Querido Scott Chorley
Oi, lembra de mim? Não faz tanto tempo assim não é?
Então, precisava te escrever uma carta, um pouco antiquado, eu sei, mas você me conhece, sabe que sou bastante brega.
Durante todos esses anos, eu sempre me fiz a mesma pergunta.
Nunca tive resposta, porque eu sequer já tive coragem de perguntar pessoalmente e tirar a dúvida. Eu tinha muito medo da resposta, ou de como você agiria se soubesse.
Eu me questionava sempre: será que, alguma vez, você tinha percebido?
Você percebia a forma como eu olhava para você?
Ou a forma que eu sempre zombava da sua forma de agir em certos momentos?
Ou que sempre ria das suas piadas idiotas, embora não tivesse graça alguma?
Você já percebeu como eu agia diferente quando estava contigo?
Como eu nunca te abraçava espontaneamente muito menos o tempo inteiro?
Como eu sempre atendia o que você pedia pra mim, independente do quão bobo fosse?
Ou que eu xingava você constantemente, mesmo sabendo que você não gostava muito disso?
Você por acaso percebeu, depois de todos esses anos, que eu sempre fui apaixonada por você, Scott?
Eu acho que não.
Eu sempre me considerei uma boa atriz.
Principalmente quando se tratava de você.
Eu conseguia esconder meus sentimentos de você com muita facilidade. Fingia ignorar tudo o que você me fazia sentir e fingia que nada daquilo me abalava.
Acho que você não estava prestando atenção o suficiente pra notar isso.
Eu estaria mentindo se dissesse que me lembro como eu conheci você. Mas lembro do importante.
Eu tinha quinze anos.
Você tinha dezessete ou dezoito anos.
Eu não sei muito bem, porque naquela época eu sequer te conhecia direito. Sabia seu nome e era isso.
Não foi no colégio enquanto eu te via jogar futebol ou outro tipo de cenário clichê adolescente.
Foi mais natural e quase sem perceber.
Você era primo do namorado da minha amiga.
Jack e Cora namoravam a pouco tempo e então resolveram que juntar os grupos de amigos seria legal.
Na verdade foi horrível.
Eu não conhecia quase ninguém do grupo dos amigos da Cora, muito menos os do Jack.
Hoje você sabe o quanto sou extrovertida, mas naquela época não conseguia me expressar bem em público, principalmente um público desconhecido.
Você estava na primeira festa na casa do Jack, acho que era aniversário da Louise, irmã dele. Nós fizemos uma roda e todos ficamos conversando, tentando conhecer aqueles que não se conheciam.
Eu não falei com você naquela noite, nem com os outros amigos do Jack, na verdade fiquei o tempo inteiro lendo um livro chato em epub no celular.
Depois desse dia os dois grupos viraram um, os amigos da Cora que consistiam basicamente por mim, o irmão cabeçudo dela, nossa amiga Becca e o Theo, meu primo.
Já os amigos do Jack eram só garotos, vocês todos jogavam futebol juntos e ele era o capitão do time. Fui descobrir muito tempo depois que você era o goleiro, e era muito bom.
Todos íamos para festas juntos e fazíamos de conta de que aquilo era divertido e legal, como se estivéssemos amando a companhia uns dos outros.
Eu não me lembro de notar sua presença, você nunca foi o garoto que ficava no meio, essa era a função do Jack e o outros garotos estavam ali para rir dele.
Só que, depois de várias festas eu percebi que sempre tinha um garoto de cabelos encaracolados.
Você sempre esteve lá, mas eu nem te notava direito. Você não se destacava tanto quanto o Jack.
Você não era exatamente estonteante, nem incrivelmente bonito, não era bem o tipo que chamava atenção por onde passasse.
Acho que seu amigos mais fortes te escondiam um pouco.
Quando Cora me ligava pra chamar para sair eu sempre perguntava quem iria, e você sempre estava entre os nomes confirmados. Eu gostava, era reconfortante ter estabilidade.
Não porque eu tinha interesse, era só porque você fazia parte do grupo e eu gostava de não haver faltas.
Eu demorei muito pra saber algo sobre você, talvez porque eu nunca me importei em ficar questionando ou procurando sobre os nossos novos amigos.
Demorou um ano de amizade pra eu descobrir que você tinha uma irmã mais nova e saber qual era seu nome do meio.
Acho que até mesmo hoje, depois de tanto tempo, eu sinto que você sempre soube tudo sobre mim, mas eu sabia muito pouco sobre você.
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Só mais uma pequena carta de amor
Short StoryDurante todos esses anos, eu sempre me fiz a mesma pergunta. Nunca tive resposta, porque eu sequer já tive coragem de perguntar, eu tinha muito medo da resposta, ou de como você agiria se soubesse. Eu me questionava sempre: será que, alguma vez, voc...