O inicio

55 3 8
                                    

"Já faz algumas semanas que eu tive uma refeição decente, Roy está procurando lenha seca nessa floresta úmida, ele me disse para esperar aqui e encontrar um jeito de fugir caso ele demore mais que duas horas, e eu... Bom, estou escrevendo o meu 354° dia que toda garota já sonhou no mundo. Toda suja, com fome, frio, sede e o pior... Medo"

Vira Página

"Já se passaram mais de três horas, e estou começando a ouvir uns sons muito estranhos vindo de fora da cabana, parece que não tem jeito, eu quero muito ir lá fora e procurar pelo Roy, mas eu estou com tanto medo..."

— As folhas estão rasgadas e molhadas, não dá pra ler o resto...
— Kathy! O que está fazendo?! Eu disse pra não mexer em nada, um arranhão se quer e você pode se infectar!
— Eu só estava vendo esse diário, bom, pelo que parece ela não durou muito, afinal, ninguém deixaria um diário aberto, né?
— Eu já te disse, nós estamos aqui para procurar suprimentos e coisas que nos sejam úteis.
— Já entendi, desculpe, eu só... Só queria ler algo, algo do mundo em que vivemos antes de tudo acontecer, sabe? É apenas... Deixa pra lá, perdi o foco, vamos voltar ao que estávamos fazendo.
— Você tem que entender que agora não somos mais cidadãos que escrevem livros, ou fazem novelas, ou qualquer tipo de atividade de lazer ou profissional, tudo isso acabou, todos temos somente uma coisa em mente, e essa coisa é a sobrevivência, não estamos mais no topo da cadeia alimentar, estamos bem abaixo disso, somos meras presas para o que tem lá fora, precisamos ter cuidado e tentar não pensar muito no que fazíamos antes, ok? Você me entende?
— Entendo, Ed...
— Mudando de assunto, o que você encontrou? É claro, além do diário.
— Apenas duas latas de pêssego em calda, foi o que consegui encontrar em meio a essa bagunça.
— Entendo, bom, uma pra mim e outra pra você, mas vamos guarda-las para quando estivermos famintos de verdade, e vamos sair daqui, esse lugar já está me passando uma má energia.
— É, eu acho isso uma ótima ideia.

Kathy e Ed saem da cabana e ouvem um gemido que estava próximo, quase inaudível.

— Espere, espere - Sussurrou Ed - você ouviu isso?
— Não ouvi nada
— Shh! Fale baixo, fica atrás de mim
— Tudo bem

Ed olha ao redor e percebe que o gemido está vindo de uma árvore próxima, ele caminha poucos metros da mesma e ao se aproximar avista um estipe com um poro volumoso, a essa altura Ed já sabia do que se tratava.

— Kathy, quero que me ouça, eu irei distrai-lo e você corta o estipe, mas cuidado pra não deixar os poros entrarem em contato com sua pele ou pior, sua boca.
— Tudo bem, gostei da teoria, vamos ver se na prática irá funcionar.

Ed se aproxima da árvore e atrás dela ele vê um homem, com uma aparência de 50 anos de idade, sentado e de cabeça baixa, com larvas saindo de suas orelhas e cogumelos com bolhas trypophobicamente grotescas em seu couro cabeludo. O estado de decomposição já estava muito avançado, junto do homem há um amontoado de folhas secas, porém úmidas, o homem tem uma certa fundição com as folhas, fazendo com que os mesmos parecessem um, completamente camuflado se não fosse pelo seu estipe que sai de forma ascosa de sua nuca. O horrível odor de podre faz com que Ed recue e pise em um graveto que facilmente se quebra.

— Mas que porra! Kathy, se prepare, ele vai avançar, prepare o facão e esteja pronta, puta que pariu, odeio esse fedor.
— Certo!

O homem com dificuldades se levanta e brande de forma rouca e velha, Kathy corre e fica atrás dele e com um só golpe corta seu estipe, o homem rapidamente perde seus movimentos e cai, era como se o estipe fosse seu cérebro, porém o mesmo ainda continua vivo e Ed saca sua faca e enfia no centro da cabeça do homem, e então todo gemido e movimentos por reflexos cessa.

— Tudo bem, é só eu ou você também achou fácil demais?
— Ele estava em um estado avançado de decomposição, mesmo se não o matássemos, com um ou dois meses ele morreria sozinho, o fungo iria consumir ele até a última de suas células, não iria restar nada.
— Essa sua faca é muito boa, quando terei uma igual?
— Quando você saber o real perigo que ela traz, isso não é uma faca qualquer, encontrei ela no corpo de um militar, antes de tudo isso acontecer - Diz Ed de forma pensativa.
— Mas eu sei que ela é perigosa, eu sei me cuidar- Retruca Kathy.
— Conversamos sobre isso depois, temos que sair daqui antes que anoiteça - Diz Ed olhando para a copa das árvores.

A AscensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora