Pães de Álcalis Branco

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[Não Revisado]

  - Eu vou te perguntar pela última vez... - Molly pressionava com cada vez mais força a faca de prata contra meu pescoço - QUEM é você e COMO conseguiu passar pelas nossas barreiras? - Seu tom era firme e seco. Sentia cada vez mais minha respiração falhar, ofegante. Quanto mais ela pressionava, mais meu estômago se contraia. - Como conseguiu vir para cá sem nada no sangue? Eu não detectei nada quando te toquei! Como?
  - Ar! - Olhando para as próprias mãos, Molly olhava com indecisão. Eu nunca entendi esse garota. - Por favor.
  - Eu vou te soltar - A pressão da faca contra meu pescoço diminui no mesmo ritmo de suas palavras - E você vai me responder o que quero saber, caso contrário, eu rasgo a sua garganta. - Concordo freneticamente com a cabeça. Ela se levanta, puxa duas cadeiras, me dando as costas por dois míseros segundos. Coloca uma na frente da outra e me orienta a sentar na primeira. - Agora, como entrou no Reino de Pradalla?

  Pradalla? Eu já ouvi esse nome. Pradalla. Pradalla. Os Segredos de Pradalla!

  Mas aquilo parecia impossível, os segredos de Pradalla era um livro, e livros não podem te levar para lugar nenhum. Bem, não literalmente. Era apenas um livro, e isso é um sonho. Eu já havia aceitado que era.

  - Isso é um sonho. - Respondi tentando manter a ordem em meus pensamentos para não falar besteira - Não passa de um sonho bobo, até porque eu entrei por um livro! - Respondo do jeito mais debochado para que ela concordasse comigo que tudo isso não passava de uma loucura muito grande. Para minha completa decepção, a outra loira franze o cenho, como se a resposta já fosse esperada.
  - Você? Como você...? - Molly estava com seu raciocínio a mil. Dava para, praticamente, ver as engrenagens de seu cérebro se movendo por muitos km/h. Levantando e andando de um lado para o outro, ela evidentemente estava preocupada com alguma coisa.
  - De onde você veio? De qual Reino?
  - Reino? - Pergunto confusa. Ela estava brincando comigo? - Eu não vim de Reino nenhum. Eu vim de Nova York, nos Estados Unidos. - Quando disse isso, ela se levantou e começou a andar em volta das cadeiras. Até hoje, tenho certeza de que ouvi "Não é possível", "verdade, não é verdade" e "Que os deuses nos protejam". - Você está bem? - Pergunto quando a vejo ficando pálida.
  - Eu estou bem. Eu só queria saber - Seu olhar perdido cai fixo em mim - Como uma humana conseguiu entrar em um dos Reinos de Pradalla.

    Pradalla era um Reino antigo, muito antes dos outros mundos ou de seres sem mágica. Criaturas sobrenaturais precisavam se abrigar do mundo horrível que era lá fora. O mundo proibido, o meu mundo, era conhecido como o Reino dos Humanos. Eram seres egoístas e sem poderes, então eram considerados mais fracos e dignos dos cuidados e da proteção de todos os seres mágicos.
  Os primeiros humanos, como eram conhecidos os guerreiros da Terra, não souberam valorizar o precioso presente e abusaram demais das forças maiores.
  Imaginem como tudo tivesse sido diferente: Os humanos aprenderiam magia, tornando-se feiticeiros. Aprenderiam a plantar coisas e, instantaneamente colhe-las. Poderiam curar doenças terminais em minutos, até conjurar magia ou "apanhar" um pouco da magia dos elementos.
  Infelizmente os Primeiros Homens não acharam a mesma coisa e se recusaram a fazerem parte daquele mundo, alegando que seu Deus, o criador e todo poderoso, não permitia tal bruxaria. As criaturas mágicas foram caçadas, uma por uma. Fadas eram mortas, sereias serviam de comida para eles e os gnomos eram torturados por seu conhecimento sobre seus mundos.
  Com medo, as criaturas mágicas fugiram para outro mundo. Um mundo onde nem os Primeiros Homens e seus descendentes pudessem entrar. Com barreiras mágicas e a prova de não-magos, tudo poderia finalmente ficar em paz, mas, do mesmo jeito que machucados se fecham e sobram as cicatrizes, os mágicos não esqueceram. Esta cicatriz ficaria para sempre

  - Você precisa sair daqui. - Molly empurrava mechas loiras que atrapalhavam sua visão - As Sombras vão te achar, garota. Você não pode ficar aqui. Precisa voltar. Voltar para a sua mãe.
  - Você acha que eu ainda estaria aqui se soubesse como voltar? - Perguntei triste. Sentia saudades dela, saudades do John. - Ela já deve ter chamado o exército, ou todos os policiais de Nova York.

Os Segredos de PradallaOnde histórias criam vida. Descubra agora