Capítulo 11 - Sou patéti-

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{Boa leitura. ♡ Se gostarem de ouvir músicas enquanto estão a ler, sugiro a Never Say Never dos The Fray.}

Os meus olhos começaram a abrir-se lentamente, quando comecei a sentir alguém a mexer nos meus cabelos. Olhei pelo canto do olho para Niall e este encontrava-se completamente distraído, enquanto passava as suas mãos pelos meus caracóis. O seu toque era delicado, muito delicado. Os meus caracóis escorregavam entre os seus dedos e ele observava atentamente, com um sorriso no rosto. Pergunto-me o que estaria ele a pensar.

O meu corpo mexeu-se um pouco, o que fez com que Niall desviasse os seus olhos até aos meus.

'' Oh, já estás acordada. '' Surpresa e vergonha eram notadas na sua voz. Rapidamente largou os meus cabelos e as suas bochechas ganharam um tom rosado.

'' Não. Continua. '' Apenas me apercebi do que acabara de dizer quando Niall sorriu e voltou a colocar as mãos nos meus cabelos.

Uns segundos depois, retirou as suas mãos, de novo, e eu choraminguei mentalmente. Deitou-se de barriga para cima, provavelmente sentindo-se mais confortável assim. Murmurou para me deitar no seu peito e assim o fiz. Os seus dedos voltaram a tomar lugar no meio dos meus caracóis e os meus olhos fecharam-se. O seu toque era afetuoso, muito afetuoso.

'' Podia ficar assim para sempre. '' Deixou escapar pelos seus lábios rosados, num pequeno murmúrio. As suas mãos retiraram alguns dos cabelos que tinham caído para cima do meu rosto.

'' Também eu. '' Acabei por confessar, num voz tão baixa que tenho quase a certeza que ele não me ouviu. E ainda bem.

*

O loirinho ainda não havia chegado do banho e eu encontrava-me deitada na minha cama, a olhar o teto branco, a pensar em nada - se isso for possível.

'' Mas será que os 10 anos nunca mais passam? '' Perguntei-me mentalmente, tal como faço todos os dias desde que vim aqui parar.

As chaves chocaram contra as grades, fazendo o mesmo barulho irritante de sempre. O meu tronco levantou-se um pouco da cama e observei o rapaz com os olhos azuis céu, que eu tanto gosto, a entrar pela porta. O fato laranja parece assentar-lhe melhor do que me lembro e os seus cabelos loiros encontravam-se totalmente despenteados. Melanie, que, anteriormente, se encontrava em frente à porta, já tinha ido embora. Niall caminhou até mim e sentou-se na ponta da minha cama.

'' Hoje vais sair? '' A sua voz estava mais rouca que o normal.

Assenti com a cabeça, vendo um sorriso aparecer no rosto do meu companheiro de cela.

'' Tu não secas o cabelo? '' Acabei por perguntar, deixando escapar uma pequena gargalhada.

'' Para quê? Ele seca sozinho. '' Respondeu, soltando uma gargalhada também.

'' Depois molhas a almofada toda. '' Declarei.

'' Oh, ela seca também. '' Concluiu, soltando algumas gargalhadas de novo.

Tenho de admitir, não me importo nada que ele não seque o cabelo. Niall fica, simplesmente, lindo com o cabelo molhado. Os meus pensamentos viajaram para o primeiro dia que ele passou aqui e lembrei-me do nosso pequeno '' jogo '' das perguntas. De que será que o acusaram para ele ter vindo parar à prisão?

'' Nunca chegaste a contar-me. ''

Uma expressão confusa apareceu no seu rosto. '' O quê? '' Questionou.

'' Nunca chegaste a contar-me de que te acusaram. '' Esclareci.

'' Oh. '' Soltou um suspiro. O seu corpo endireitou-se na minha cama, colocando-se numa posição mais confortável. '' Bem, acusaram-me de roubar uma bomba de gasolina. ''

'' O quê? Porquê? E condenaram-te a perpétua por causa disso? '' Bombardeei-o com perguntas. Mais algumas perguntas circulavam na minha mente, mas não queria chateá-lo.

'' É uma longa história... '' Começou.

'' Tenho tempo. '' Interrompi-o. '' Muito tempo, na verdade. '' Completei. Tenho a certeza que, independentemente do que Niall fez, eu não vou deixar de gostar dele. Ele é um bom amigo.

Os seus olhos fecharam-se e um suspiro escapou pelos seus lábios rosados. Uns segundos depois, tive a chance de voltar a ver o azul que tanto gosto.

'' Eu estava a passar de carro pela tal... '' Começou.

'' Tens a carta? '' Curiosidade era notada na minha voz. O loirinho olhou-me com uma expressão de desaprovação, mas sempre com aquele ar de brincalhão. '' Desculpa, eu não te interrompo mais. ''

Ambos rimos.

'' Como eu estava a dizer... Eu estava a passar de carro pela tal bomba de gasolina e ouvi um barulho estranho. Parei o carro e saí, caminhando até à entrada, sorrateiramente. Espreitei pela janela e vi a caixa completamente vazia. Três pessoas estavam no chão. '' Fez uma pausa. Os seus olhos começavam a ficar molhados. '' Mortas. Uma criança e dois adultos. Um deles era o empregado da bomba, provavelmente. Quando dou por mim, o verdadeiro culpado tinha deixado uma arma nas minhas mãos e estava já dentro do meu carro, preparado para fugir. Fiquei paralisado a olhar para a arma e, pouco tempo depois, as sirenes da polícia começaram a ser ouvidas. Eu queria correr. Queria correr dali para fora. Queria fugir. Mas os meus pés não se mexiam. E pronto. O resto já deves ter percebido. ''

Um tom avermelhado tomou lugar nos olhos de Niall e uma lágrima ameaçava escorrer pelo seu rosto.

Involuntariamente, o meu corpo curvou-se e os meus braços rodearam o tronco deste rapaz que se encontrava à minha frente. Nunca fui uma pessoa de mostrar afeto. Nunca gostei de demonstrações de carinho. Beijos, abraços, ou até mesmo apenas trocas de olhares. Nunca. Nem mesmo antes de ser presa. Mas este rapaz de cabelos loiros sempre despentados faz com que o meu coração bata mais depressa. Faz com que eu sinta coisas que nunca senti antes. Os seus braços contornaram a minha cintura e a sua cabeça descansou no meu ombro. Uns segundos passaram-se e eu senti o meu fato laranja ficar um pouco molhado. Afastei um pouco o meu corpo do de Niall e segurei o seu rosto entre as minhas mãos, limpando a área do seu rosto que se encontrava molhada.

'' A minha mãe disse que eu já não era filho dela... '' Fechou os olhos por uns segundos, deixando escapar mais uma lágrima que eu, logo, limpei. Abanei a cabeça negativamente, tentando impedi-lo de falar mais deste assunto. '' A minha irmã perguntou-me quando é que eu voltava... ''

Um '' Shh... '' escapou pelos meus lábios, mas Niall negou e continuou.

'' Eu respondi que voltava em breve... '' Preoupação dominava os meus olhos. Um riso irónico caiu nos seus lábios. '' Quão ridículo isso é? ''

Continuava a abanar a cabeça negativamente. Não devia ter perguntado, porra.

'' Dei-lhe um urso de peluche e disse-lhe que, quando tivesse saudades minhas, abraçasse o urso... '' O mesmo som irónico de à bocado voltou a sair pelos seus lábios. '' Sou patéti- ''

Aproximei-me, fazendo com que os nossos lábios chocassem e, assim, Niall se calasse. Os seus olhos arregalaram-se ao sentir os meus lábios nos seus. Acho que os meus próprios olhos estavam um pouco arregalados também. Não sei o que me deu. Não sei o que se passa comigo. Não sei o que estou a fazer. Não sei porque é que Niall acabou de fechar os olhos. Não sei porque é que acabei de fechar os olhos também. Não sei porque é que pus uma mão no seu pescoço. Não sei porque é que ele pôs uma mão no meu pescoço também. Não sei porque ainda não parei este beijo. Não sei porque é que estou a gostar. Basicamente, não sei nada. Os nossos lábios moviam-se de uma forma desajeitada e trapalhona mas, de certa forma, havia uma certa magia nisso. Arrepios eram enviados para todo o meu corpo e o meu subsconciente comia pipocas na primeira fila. A mão livre de Niall moveu-se para a minha cintura, fazendo com que os nossos corpos se aproximassem mais um pouco. Preciso de parar este beijo. Preciso de parar de pensar nele. Preciso de pôr o meu plano em prática para ele ir para outra cela. Niall está a tornar-se uma peça indispensável no pequeno puzzle que é a minha vida. E em tão pouco tempo. Não posso deixar que isso aconteça.

PRISON // niall horanOnde histórias criam vida. Descubra agora