Big Brother is watching you...

198 12 12
                                    

A tensão estava num nível crítico na sala da casa mais vigiada do Brasil. Era noite de eliminação no "Big Brother Redmayne".
          Os dois emparedados da vez, cada qual no seu canto apartado do sofá e cercado pelos colegas mais chegados, pareciam bem tensos e aborrecidos por estarem naquela situação, afinal, não era para menos: Quem fosse eliminado, estaria fora da corrida pelo prêmio que valia um Oscar.
          Um deles estava vestindo uma farda da Primeira Guerra Mundial, muito bem alinhada e composta, e suas botas altas engraxadas reluziam - era o tenente Stephen Wraysford. Da outra ponta do sofá branco e enorme, estava um sujeitinho com ar desaforado, enfiado num jeans justo e numa  camisa branca aberta sobre metade do peito, que deixava entrever a regata também branca que usava por baixo, e na cabeça trazia um chapéu preto de caubói; e ao contrário do oponente, suas botas estavam desleixadamente sujas - era Eddie Kreezer.
          Ambos estavam meio que sentados na beira do sofá, de costas curvadas e cotovelos sobre os joelhos, parecendo o primeiro muito abatido, e o último, extremamente contrariado, e quando a tela de TV led de 42 polegadas na parede acendeu, começando a transmitir, todos os doze participantes sobressaltaram-se de leve, em especial Jack Jackson, que franziu de leve as sobrancelhas, não compreendendo aquilo muito bem, aliás, como sempre. E Osmund, que, do canto, sentado numa cadeira dura por não achar o sofá macio um luxo ao qual um monge como ele deveria fazer uso, também como sempre, desviou os olhos da tela, fazendo rapidamente o sinal da cruz. E na tela surgiu o rosto sorridente de... Eddie Redmayne:
          - Boa noite, tripulantes da nave louca do Big Brother Redmayne Brasil! - ao longo da sala, os mais educados sorriram e deram boa noite. Balem Abrasax revirou de leve os olhos, fazendo uma carinha de nojo, Eddie Kreezer resmungou algo incompreensível e Alex Forbes deu apenas um sorrisinho cínico - Como estão os ânimos para essa noite de paredão???
          - O que é que você acha? - resmungou o caubói - Não é o teu  que está na reta!
          Sorrindo e passando a mão pelo cabelo, Redmayne ignorou o comentário e prosseguiu apresentando o programa para a audiência de "Redmayníacas" que assistia em casa... na tv, tablet ou celular, de qualquer lugar, porque o sinal da "Rede Bobo" parece a peste negra no tempo do Osmund...  se espalha por todo lugar.
          - Bom, sabemos que as panelinhas já foram formadas, o que fica bem claro para todos, então é desnecessário perguntar para qual dos dois cada um de  vocês está torcendo... -  e de repente parou, reparando em Lili Elbe que, sentada ao lado de Stephen agora tinha tomado-lhe as mãos entre as dela, dando-lhe tapinhas de encorajamento, e com um sorriso extremamente sedutor  Redmayne comentou - Lili, preciso dizer que esta noite você está especialmente radiante! Esse batom coral cai-lhe muito bem!
          Corando um pouco e baixando o olhar, ao que colocava o cabelo para trás da orelha com um gesto delicado, Lili deu um sorrisinho e agradeceu:
          - Muito obrigada, Eddie.
          - Pois bem... Vamos ver agora quem da família veio para receber aquele que for eliminado hoje - falou Redmayne com ar entusiasmado - Stephen... - e este sobressaltou-se no sofá, olhando primeiro para Lili, que sorriu para ele, e em seguida para Marius Pontmercy, que estava sentado do outro lado dele, e que com um  sorriso permeado a um olhar marejado ante a palavra "família"  deu-lhe dois tapinhas no ombro - Quem será que veio para vê-lo, Stephen?
          Parecendo tenso, este respondeu, com sinceridade - Não faço ideia, senhor Redmayne... Todo o meu pelotão morreu na guerra.
          - Mas vieram duas pessoas... - sorriu Redmayne, seu rosto lindo enorme na tela de 42 polegadas em HD, que na verdade não ajudava muito, porque destacava as linhas de expressão ao redor de seus olhos verdes e as muitas sardas, de forma que ele mais parecia uma mistura de dálmata com shar-pei, mas ainda assim era lindo - Duas pessoas muito especiais. Vamos ver quem são, Stephen?
          A imagem mudou para uma multidão de moças que torciam por Stephen, todas elas leitoras da missDalek, com faixas escritas "Ui, tenente" e "Ui, Stephen", até que finalmente focasse sobre duas pessoas em especial no meio delas: Uma mulher loura, muito bonita, e uma garotinha de uns 8 anos mais ou menos; e vendo-as, Stephen ergueu-se de um rompante do sofá, levando as mãos aos lábios, e sussurrou, não crendo nos seus olhos, que encheram-se de lágrimas:
          - Isabelle...
          O rosto dela na tela pareceu emocionado, e ela sorriu, não conseguindo dizer nada porque o grito das tietes ao redor abafava tudo, ao que Eddie Kreezer soltava um assovio de aprovação, com a mão ajeitando o que tinha dentro da cueca. E ao som do coro que começou a gritar "Lindo, tesão, tenente gostosão" Stephen pareceu  confuso com a presença da menina, perguntando:
          - E essa garota, Isabelle? Quem é?
          Não conseguindo ainda dizer nada, ela baixou o rosto, meio tímida e sem graça, e a imagem cortou novamente para o apresentador, que exclamou:
          - Ora, quem é! É sua filha, tenente.
          - Minha filha?
          - Ué, Stephen, por favor - exclamou Redmayne, de forma marota - O que você achava que ia acontecer depois de você passar a minissérie toda quase que praticamente trepando, meu colega? Era uma cena de guerra para quatro de safadeza... Ah, bem, não precisa que eu desenhe, não é? - e sem mais aviso voltou-se para seu xará - E você, Eddie? Quem será que veio te receber hoje?
          Completamente aturdido, Stephen virou-se para o sofá e voltou para ele, ao que tanto Lili quanto Marius estendiam-lhe os braços, e quando sentou-se ele foi felicitado por seus colegas, Newt Scamander erguendo-se de onde estava para vir dar-lhe um tapinha no ombro de jeito tímido, ao que Jack exclamava, com um sorriso contente:
          - Parabéns, meu amigo! Ter filhos é ótimo! Eu tive vários com a minha Aliena.
          - Que lindo, Jack - falou Lili - Eu queria tanto poder ter filhos... Quantos filhos você tem?
          Jack olhou-a confuso e coçou de leve a cabeça, começando a contar nos dedos de forma meio lenta, tentando enumerá-los pelos nomes, mas atrapalhando-se todo.
          Respondendo à pergunta que tinha-lhe sido feita, Eddie Kreezer falou - Mostra logo aí essa porcaria!
          Com um sorrisinho de condescendência, a imagem de Redmayne na tela deu lugar a uma arquibancada vazia, e o som dos grilos ao redor pôde ser ouvido naquele silêncio de túmulo, e tanto Alex quanto Antony Baekeland, sentados ao lado dele, deram uma risadinha, embora fossem seus amigos. Sentado do lado deles mas um pouco afastado para não amassar a longa capa purpurinada, de pernas cruzadas e cotovelo sobre o encosto, Balem que, como de costume era o líder da semana, deu uma rápida espiada para a tela, com ar entediado, e estalou a língua de leve. E assim que a imagem cortou de volta para o apresentador, Eddie falou com raiva:
          - Claro que nenhuma daquelas duas vagabundas veio! Como poderiam, se a Glenda eu matei, e aquela biscatinha da Luli fugiu de mim feito uma franguinha covarde?
          - O quê? - falou Lili indignada, mas de forma delicada - Você matou uma mulher?
          - Isso é totalmente inadmissível! - esbravejou Marius, e outra vez, no cantinho da parede, estremecendo todo, Osmund fez um amplo sinal da cruz.
            - Ah, matei mesmo. Ela ficou na frente da arma, ué. O tiro na verdade era pra Luli - e nervosamente tirou o chapéu, para coçar os cabelos.
          - Se você a matou, é lógico que você não a amava - falou baixinho Stephen Hawking, manifestando-se pela primeira vez, falando com dificuldade porque já estava todo meio torto, sua doença já bem adiantada, sentadinho na cadeira de rodas ao lado de Newt na ponta do sofá.
          - Às vezes nós podemos sim matar alguém que nós amamos - falou Tony, de forma meio vaga, tentando soar impessoal.
          - Concordo - falou Alex ao lado dele, todo vestido de preto.
          - Tipo, assim - continuou Tony - A mãe da gente.
          - Concordo - falou Balem com sua voz rouca, pela primeira vez, e novamente Osmund benzeu-se lá no seu cantinho, ao que falou com voz trêmula:
          - As almas de vocês todos estão condenadas ao inferno... E a minha também!
          - Gente, morte não é um assunto legal - resolveu manifestar-se Qwerty Doolittle, coçando de leve o cabelo preto - E eu posso falar, porque dirijo uma funerária lá em Los Angeles, e lido com a morte todo santo dia.
          - Sim! - exclamou Redmayne de forma animada - Quem liga para o Qwerty, mas nesse momento eu sou obrigado a dar razão a ele... Vamos mudar de assunto, porque em noite de eliminação o astral já fica pesado, então vamos agora fazer um intervalo comercial e, quando retornarmos, será com o resultado do paredão de hoje! Até logo mais, tripulantes, e vamos agora dar aquela espiadinha básica. Já voltamos!

**********

Aproveitem agora os intervalos comerciais para irem ao banheiro e fazer a pipoca, porque assim que vocês ouvirem o "plim-plim", estaremos de volta, com o resultado desse emocionante paredão!

Big Brother Redmayne BrasilOnde histórias criam vida. Descubra agora