1 - Exilados

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  E um dia você perceberá
Que não adiantam esforços,
Se tudo o que você deseja,
Está parado no seu abraço.

  E um dia você perceberá Que não adiantam esforços, Se tudo o que você deseja,Está parado no seu abraço

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    Quando meu mais novo Loubotin entrou em contato com aquela rua esburacada, eu senti vontade de gritar. Definitivamente era uma péssimo dia para combina-lo com minha bolsa Prada, ou com qualquer outra coisa que não combinasse com lama.

— Meu pai só pode estar brincando! — disse Daniel.

Eu sorri ironicamente, porque sabia que aquele era só o início das nossas trevas. Mamãe continuava catatônica, tentando assimilar o que vinha acontecendo dos últimos dias para cá. A falência da empresa dos Gotisch, papai e sua nova mulher, além desse muquifo que o patriarca da família teve coragem de chamar de "novo lar"...

Aquilo, para mim, estava longe de poder ser chamado de "lar dos Gotisch". E infelizmente para nós, papai não se importava muito onde fossemos morar desde desocupássemos a mansão para ele e sua nova mulher. Malditos os homens, seres despresíveis! Parada, enquanto observava os montadores levarem as caixas para dentro da casícula -sim, casícula-, observei todo o meu mundo cair aos meus pés.

Primeiramente que de mim não resta muita coisa se tirar os meus amigos. Em segundo lugar, o que eu faria na vida sem um cartão de crédito ilimitado? E em terceiro, como eu me adaptaria a viver em um lugar onde as crianças passam o dia inteiro nas ruas jogando bola e fazendo grunhidos insuportáveis?

Eu teria de me acostumar, claro. Pelo menos até meu pai perceber que havia feito a maior burrice da sua vida. Porém, com todo o orgulho que sente e seu ego superestimado, talvez demore um tempo para ele dar o braço a torcer. E enquanto isso viveremos aqui, num sobradinho pintado de azul e andando pelas ruas detonadas de Monte Verde.

Assim que terminaram de arrumar a casa, nós entramos. Meu irmão, Daniel, xingou uns cinco ou seis palavrões antes da minha mãe repreendê-lo. Contraditoriamente, em seguida, foi ela quem falou coisas absurdas na frente dos filhos. Meu eu interno quis dizer "então você pode e eu não, né?", mas me mantive calada para não piorar a situação.

Olhando bem e por dentro, até que a casa estava arrumadinha. Nada como a mansão em que morei a vida toda, mas um lugar habitável. Os móveis eram novinhos; tudo planejado pela minha mãe para tornar o lugar mais receptível, mesmo não gostando da ideia de morar no interior e, ainda por cima, na periferia.  Nenhum de nós estava feliz, obviamente, mas a partir daquele momento tentei ao menos melhorar minha feição, na intenção de fazer parecer que nem era tão ruim assim. Isso ajudaria todo mundo a se acostumar mais rápido.

    —Os quartos de vocês são lá em cima — mamãe disse e eu forcei um sorriso. Daniel bufou.

   Subimos as escadas estreitas rápido, mas preparados para qualquer surpresa desagradável a respeito dos quartos. Daniel na frente, não expressou nada antes da minha chegada, para que eu visse com os meus próprios olhos. Eram pequenos. Muito pequenos. Aconchegantes, mas ridiculamente pequenos.

BurguesinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora