D o i s

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Júlio nada mais era do que um feixe de luz brilhante, divertido, sorridente e fofo, nunca o tinha visto antes, porém quando ele surgiu, realmente surgiu, no pátio do segundo andar do colégio de pé em uma cadeira cantando a plenos pulmões uma música esquisita e ritmada, ele tinha uma voz linda e embora não fizesse ideia do porque ele estava agindo daquela forma, arrancando risadas altas e comentários maldosos e outros divertidos por toda a escola, me limitei a impedir que Cátia fizesse o mesmo, ora, quem somos nós para julgar o comportamento estranho de alguém, para mim o mais importante é viver sem incomodar, isso basta.


_Clare, pelo amor de Deus... me deixe rir! Quem é esse idiota?! Ah não, as notas agudas...

Ela lutava conta a minha mão enquanto seu rosto se tornava cada vez mais vermelho de tanto rir, sem alternativa enfiei uma porção de balas de gelatina em sua boca para minimizar os sons de sua risada escandalosa. Meu rosto estava esquentando tanto devido a vergonha de ter pares de olhos em nós graças a histeria da minha amiga que se contorcia no banco como uma minhoca. Deus, como odeio ser o centro das atenções.


_Cátia Eleonor, por favor... controle-se!


Tive que chamá-la pelo nome composto, isso a fez rir com mais energia a ponto de sua voz sobressair o burburinho. O rapaz de cabelos castanhos, olhos do mesmo tom e feições bonitas parou imediatamente e fixou seu olhar mortal em nós, achei que ele estivesse ficado furioso por ter sua apresentação interrompida, quando à Eleonor... era tarde demais, ela já havia recorrido para o chão mas parou ao ouvir a voz extremamente grossa do rapaz que estava cantando antes como muita desenvoltura... feminina.

_O que acharam do meu show? Bom, não é? Sou Júlio César, gosto de ser chamado de imperador também, se haviam dúvidas sobre mim, acho que agora já não há mais, interpretem como quiserem, mas é bom que saibam que não tolero falta de respeito, aquele que ousar olhar torto para mim... mando matar. — Perplexa com a seriedade de suas palavras engoli em seco, Cátia respirou fundo e então murmurou alguma coisa sem sentido "a purpurina fala grosso", não lhe deu atenção, Júlio desceu da cadeira, andou pelo pátio com as mãos para trás das costas e visualizou a todos como se fossem seus súditos. — Ser filho de político tem suas vantagens, sumam da minha frente logo, ah, esse lugar só tem gente feia... credo. Rinoplastia existe, maquiagem também.


Havia uma certa hostilidade em sua voz, assim como um brilho de riso em seus olhos, ofendidos e irritados com as ameaças muitos se dispersaram, mas o garoto sumiu e quando reapareceu estava vindo com muita determinação em nossa direção, não posso dizer com precisão o que se passava em sua mente, porém sei que ele parecia curioso ao me examinar.


_Você, qual o seu nome? — Queria muito entender qual o motivo de ser tão visível quando tudo o que desejo é fazer parte da multidão e me assemelhar ao restante do mundo.


_Eu sou a Clare, você tem... uma bela voz. Ah, essa é minha amiga Cátia. — Sem aviso ele sentou ao meu lado e passou o braço sobre meu ombro arrancando uma careta de Eleonor que é muito ciumenta com suas amizades, até mesmo com seu animalzinho de estimação Bibbous, um gatinho que mora nos arredores da escola. — Por favor, não faça isso.


_Ei, purpurina, larga minha amiga! — Ele a ignorou e tinha um cheiro doce, Júlio era muito alto e magro, mesmo desconfortável com o toque, não senti que ele fosse de fato uma ameaça à minha segurança, mas Cátia achou e o empurrou quando ele não a obedeceu. — Solta ela, criatura!


_Você é fofa, obrigado. Seremos amigos também, não seremos? — "Pedindo" tão gentilmente e de uma forma divertida ele sorriu e apertou a minha bochecha já corada pela a situação, Cátia rosnou, ele enfim a fitou e revirou os olhos. — Vamos garota, sei quem é você, mas pessoalmente você é muito irritante. Vem aqui, seremos todos melhores amigos, abraço coletivo! Sorriam.


Te esperando (Parte I) - ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora