3 - A Floresta da Tijuca

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Quando a segunda-feira chegou, o colégio estava lotado na entrada. Havia diversos ônibus parados nas calçadas com os alunos ao lado, em fila, entrando nos veículos ao comando de seus professores. André logo reparou que o professor Iraci não estava presente. Ouviu alguns alunos dizendo que ele não iria, pois teve um compromisso inadiável.

– Você está bem, André? – perguntou Monã, no caminho até o ônibus.

– Sim, professora – ele respondeu, sentindo-se desconfiado – sabe, eu queria conversar com você... É que...

Mas ele não conseguiu. André teve a impressão de que ela estava distante, ignorando suas perguntas sobre a piscadela e aviso que havia dado na sexta-feira. Somado a isso, havia uma multidão de alunos e outros funcionários do colégio, e Monã nem conseguiu lhe ouvir direito. Um monte de pais e responsáveis de alunos falavam com ela, tirando algumas dúvidas a respeito da viagem.

A turma de André foi coordenada por Monã, que analisava repetidamente os nomes da lista. Parecia preocupada, olhando para os lados com frequência e perguntando a André se ele estava bem.

Monã começou a chamar pelos alunos e ele subiu, sendo o primeiro da turma na ordem alfabética.

– Pessoal, estamos indo para a Floresta da Tijuca – disse a professora, subindo no ônibus. Encostou-se no vidro do motorista – antes do ônibus dar a partida, vou lembrar que precisamos ficar juntos. Algumas pessoas já se perderam na floresta, então nada de sair correndo pelas trilhas ou ficarem escondidos namorando – alguns deram risinhos – estou falando sério, hein! Vocês tem entre doze e treze anos, não tem nada que ficar escondidos aos beijos no meio do mato! O passeio tem um roteiro e vamos segui-lo, lembrando que vai ter uma atividade em grupo na semana que vem baseado no que aprenderam. Entendido?

– Sim, professora – responderam em uníssono.

– Ótimo. Agora, podem fazer bagunça – ela ergueu a palma da mão aberta – mas com respeito, hein? Modos.

Jorge foi o primeiro a gritar um "AEEEE", e os alunos começaram a cantar. Pelo visto, ele não parecia mais tão afetado pela confusão da sexta-feira, ou pelo menos fingia muito bem.

André resolveu esquecer daquele episódio, pois não havia entendido nada. Durante aqueles segundos de briga, sentiu-se invencível, como se nunca tivesse sido deficiente. Seu corpo era leve e o vento parecia lhe ajudar muito mais do que as muletas. Foi tão estranho, tão inesperado, que ele não conseguiu contar ao próprio pai. Aquilo havia lhe deixado muito confuso, ainda mais com o aviso de Monã, como se ela soubesse de alguma coisa. Por isso, ele resolveu deixar para depois e aproveitar o passeio.

André achou graça de uma música que acusava um ao outro de terem roubado pão da casa de um João. Depois de uma hora e meia de viagem, chegaram à tal floresta. A professora desceu primeiro, as mãos nos bolsos do jaleco e o olhar imperativo. Os alunos foram levados em forma pelos outros professores, enquanto Monã olhou para André, mexeu o dedo indicador e o chamou.

– Oi, professora.

– Você está bem?

– Sim, ué – ele olhou rapidamente para os lados – o que houve? A senhora tá me perguntando isso direto! Aconteceu alguma coisa?

Ela ignorou a pergunta e voltou-se para os alunos.

– Pessoal, vamos seguir por essa trilha. Lembrem-se do que eu falei, hein! Vamos.

Os alunos seguiram e, na verdade, estavam se divertindo. Impressionavam-se facilmente com macaquinhos mais ousados que apareciam pelos galhos. Entretanto, André não prestava atenção aos animais.

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⏰ Última atualização: Mar 07, 2018 ⏰

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