Capítulo Único

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Com o sono a querer chamar-me de volta para a cama, mas a música alta vinda da sala, a decisão estava feita por mim. Não importa quanto tempo passasse, sempre que o via na sala com aqueles alongamentos de ioga e roupas justas, concluía que jamais na minha vida, eu poderia ter sido heterossexual. Não quando o teu melhor amigo está sempre a colocar imagens na tua cabeça e logo para começar o dia.

- Que horas são? Não horas para lidar com isto com certeza.

- Nove e meia. - Respondeu, tocando a ponta dos pés com os dedos das mãos e sorriu de soslaio para mim. - Estou a inspirar-te de manhã? Pensava que tinhas batido todas ontem à noite.

- Eu não gosto de baixinhos.

- Eu não gosto de loiros. - Relembrou o meu amigo, continuando com os exercícios. - Mas avaliando pela noite anterior, acho que deverias seguir o meu conselho e deixar que te dê uma mãozinha.

- Uma mãozinha? - Arqueei uma sobrancelha e ele endireitou-se para olhar para mim.

- A falar com o Bertholdt, idiota. - Fez um ar de nojo. - Já disse que não toco em loiros. Além disso, eu agora sou um homem comprometido.

- Com as piores frases de conquista de sempre. - Falei, abanando a cabeça e indo até ao frigorífico, visto que a sala e a cozinha partilhavam o pequeno espaço do nosso apartamento.

- Tch, o que importa é que funcionou. - Relembrou.

Até hoje não entendo como chegar perto de alguém e dizer coisas como: "Join the dark side, we have men (Junta-te ao lado obscuro, nós temos homens)" pode atuar como uma frase de conquista, mas foi exatamente isso que o Levi disse ao Eren. Eu continuo a dizer que o namorado dele não pode ser normal, mas enfim considerar o meu melhor amigo normal também não é adequado. Apesar de que nos conhecemos desde pequenos depois de a mãe dele ter vindo cumprimentar a nossa família assim que se mudou para a casa do lado, as primeiras palavras do Levi foram: "Mãe, eu não vou ser amigo dele para fazeres mais piadas com o meu tamanho". Sim, essa foi a primeira frase dele, seguida de um sorriso forçado da mãe dele que bateu não tão discretamente no filho. É verdade que ela fazia piadas, mas acho que tanto eu como ele aprendemos a ter medo da mãe dele. Aqueles olhares homicidas até hoje fazem com que não recusasse comer nada quando vou visitá-la, mesmo que a Kuchel seja uma cozinheira terrível. Não entendo como é que o Levi consegue ser tão diferente nesse aspeto, mas agradeço todos os dias por isso. Eu não sou grande coisa nesse departamento por isso, dependo dele para refeições decentes. Ele diz que aprendeu a cozinhar para não morrer com os cozinhados da mãe e eu sou o primeiro a apoiar a ideia.

- Eu tenho medo do que lhe possas dizer.

- Eu tenho aula com ele agora de manhã. Tens a certeza que não queres que passe alguma mensagem tua? - Perguntou Levi. - E se o chamar para almoçarmos os quatro juntos? Alinhas?

- Pode ser uma boa ideia... - Admiti. - Desde de que tu e o Eren não se comecem a devorar na nossa frente.

- Prometo que eu e o moreno delícia não fazemos nada à vossa frente.

- Levi, eu já vi partes do Eren que não queria ter visto aqui nesta sala. - Relembrei e o sorriso divertido dele aumentou.

- Isso aconteceu por não leres as mensagens antes de voltar ao apartamento. Agora já aprendeste a lição. - Desligou a televisão e foi até ao frigorífico retirar uma garrafa de água para beber. - Vou tomar um duche rápido antes da aula. Vou-lhe dizer que vens almoçar comigo e com o Eren. Não chegues tarde.

- Certo, certo. - Falei, vendo que ele saía na direção da casa de banho e antes de entrar. - Levi?

- Sim? - Olhou para mim.

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