"Zoe! Acorda filha, vais chegar tarde ao colégio..." A minha mãe chama-me do outro lado da porta com a sua voz ternurenta que, passem os anos que passarem, nunca mudará, esta não se encontra trancada mas ela sabe perfeitamente que eu não gosto nem um bocadinho que entrem no meu quarto sem a minha permissão. Na verdade, já me encontrava acordada há muito.
"Bom dia." As minhas palavras saem mais secas do que eu consigo evitar quando eu abro a porta de repente. Não é que a minha mãe tenha culpa de alguma coisa, ela não me fez nada de mal, muito pelo contrário, ela não aprova a minha mudança mas sempre me apoiou porque afinal é o que se deveria esperar de todas as mães mas a realidade é outra.
"Oh, bom dia meu anjo. Pensei que ainda estavas a dormir." Eu sinceramente não sei como é que ela tem paciência comigo, eu não era capaz de aturar alguém como eu. Gostava de um dia lhe poder mostrar que ela continua a significar muito para mim mas, simplesmente, fui obrigada a aprender a esconder tudo o que sinto e limito-me a guardar tudo para mim. "Outra vez de preto? Costumavas ser uma rapariga tão cheia de cor, tão cheia de vida, uma menina tão sorrid-"
"Eu não sou mais essa menina!" Interrompo-a e lanço-lhe um olhar que a faz engolir em seco, como se tivesse algum tipo de radioatividade. Talvez eu até nunca tenha sido essa menina perfeita que todos pensavam que eu era, talvez eu fosse o que todos esperavam eu ser. Um longo suspiro sai da minha boca e não quero, de forma alguma, fazê-la sofrer ou magoá-la, porque ela é, sem dúvida, a única que ainda cá está para mim independentemente de tudo. "Desculpa mãe." Esforço-me por fazer um pequeno sorriso para tornar o ambiente um pouco mais agradável. "Vou andando antes que chegue atrasada à aula."
"E o pequeno almoço?"
"Como pelo caminho."
***
Deito a garrafa do iogurte líquido no caixote do lixo à frente do portão da Universidade e sinto que este vai ser um longo dia. Mal piso o chão desta enorme escola começam os comentários irritantes. Será que estas pessoas não têm vida própria?
"Repara só na gótica, vê-me aquelas unhas pretas, tudo escuro."
Habitual.
"Achas que essa doença se pega?" Certo, doença.
As pessoas acham sempre que só por alguém não andar com cores berrantes e enfeitada que nem uma árvore de Natal como se fosse Carnaval e a fazer homenagem às cores do arco-íris já é gótica.
"Oh querida, repara bem, pintaste os olhos com lápis preto, esse olhar gótico... Oh, e repara nos teus sapatos de salto alto de diva, também são pretos! Que bonito calçado gótico, tenho a certeza que tens um grupo gótico secreto, hum, daqueles que se reunem todas as semanas num cemitério." Os meus pés mexem-se até ao grupo das três raparigas e faço a minha cara dramática o melhor possível, não consigo evitar, 'sarcasmo' é o meu nome do meio. "E bem, a tua amiga tem cabelo preto." Viro-me para a rapariga da ponta. "Tens um cabelo gótico lindo." Eu finjo uma enorme preocupação. "Ridículas!" Olho-as com desprezo uma última vez, antes de as voltar a ignorar e ir para a minha sala.
Ao passar pelos corredores, leio um aviso do nosso professor de Desenho que informa todos os alunos que estão na sua disciplina que hoje a aula não seria na nossa sala do costume mas sim no auditório. Isto deixa-me ligeiramente curiosa, o que é que será que ele quer falar connosco? Será que se vai reformar? Quer dizer, isso não é possível porque ele ainda é novo e agradeço mentalmente por isso, porque ele é, com toda a certeza, um dos professores mais simpáticos que cá andam.
Rapidamente os meus pensamentos são afastados para outras pessoas. Ou muito me engano, ou aqueles três palitos já devem estar a retocar a maquilhagem, a trocar de sapatos e a marcar uma descoloração na cabeleireira. Pelas caras delas, eu acho mesmo que acreditaram que estavam a virar góticas. Falhadas.
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Frozen Heart // ashton irwin
Fanfiction« Doeu, mas eu aprendi algo novo: não confiar demais, não dar muito amor e estar ciente de que haverá sempre uma mentira. »