Noite imprevista, com acontecimentos imprevistos!

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     Durante o resto do dia, guiei ele pelo abismo, quase sempre em silêncio. Descobri que o nome da menina era María. Acabou pegando no sono no meu colo, me fazendo diminuir o ritmo, afinal, também estava ficando cansada. Quando achamos um lugar bom para acampar, já era pôr do Sol, nos obrigando a parar:
— Despierta ...
     Ela abriu os olhos lentamente. Vi que tinha um laguinho ali perto, do qual levei María para nos divertirmos juntos ... mas Cinzento se negava:
— Não, caramba!!
— Vai ...
— Não!
— Exato!
— Exato o que?!
— Não ... era uma pergunta!!
     Empurrei ele para dentro e pulei, estava na temperatura perfeita! Mas alguém não ficou nada feliz com o banho forçado:
— Chata ... — resmungou
— Não me obrigue a arrancar um sorriso de você!
— Duvido ...
     Sussurrei uma coisa no ouvido de María, depois ...
— ............. Cinzento .......... GUERRA D'ÁGUA!!!!!
     Espirramos o mundo de água nele, logo ouvi risadas masculinas:
— Te disse!!
— Sofrerá a força da minha ira!!
     Entrou na brincadeira também. Ficamos cinco minutos assim até me cansar e deixar ele me jogar um tsunami. Mergulhei fundo, quando voltei para a superfície, senti uma brisa morna estranhamente fraca, limpei a água dos olhos e levei um susto! O meu nariz quase encostava no do Cinzento, que me olhava nos olhos assustado. Ficamos um minuto assim, me distanciei de um golpe só:
— Foi mal, não vi que estava aí!
     Saí da água, torci meu cabelo encharcado, e foi então que percebi o quão estúpida fui! Entrei no lago com a roupa que estava usando. Só ficaria seca no dia seguinte! Olhei ao redor, flores vermelhas e grama alta. Arranquei algumas gramas e varias flores. Ser amiga próxima da Kãna tem suas vantagens, como saber fazer mudas de roupa com coisas assim - ela acha que, um dia, o tecido se revoltaria por ser usado daquela maneira algum dia -.
     Fiz um vestido para mim e um para a María, já que era o mais simples, mas se pudesse fazer blusa e bermuda, o faria. Não gosto de usar vestidos, sempre que uso, me acho esquisita, e não me agradava nada a ideia de minha autoestima - que não era nem de longe alta - estar baixa perto do Cinzento. Fiz o mais simples, liso e neutro que conseguia para mim e um lindo para a María, ela sim ficaria fofa.
     Por falar nela, quinze minutos depois de eu ter começado, voltou correndo e encharcada, um sorriso lindo nos lábios. Senti uma pontada de inveja. Mostrei a peça, ela adorou, peguei sua mão e quando começamos a nos afastar:
— Onde vão?
     O fuzilei com o olhar:
— Podemos nos trocar!?
     Aumentei o passo, ajudei María, para não piorar seus arranhões. Com desgosto, coloquei o vestido. Agradeci a Deus por não ter um espelho por perto, com certeza arrancaria aquilo do corpo só de bater o olho no meu reflexo como sempre fazia! Voltei cabisbaixa para o acampamento com María do lado, esperando o primeiro xingo de Cinzento, mas não ouvi nada:
— Pode me xingar, sei que não fico bem de vestido!
     Nada de novo, estranhei:
— Entendi, ficou tão ruim, que não tem xingo que descreva, certo?
     O silêncio me respondeu. Olhei para cima e não sabia se ria ou me desesperava ou se ficava morrendo de vergonha! Ele tinha a boca semiaberta, os olhos brilhavam e suas bochechas cinzentas com um tom levemente avermelhado, mal piscava:
— Anny ... você está ... — voltou a si — não exagera, nem está no ridículo normal!
     Já sentiu uma vontade deseperadora de chorar, enfiar a sua cabeça no buraco, gritar, sorrir e corar como um tomate, tudo ao mesmo tempo!!!?!? Era exatamente assim que me senti! Chorar por ele ter me visto "fraca", enfiar a cabeça no buraco por ter meus ataques de baixa autoestima daquele jeito, gritar por estar naquele abismo, sorrir pelo quase-elogio que me deu e ficar vermelha como um tomate pelo jeito que me olhou. No final fiquei neutra, percebi que ele estava tentando fazer alguma coisa com pétalas e grama:
— O que está tentando fazer?
— Como que você conseguiu fazer algo tão lindo com mato!?!
Dessa vez, não consegui esconder minhas bochechas rosadas, que por eu ser azul, se notavam muito. Era minha mal-interpretação ou ele, de maneira indireta, disse que eu estava ... linda? Não intendeu a minha reação, pareceu revisar a frase mentalmente e corou levemente:
— Quero dizer ... como você fez roupa com mato!?
— D-deixa que eu resolvo isso e ... você pode pegar a água, por favor?
     Fez o que eu pedi. Dei o meu melhor para que tivesse algo seco para vestir. Depois, quando ele foi se trocar, fiz uma fogueira. Fomos nós dois pegar algo macio para servir de camas, e conseguimos. Sentamos ao redor da fogueira, onde colocamos nossas roupas para secarem. María tinha uma mancha de sumo vermelho ao redor da boca pelo "jantar", eu comia distraída meus morangos enquanto pensava na letra da música que estava compondo, Cinzento ... bom ... comia! Coloquei María para dormir logo em seguida, cantando uma canção mega especial para mim:

Hoy el cielo hace fiesta
Pues tenemos una nueva luna
Y si tienes dudas, ya lo digo ...
Esa luna eres tú.

Cante para mi, hija mía
Sonríe por el siempre, cariño
No dejes que lo obscuro
Te quites los buenos sueños

     Ela adorou, pediu para eu cantar umas quatro vezes mais. Quando finalmente estava quase dormindo:
Gracias por cuidarme, y su novio es guapo.
     Senti um soco no estômago:
— ¡El no es ni mi amigo!
— Pero el te miro raro cuando lastimaste la cabeza, y no fue lo que vi hasta ahora ...
     Acabou dormindo. Traduzindo e resumindo: ela agradeceu pela ajuda e disse que Cinzento, o meu "namorado" é bonito! De tão distraída que estava com meus pensamentos, tropecei em alguma coisa e caí encima de algo macio:
— Anny ... SAI DE CIMA DE MIM!!!?!?
     Obedeci, deitei na minha "cama", olhando para o céu estrelado. Continuava sendo a coisa mais linda que já tinha visto:
— O que encarando!?
— O céu, continua lindo ...
— Ele sempre esteve aqui, tonta! Qual a novidade!?
— A novidade é que ele não mudou desde a última vez que ... parei para olhar, e que por coincidência ... foi a última vez que cantei aquela canção ...
     Sorri abobada:
— Tudo por causa de uma música idiota!?
     O fitei, séria:
— Não é uma música idiota! É a canção de ninar que a minha mãe cantava pra mim, boa noite!
     Deitei, fechei meus olhos, me rendendo ao cansaço.

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