Tudo escuro ... de relance, quadrados que passavam imagens. Conforme fui andando, fui reconhecendo as imagens que passavam. Vi dois meninos de quatro anos correndo pela vila Troll, um de pele laranja e cabelo vermelho e o outro de pele lilás e cabelo amarelo. Doeu o meu peito ver aquilo, olhei para as minhas mãos cinza:
— Saudade ... até da sua cara-de-pau, Kori!!
Senti as lágrimas vindo, as engoli, menino não chora, ainda mais eu que tenho dezesseis anos! Continuei andando, foi quando vi imagens que não queria ver! O menino laranja e vermelho, agora com cinco anos, andava pelo bosque com uma menina de quatro, tinha o cabelo rosa-pink e pele amarela. "Não" pensei:
— Onde tá indo, Tony?
— Ella, me deixa um pouco!!
— Não! Gosto de flores, e aqui tem muitas!
Saí correndo, passando por varias imagens. Parei numa onde o mesmo menino estava aos prantos, escondido debaixo duma raiz de árvore, a Cheff não muito longe dele, que disse:
— Temos que nos estabelecer direito, controlar esses berguens que ainda acham que podem ser felizes sem comerem trolls.
— Querida, e os patifes que foram para a zona norte da floresta? — disse Creek
— Se não voltarem, daqui a sete anos, quando estarmos com tudo de tudos sob controle, vamos atrás daqueles f***** da p***!! Quero comê-los eu mesma!!
Andando de ré, caí de costas. Uma lembrança fria, sim, tudo aquilo de ruim até agora foram lembranças, voltou à tona! Um menino de apenas nove anos, debaixo de um toró com o cabelo como único jeito de não ficar encharcado. Era cinza, estava triste e assustado, tremia, logo mudou para a posição fetal, começando a chorar:
— Não ... ME DEIXA EM PAZ!!
Varias outras memórias. O menino caía de árvores altas, se cortava com galhos, tudo com a luva verde sem dedos na mão esquerda. Olhei para ela, senti as malditas lágrimas nos olhos:
— Não chora, não chora, não chora, não chora, n-não chora, nã-o ch-ora ...!!!
Ouvi a voz do menino chamar os pais. Por mais que eu tentasse me controlar, ser sangue frio como sempre conseguia, chorei. Tentava parar, mas meus olhos não me obedeciam. Senti a maldita sensação de estar sozinho, abandonado e que ninguém me amava. Quis gritar, mas ele ficou na minha garganta. E, aquela vontade ... a vontade que eu tinha faz anos e tentava superar de qualquer forma possível, ela voltou:
— EU QUERO MORRER!!!
O menino encarava de longe um grupo de crianças, varias imagens da cena, mas as atividades que o grupo fazia eram diferentes... e em épocas diferentes. As crianças sorriam largamente, brincavam juntas, corriam, dançavam, cantavam, e o menino só olhando de longe. Um quadrado veio flutuando até mim, onde o menino se afastava, agora com doze anos, um garoto roxo vibrante gritou:
— Como pode fazer isso!?! Não é atoa que ninguém aqui gosta de você!!
Tinham duas poças d'água dos meus lados, o meu peito doía. Aquele desejo horrível era, agora, tudo que meus ouvidos conseguiam captar. Um frio cortante me envolvia. Repetia mentalmente, depois falava:
– Se não me verem, não se machucam. Se não me conhecerem, não estarão de luto!
Repeti varias vezes essa frase. Uma última imagem passou na minha frente, e a que partia o meu coração em dois! O menino de nove anos, perdendo as cores vibrantes que tinha, aos prantos, falei a frase com ele:
— Por minha voz, a minha voz aguda, eles não estão mais aqui!! Eu sou um monstro!!
Fechei, no pesadelo, os olhos com força. Eu tinha tanta, TANTA inveja da turma do arco-íris!! Por eles conseguirem se divertir e cantar!! Por estarem de bem com a vida! Por não carregarem culpa nas costas e lamentarem terem sido inúteis quando quem amavam estava em perigo ... queria ter uma faca por perto naquela hora para me matar de uma vez por todas!!
Mas ... senti um calor gostoso no minha bochecha, que aqueceu todo o meu corpo. Uma brisa morna bem fraquinha bateu no meu rosto. Uma voz doce e calma começou a cantar. Cada músculo do meu corpo relaxou. O desespero se foi, finalmente consegui entender a canção:Eu te vejo meio de longe
E não acredito em meus olhos
Bonito, louco e valente
Com o passar dos anos
Eu sei mais e tenho mais certeza ...Seu jeito está me infectando aos poucos ...
O que posso fazer?
Eu começo enlouquecer ...
O que será de mim?!Você me deixa maluca!
Maluca da vida ...
Completamente louca!
Louca de pedra!Consegui sorrir ... que falta isso me fazia, sorrir verdadeiramente:
Fico sonhando acordada
Pensando no nome dos nossos filhos
Eu sei, estou adiantando as coisas!
Então quando vamos nos casar?Você me deixa maluca!
Maluca da vida ...
Completamente louca!
Louca de pedra!Na maioria das vezes não te entendo
E gosto de decifrar
Esses enigmas sem fim ...
Que rondam a tua cabeça.Você me deixa maluca!
Maluca da vida ...
Completamente louca!
Louca de pedra!Abri um pouco os olhos, querendo saber de onde vinha aquela voz de anjo. Alguém fazia cafuné em mim, suspirei, não deixaria ninguém saber, mas não resisto à cafuné. Pela primeira vez em anos, baixei minha guarda. Vi a silhueta duma menina de cabelo azul-Royale e pele anil, que achei muito bonita. Abri meus olhos de vês, levei tamanho susto que quase infartei!! Estava eu, com a cabeça deitada no colo de dona Anny, ela acariciando meu cabelo, cantando para mim uma música melosa e eu com uma porcaria de cara de tonto e demonstrando que gostava de carinho!! Me separei na hora! Ela se assustou:
— O que foi?
— O que pensa que estava fazendo!!!?!?
— Te acalmando.
Levantei uma sobrancelha:
— VOCÊ estava ME acalmando?!!
— Sim, você estava se debatendo ...
— Como?!
— Estava se debatendo, tremendo de frio e falando enquanto dormia, e achei que precisava de ... carinho.
— Achou errado! Não preciso desse melodrama!!
— Pode não precisar, mas gostar ...
Se virou e deitou. Eu fiquei nervoso, o que será que eu disse enquanto dormia!?! Eu realmente repeti tudo que disse no pesadelo ... enquanto dormia!?! Será que a minha língua estava tão descontrolada que revelou quem eu realmente gosto!?! Ela descobriu o meu segredo!!!?!! Minha cabeça estava a mil por hora, mas tudo que consegui perguntar foi:
— Que música era aquela?
— Aquela qual? Eu canto bastante, Cinzento.
— A que ... você cantou agora de pouco?
— Ah ... uma que estou escrevendo para o meu arroba. Foi a primeira que veio na minha cabeça, e você parecia realmente mal para eu conseguir pensar em outra.
Corei, ela realmente cantou a música que estava fazendo para o Crush dela ... para mim?
— E ... ele parece gostar de você também?
— Nem de longe!! Ele não dá a mínima para mim!
— Te entendo ...
Se virou na "cama" para olhar para mim:
— VOCÊ também gosta de alguém?
Desviei o olhar, senti minhas bochechas arderem:
— S-sim ... mas do mesmo jeito que você, ela nunca sentiria o mesmo ... afinal, ela é doce, gentil, carinhosa e eu sou frio e osso duro ...
Anny segurou uma risada:
— O QUE FOI, ESTRUPÍCIO!!?!!
— Osso duro? Você? Hahahaha ...
— Sou mesmo, eu ...
Com a velocidade duma flecha, correu até mim e fez cafuné, acariciando minhas bochechas:
— Certeza que o é osso duro?
— Sim ... ah ...
Como ela não parava, ficava cada vez mais difícil me controlar. Tinha um olhar tão sereno e alegre, que concentrei todas as minhas energias em não sorrir junto. O pior foi quando começou a cantar:Como é bom saber
Que você está aqui comigo ...
Juntinho de mim!Saber que a gente tem
Uma amiga, um amigo
Sempre ... bem perto assim.A gente sente o coração
Mais quentinho
E fica feliz
Feito um passarinho
Saber que a gente pode se ver ...
He-he-he!Não aguentei e sorri, ela aumentou o que já tinha:
— Aleijou?
— Sim!
— Haha! Tonto, gostar de atenção de vez em quando não é fraqueza, mas de qualquer jeito, não conto pra ninguém. E mais uma coisinha, o seu sorriso é muito bonito.
Voltou para a "cama" e dormiu abraçada com aquela coelhinha dela. Por mais que não goste de admitir, a cena era fofa. Deitei para dormir novamente, e pelo resto da noite, não tive mais pesadelos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Trolls: novos corações
FanfictionEra a segunda Troll-e- bração, nosso casal lindo e maravilhoso estava unido e feliz - novidade -, mas ... algo aconteceu, e uma troll chamada Anny pode resolver. Com um sorriso no rosto e seu coração na bochecha, nada pode dar errado! Nem tornar Cin...