Capítulo 10

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Eu te amo — foi o que Cameron disse no penúltimo dia das férias de verão para a garota ao seu lado. Mal sabia ele que não estava dizendo a verdade.

Anneliese e o rapaz estavam na casa de praia da tia de Cam. Sentados no deque, com os pés pendendo sobre a água do mar e ao contemplar do pôr-do-sol inebriante.

A jovem virou o rosto na direção do garoto com uma rapidez que apenas uma jato de adrenalina poderia causar. Sentiu o seu coração pulsar forte demais quando seus olhares se cruzaram e então tomou fôlego para perguntar:

O que você disse? — a garota sentia o sangue pulsar em seus ouvidos.

Anne, eu te amo — ele repetiu o que só descobriria ser falso depois de um ano e meio, e então seus lábios se juntaram com os da garota, da mesma forma como estavam naquele cinema.

Se beijavam como se fosse a primeira vez, mas diferente da primeira vez, Cameron não sentiu seu coração bater mais forte e nem ficou enfeitiçado pelos lábios deliciosos da garota. Ele só deixou a jovem terminar o beijo porque achou que aquele seria o pagamento do que ela estava fazendo por ele, fingindo ser sua namorada.

Mas, uma hora, ele deixou de sentir a pele da jovem contra a sua e viu a sua sombra voltar para o seu lugar. Logo atrás deles, Shawn o encarava incrédulo. Ele se levantou para sair da sala e foi seguido por Cameron que só então sentiu o seu coração disparar, bater rápido e apavorado.

— Shawn, espera! — ele chamou quando já estavam fora da sala de cinema e Peter apenas olhou por cima do ombro, sem cessar seus passos.

Ele adentrou um banheiro e Cam foi logo atrás.

— Shawn, você pode parar por favor? — Alex segurou o braço do maior.

— Parar com o que, Cameron? Eu não estou fazendo nada...! — um bolo se formou em sua garganta.

Shawn se sentia patético, estava fazendo uma ceninha de ciúmes porque o seu amigo havia beijado a namorada dele.

— Shawn... — Cam sentiu cada batida de seu coração que tentava sair de seu peito. Se aproximou do amigo, sem medo, e o olhou nos olhos, arrancando a verdade a força — Olha, eu... Shawn, você...

— Para, Cam... — aquilo era estranho. Ele não queria que Cameron soubesse que ele sentia ciúmes, mas ele já sabia e entendia o sentimento, porém, nenhum dos dois sabia como lidar com aquilo — Você...

— Shawn, eu te amo...

E fez-se um silêncio doloroso.

Peter sentiu o coração dar uma pirueta tripla e Cameron viu passar diante de seus olhos, anos de uma paixão enrustida que finalmente viera à tona. Seu interior pegava fogo.

Shawn engoliu em seco, respirou fundo e deu um passo a frente, antes de puxar Cameron pelo casaco e unir suas bocas que haviam sido feitas para estarem juntas.

Aquele beijo era angustiante, os dois se agarravam com tanta força que parecia que sumiriam, caso contrário. Banhados pelo desejo reprimido por anos, pela paixão que seus corações haviam suportado manter presa durante muito tempo e pelo fogo que apenas eles tinham a capacidade de provocar um no outro.

Shawn empurrou Cameron até a parede e, sem dar a oportunidade do menor recuperar o ar, apertou-o mais ainda contra si.

Cameron o amava.

O amava!

Ele não poderia estar mais eufórico, seu coração não podia bater mais rápido. Mas, então uma epifania óbvia lhe inundou numa poça de culpa e remorso, tão gélida que foi capaz de apagar a sua chama de uma vez.

Em um movimento brusco se soltou dos braços de Cam e se afastou alguns passos, temendo que o que havia acontecido se repetisse. Ele estava em choque, assim como o rapaz a sua frente.

— O que foi que eu fiz? — Shawn se escorou na parede de uma cabine enquanto fechava os olhos para não ter contato visual com o amigo pelo espelho. Ele se sentia mal. Sua felicidade não havia durado nem mais de dois minutos.

Peter apenas conseguia pensa em como seria daqui pra frente. Como ele conseguiria ser tão próximo de Cam agora que ele sabia e corria o risco de não resistir? Como a amizade deles seria a mesma, de novo?

Já Cameron ainda estava parcialmente submerso na sensação deliciosa de sua paixão, seus lábios ainda formigavam onde a pele de Shawn havia estado. Naquele momento Cam pensou que nunca mais queria sair daquela órbita só dele e de Shawn; que não viveria mais se não pudesse sentir aquela sensação intergaláctica que o toque de Peter havia lhe proporcionado.

Mal sabia ele... Mal sabia.

— Olha, me desculpa, Cameron — foi tudo o que o maior disse antes de sair dali o mais rápido que a discrição lhe permitiu.

Alexander não viu mais Shawn naquela noite. Graças à Anne, que insistira, Cameron deu uma carona para Camila, que Peter havia largado sozinha na sala de cinema e então ele foi para casa e desabou.

Deixou toda a angústia e aflição saírem enquanto era acalentado pela irmã que não sabia o que estava acontecendo, mas queria demonstrar apoio.

Cam estava doendo. Doendo inteiro, seu peito parecia pesar demais, sua cabeça latejava depois de ele chorar e o stress fazia todo o resto doer como se ele estivesse levando pancadas.

Mais tarde naquela noite, Anne ligou para ele, pedindo desculpas pelo que havia feito e Cameron já nem se lembrava mais. Sua ex-namorada ter lhe beijado era o menos dos seus problemas.

Ele tinha um problema de quase um metro e noventa que o fez passar a noite em claro.

E doía lembrar da forma como Shawn havia agido, doía porque Cameron entendia e partilhava da mesma confusão que o amigo. Doía pensar que as coisas podiam não ser mais como antes e doía.

Alexander chorou mais de uma vez naquela noite. Chorou tudo o que não tiveram a audácia de sentir durante todos aqueles anos. Debulhou-se em lágrimas até que não houvesse mais uma gota para sair de seus olhos e então adormeceu, com uma das maiores dores que já encarara esmagando seu peito sem nenhuma piedade.

Mal sabia ele.

🌼🌼🌼

Eu sei que vocês me odeiam agora, então não vou dizer nada.

With all love, mesmo diante do hate,
Tia que emputesse vocês

Counting Wounds | Shameron [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora