Conto 1 - Monstro da Lua Cheia

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Como todo conto que se preze, este começa por: "Era uma vez..."

Uma vila de pessoas simples e humildes, onde o principal meio de sobrevivência era pesca, caça e o trabalho pesado na roça. Nela, mais especificamente, numa casa de madeira residia Renato.

Um homem de corpo magro, mas desenvolvido pelo trabalho na roça, com pele marrom, cabelos negros e um rosto marcado pelo sol, que abrigava olhos castanhos e barba por fazer. Ele não costumava ter tal hábito de luxo.

Junto dele moravam Ana, sua esposa e seus dois filhos, Lucas e Luan de dez e cinco anos, respectivamente. A vida era difícil naquele lugar, mas Renato fazia o melhor possível para suprir as necessidades de sua família.

...

- Renato, eu não quero que você saia hoje. Noites de lua cheia são perigosas.

Ana insistia mais uma vez para que o marido ficasse em casa, mesmo sabendo que ele não acreditava nas lendas antigas.

- Eu vou. Você sabe que na lua cheia é melhor pra caçar, que eu vejo os bichos. E a gente tá quase sem comida, a colheita não foi boa e eu vou. Para de insistir nessa bobagem de lenda.

Ana suspirou, ela não conseguiria fazer o cabeça dura ficar em casa, então se aproximou dele e lhe deu um breve beijo em sua bochecha.

- Tá bom. Sei que você vai de qualquer jeito. Então, boa sorte.

Renato sorriu de leve com o carinho da esposa, ajeitou sua espingarda nas costas e se despediu dos filhos antes de sair noite adentro procurando por um animal.

Ana suspirou novamente, enquanto o marido sumia no meio da mata. Ele era um bom caçador, mas saber disso não retirava a preocupação de sua mente. Como toda vez que ele saia, ela rezou por seu retorno seguro, ascendeu uma vela e se ajoelhou em frente a Santa Maria, a quem dirigia suas preces.

Depois de suas preces, ela colocou seus filhos na cama, lhes deu um beijo de boa noite na testa e em seguida foi se deitar também, esperando que o dia chegasse logo.

No meio da noite algo começou a fazer barulho no telhado, afastando as telhas de madeira com força. O barulho despertou Ana do sono leve e correu até o armário para pegar a arma reserva do marido, escondida acima do móvel.

A mulher não atirava tão bem quanto o marido, mas conseguiria fazer um estrago com a arma. Adentrando o quarto das crianças que ainda dormiam, ela ouviu os passos sobre o telhado seguirem a mesma direção. Pronta para defender a casa, ela apontou o cano da arma para o teto.

- Mãe, o que esta acontecendo? Que barulho é esse?

Com voz sonolenta Lucas, o mais velho dos filhos, perguntou à mãe assim que acordou. Esta se virou para o filho para o filho com dois dedos frente aos lábios pedindo silêncio. Entretanto, neste momento uma criatura preta entrou pelo telhado.

O monstro caiu em cima da mulher abocanhando seu ombro. Ela não teve tempo de puxar o gatilho enquanto tinha a garganta rasgada pelos caninos pontiagudos.

O sangue da mulher que tinha a vida ceifada se espalhava no chão, enquanto tal cena arrancava gritos das crianças. Os dois garotos se escolheram na cama, gritando e pedindo ajuda. Mas ninguém apareceu.

O mais velho foi atacado primeiro. Garras cortaram o peito do rapaz fazendo sangue tingir a parede e a boca se encher do mesmo sangue enquanto os olhos perdiam o brilho da vida. O mais novo, depois de testemunhar as duas mortes e se ajoelhar ao lado do corpo de seu irmão pedindo que se levantasse, teve o mesmo destino. Sua morte, porém, foi mais rápida. As garras que mataram a seu irmão, atravessaram seu coração. O corpo de Luan não teve tempo, nem forças para esboçar qualquer reação à morte atroz.

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