Senha 67?- Ouvi Miranda perguntar.
- Miranda, esse é meu!
-Ah tá! Então, posso encadernar?
- pode sim!
Olhei para o relógio. Aí meu Deus! Já eram 7:10! Porque as meninas não vieram buscar o trabalho?
- Miranda, eu preciso ir, a aula vai começar!
- Tá bom, aqui, o seu trabalho!
- obrigado- peguei o trabalho e saí correndo da lan-house, só quando já estava subindo as escadas do prédio 3 que me dei conta de que havia esquecido de perguntar para Miranda se eu  seria contratada, acho que não, né? Se ela fosse me contratar, ela teria falado! Ou não? 
Quando entrei na sala, o primeiro grupo já estava se apresentando, o professora me olhou de cara feia por um instante e voltou a prestar atenção no trabalho.
Me sentei no fundo da sala, onde meu grupo estava.
- onde você estava? Cadê o nosso trabalho?- uma das meninas me perguntou brava.
- Como assim, onde eu estava? Eu estava na lan house! A Clara não avisou vocês?
- não, a Clara não estava com você?
- não, ela me disse que ia ir tentar imprimir na outra copiadora! Depois ela me ligou perguntando se eu tinha conseguido imprimir e eu disse para ela ir lá buscar o trabalho!- eu respondi, começando a perder a paciência.
- por que você disse para ela ir lá buscar o trabalho se você estava lá?
- por que eu estava meio que trabalhando lá, eles estavam precisando de alguém, eu me ofereci para conseguir imprimir o nosso trabalho, mas, como a dona da lan house ainda precisava de ajuda, pedi para Clara ir lá buscar! Onde ela está falando nisso?
- Eu não sei! Mas, a professora está olhando para cá!- ela respondeu falando baixinho e notei que a professora estava olhando para mim.
Logo depois, a Clara apareceu na porta, a professora olhou para ela e em seguida para nós, só quando a Clara se sentou que ela voltou a prestar atenção na apresentação.
- Passa para ela- uma das meninas me passou um bilhetinho com a pergunta " onde você estava?" escrita.
Passei para Clara e ela se virou dizendo:
- Onde eu estava? Eu fui buscar o trabalho!
As meninas olharam para mim.
- Meia hora depois que eu te disse para fazer isso?- eu respondi.
Clara me olhou com raiva, ela ia abrir a boca para me responder quando uma das meninas disse:
- shiuuuu! A gente vai se ferrar se vocês continuem falando!
Respirei fundo e tentei prestar atenção na apresentação do segundo grupo, porém, a minha atenção estava sendo constantemente desviada com o som das notificações das mensagens que as meninas estavam trocando atrás de mim. E, falando em trocar mensagens, cadê meu celular?! Peguei minha bolsa, abri, tirei o caderno, minha blusa e droga! Eu não me lembrava de ter guardado o meu celular na bolsa. Ah não! Será que eu esqueci na lan-house!? Droga, Droga Dupla! Tomara que ele esteja na lan-house.
O segundo grupo terminou a apresentação e antes do terceiro começar a se apresentar, a professora avisou que ao invés de fazer o intervalo as oito e meia, iriamos seguir direto com as apresentações e seríamos dispensados mais cedo.
Nosso grupo era o último, mas as apresentações até que passaram rápido, a única coisa que consegui reparar foi que a professora sempre fazia uma pergunta para cada grupo no final, felizmente, não era nada que os grupos não soubessem responder.
Quando a nossa vez chegou, tudo correu bem, ninguém da sala tinha dúvidas, mas a professora é claro tinha uma pergunta:
- Vocês já faltam sobre a história do Jornal, dos primeiros jornais no Brasil, só esqueceram de falar uma coisa: por que vocês escolheram o jornal?
Quê? As meninas olharam para Clara esperando que ela soubesse responder, ela folheou o nosso trabalho. A resposta estava na ponta da minha língua, então, antes que elas falassem alguma bobagem resolvi responder:
- Nós escolhemos o jornal porque ele é um meio de comunicação antigo, mas que existe até hoje, porque ele faz críticas políticas e sociais por meio de seus editoriais, porque seus colunistas não dão só notícias, eles informam a população também sobre economia, esportes e todos os acontecimentos importantes do nosso dia-a-dia!Porque ele já foi Gazeta manuscrita, depois passou pela tipografia, pela litografia, até chegar a técnica off set de impressão e ganhou até versões no rádio e na televisão! Porque como disse o brilhante professor Costella ele tem variedade de matéria, atualidade e periodicidade! Mais alguma pergunta?
- Não - a professora respondeu, dando sorrisinho amarelo, aparentemente satisfeita com a minha resposta. A sala bateu palmas e em seguida fomos dispensados.
- menina, de onde você tirou tudo isso?- uma das meninas me perguntou.
- Do capítulo que fala sobre o Jornal em Do Grito ao Satélite- a história da comunicação do Mario. F. Costella.
- você leu?
- você não?
- Cara, você salvou a gente!- a outra menina disse me abraçando e notei que a Clara estava revirando os olhos.

Dei tchau para as meninas, isso não incluiu a Clara, é claro! E, fui correndo para Lan-house torcendo para que ela ainda estivesse aberta.
- acho que você esqueceu isso- Miranda disse me estendendo o meu celular.
- Obrigado! Achei que vocês fechassem mais cedo.
- E fechamos. Mas, se fosse o meu celular eu viria aqui, então achei melhor esperar um pouquinho.
- Ai, me desculpa! É que não teve intervalo hoje e era dia de seminário... E, eu já estou indo. Obrigado de novo, Miranda!
- Ah, e Demi! Só mais uma coisa!- Miranda gritou quando eu já estava saindo pela porta e me virei esperando que ela continuasse.
- você está contratada!
- Sério?
- Bem, eu ainda tenho que falar com os donos, mas eles são meus pais, então, passa aqui amanhã para gente discutir sobre o salário e os horários, okay?
- Okay! Te vejo amanhã, Miranda!
Fui para estação toda contente, não que trabalhar numa lan-house seja como trabalhar na redação de uma revista ou numa editora, mas só de pensar em ter mais dinheiro para gastar em livros... já dá uma felicidade!
Só que quando cheguei a estação, minha felicidade fui substituída pela raiva! Pietro estava me esperando na estação, só que como ele não me viu, fingi que não o vi e fui direto para as catracas! Só que aí descobri que o saldo do meu cartão acabou!
Drogaaaaa! O Pietro estava bem pertinho da parede onde ficava a máquina de recarregar o bilhete-unico! Porque eu não podia ser amiga do Daniel Radcliffe para pedir emprestado a capa da invisibilidade dele!?
- Demi- ouvi o Pietro me chamar, porém continuei andando.
-Demetriaaaaa- olhei para trás.
- o quê você quer?- eu perguntei, enquanto esperava meu passe recarregar.
- Olha, eu não entendo porquê você está brava comigo!
- Ah é mesmo?- eu perguntei, com ironia e minha tradicional cara de deboche.
- Demi, toda vez que eu te chamo para ir no amarelinho você não vai, e outra: eu achei que você ainda estava aula, a gente foi dispensado mais cedo... E olha, eu até pensei em te chamar para ir na festa da Jennifer, mas você não gosta dela, nem da Gabriela...
E, como num número de mágica com peixe-piranha, a Gabriela ou como eu prefiro dizer, a Gabiranha brotou do nada!
- Estava falando de mim, amor?- ela disse, e em seguida, agarrou o Pietro pela nuca e começou a beijar ele.
Oi! Quê?! Aí que nojo! 

Eu definitivamente não queria ver aquilo, então, olhei para maquininha e vi que o meu passe já havia recarregado. Aproveitei que o Pietro estava ocupado agarrando, ou melhor, sendo agarrado, pela Gaby, e saí dali rindo daquilo! Se o Pietro soubesse onde mais ela anda colocando a boca!

Uma Universitária Sem TurmaOnde histórias criam vida. Descubra agora