Sempiterno

Prólogo

Quando o Pai criou o primeiro anjo, Ele o fez com a incapacidade de sentir algo fisicamente. A ideia era que, dessa forma, o anjo jamais pudesse se render aos desejos carnais. Mas, visto a frieza que tal característica causou ao anjo, os demais foram criados com a suposta sensibilidade. Havia, assim, um anjo defeituoso no céu, a primeira tentativa falha de Deus.

O Senhor, então, perguntou ao mesmo:

- Meu filho, desejas ter a virtude da sensibilidade?

Mas o anjo negou. Para quê iria desejar aquilo que fazia seus irmãos sofrerem? A sensibilidade criou pontos fracos, dor e falhas. Ele não queria ser assim.

Então seus irmãos, pelo sentir e pela vontade de explorar os desejos carnais, iniciaram uma revolta.

"Por que os humanos poderiam ter livre arbítrio e os anjos não?", foi o questionamento de Lucifer.

Eles sentiam, mas precisavam se privar dos prazeres carnais para viver vidas castas. Afinal, qual a finalidade da sensibilidade?

O Senhor sabia a resposta, mas como o Ser Onipotente e Onipresente que era, também sabia a necessidade que era aquele questionamento. Permitiu, assim, que aquilo aflorasse e a revolta fosse feita. Quando os anjos se rebelaram, mais da metade dos arcanjos caíram do céu para terra como um castigo divino, perdendo assim, suas asas parcial ou completamente devido a queda, e perderam também a Graça. Lucifer, entretanto, teve um castigo especial: Este fora acorrentado ao inferno para sofrer eternamente pelos seus pecados.

A "Estrela da Manhã", como o arcanjo era conhecido, era um dos anjos mais poderosos e inteligentes dos céus. Ele não se submeteria ao inferno e, muito pelo contrário, em pouco tempo o dominaria. Se Deus, seu Pai, seria o Rei dos céus, então Lucifer seria o Rei do submundo.

Durante a Grande Queda, como ficou conhecido o evento, não só os anjos que apoiavam Lucifer foram exilados, mas também aqueles que ficaram em cima do muro, sem saber qual lado escolher. Jeon Jeongguk foi um desses arcanjos caídos. Ele, o primeiro da criação, insensível aos toques, à dor e ao prazer. O anjo de pele pálida, cabelo e olhos tão negros quanto breu, agora havia perdido suas asas quase completamente e a Graça lhe fazia falta. Estava fadado a viver uma vida miserável em um mundo incapaz de lhe oferecer qualquer prazer.

Ao menos era o que imaginava.

Ao cair, Deus também lhe disse que o privaria eternamente da sensibilidade, pois, por ter se rebelado contra Ele, ainda que um dia viesse a desejar poder sentir a dor, o toque e os prazeres da carne, tais coisas jamais lhe seriam fornecidas.

Jeon Jeongguk precisou, assim, aceitar a vida na terra sem jamais sentir nada fisicamente. Mas, e precisou admitir depois, os humanos poderiam ser fascinantes. E, mesmo que o prazer carnal lhe fosse impossível, Jeongguk conheceu a arte e aprendeu a sentir prazer nela.

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Muitos anos depois;

Kim Taehyung POV

Estudar na maior faculdade de artes de Busan com certeza era uma pressão bem grande. Ser o melhor aluno apenas piorava a situação. Alguns professores exigiam de Kim Taehyung uma perfeição que principalmente eles, artistas, sabem que não existe. A arte consiste exatamente no contrário da perfeição. Ela consiste na beleza do errado, na falha que dá vida. Ao menos era o que Taehyung pensava. A perfeição não existia.

Ele estava em um tipo de passeio da universidade, que na verdade, era um estudo. Eles andavam por aqueles corredores da galeria de artes observando os achados recentes. Era uma galeria grande e renomada que se dedicava a encontrar artes antigas, restaurar e expor. Alguns dos quadros ali eram feitos de forma tão grotesca que pareciam macabros. E não só quadros eram expostos, como também esculturas.