Nobody wants him
He just stares at the world
Planning his vengeance
That he will soon unfurl
Iron Man - Black Sabbath6
—Léo, me desculpa — já era a décima vez que eu repetia, e mesmo com ele dizendo que estava tudo bem, a culpa ainda me perturbava.
—Chega, Morgana. Eu retribuí, não foi só você — viro-me para ele, os olhos castanhos recaíam sobre meu mim. Era verdade. Léo tinha sim retribuído.
Encaro o vidro do carro, observando a paisagem esverdeada no caminho até Monte Verde. Já amanhece e eu ainda não pareço completamente sóbria. A dor de cabeça perturba minha sanidade, e a culpa não ajuda em nada. Eu estava bêbada. Não que seja justificativa, mas dá para compreender o fato de ter sido tão impulsiva.
O toque agudo e irritante do celular de Giovanna ecoa pelo carro. Minha cabeça lateja num surto de dor, fazendo-me massagear as têmporas na tentativa de ameniza-la.
—Oi, mãe. Sim. Estou indo. Léo e Morgana. — Gih afasta-se do telefone. —Ei, Léo, você pode me deixar em casa? Só para a dona Amélia ter certeza.
—Claro.
—Viu? — ela torna a falar pelo celular.— Ok, beijos, tchau.
Estávamos quase chegando na divisa entre as cidades. Lembro-me de ter passado exatamente por aquele lugar quando íamos para a república. É bonito, até. Tem um bosque com uma pequena réplica da faculdade federal envolta por hortaliças verdinhas na parte onde começa Serra Santa.
Disperso-me dos meus devaneios com o toque suave de Léo no meu joelho. Nós permanecíamos parados na rua da casa da Giovanna, e eu sequer tinha notado até o momento. Abaixo o vidro para poder me despedir e acabo encarando o retrovisor do carro, ficando horrorizada com a imagem refletida. Como Léo teve coragem de me beijar assim?
—Ei, relaxa — disse ele, os olhos turvos sobre mim. —Você não fez nada de errado.
Eu me sentia péssima. Havia sido boba, inconsequente e ainda por cima, tinha ficado bêbada. E estava horrivelmente desleixada. Se eu me visse daquele jeito na rua, com certeza me julgaria. Por todos esses motivos, e talvez pela dor de cabeça e o gosto de bebida na boca, não consegui mudar minha feição. Léo percebeu.
—A gente começou errado, Morg — eu, pela primeira vez, surpreendentemente gostava de um simples conhecido me chamando pelo apelido. —Mas não fizemos nada errado. Eu não estou namorando a Elisa.
—Eu sei — Léo arrancou o carro, distribuindo sua atenção entre mim e o trânsito.
—Vamos sair — ele propôs com a afirmação. —Um encontro. — sorri desacreditada, balançando a cabeça negativamente.
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Burguesinha
Teen FictionMorgana Gotisch está perdida. Acaba de ser exilada em Monte Verde, uma cidadezinha interiorana cheia de gente esquisita, sem qualquer dos luxos qual fora acostumada. Ela tem um surto de choque cultural logo nos primeiros dias, quando percebe que por...