Capítulo 5

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Ele não fala nada depois que eu paro de vomitar. Também não esboça nenhuma reação.

— Por que... — Minha garganta está arranhada, mas eu me forço a perguntar. — Por que fizeram isso? Quem fez isso?

— Seus soldados fizeram isso, majestade. E o motivo? Bem, alguns deles foram insolentes, outros ganharam nas cartas contra eles, e outros simplesmente reivindicaram um pouco mais da comida que produziram para passar o inverno.

Sinto minhas entranhas se contorcerem novamente. Não só pelos mortos a minha frente, mas pela raiva e ódio que emanam do rapaz ao meu lado.

Eu sou uma péssima governante, cercada por porcos mentirosos que levaram meu reino ao abismo. A guerra, a fome, a miséria, e agora junto à minha lista, traidores desgraçados. O terror que eu sentia há pouco dá lugar a alguma coisa nova, mais letal, mais forte. Ódio.

Ódio puro e incontrolável. Ódio daqueles porcos que se sentam no meu palácio, me manipulando e matando meu povo. O povo que eu jurei defender e proteger. Eles estão destruindo meu reino, o reino que eu jurei que faria prosperar.

Só me dou conta de que deixei meus poderes fugirem do controle quando vejo o relâmpago atingindo a forca, que instantaneamente começa a queimar. O rapaz ao meu lado tenciona os braços e inspira um longo gole de ar antes de se virar para mim.

— Não vou mais te manter como prisioneira, majestade. Se quiser voltar para sua vida feliz, pode voltar.

— O quê? — pergunto, sem entender as palavras completamente.

— Eu não irei mais te prender. Ver que você não passa de uma marionete nas mãos daqueles nobres prova que não gastarão muito para tê-la de volta.

A frase me acerta como um soco no estômago, não pelo tom, mas pela pura verdade ali. Ele se vira e caminha para longe.

— Não pode me deixar aqui! — grito, sem me importar em parecer uma criança mimada.

Ele gira a cabeça para me olhar.

— Quer apostar?

Ele volta a se afastar. Eu ainda sou a responsável por este reino. Se for mais útil fora dos palácios, que assim seja.

— Quero propor um acordo — grito novamente. E isso o faz parar.

Ele parece ser um bom lutador e com certeza conhece melhor as estradas e técnicas de sobrevivência do que eu. Ele é útil. Ele me manteve viva e pode continuar fazendo isso até que eu faça o que tenho que fazer.

— Que tipo de acordo?

Ando até ficar perto dele, para que nenhum estranho escute a conversa.

— Posso te dar o tanto de riquezas que quiser: ouro, joias, terras, um título... Posso te dar seu peso em ouro.

— E por que isso?

— Você tem razão sobre eu ser um fantoche. Meus conselheiros mentiram para mim sobre absolutamente tudo, mas viu o que meus poderes podem fazer. Sei que sabe lutar e que consegue viajar pelo reino, eu preciso que me leve a Numida para eu acabar com esta guerra.

Ele solta uma gargalhada.

— Perdeu o pouco de juízo que tinha? Por qual razão no mundo você quer ir até Numida?

— Eu ainda sou a guardiã deste reino, eu jurei protegê-lo e fazê-lo crescer. Se para conseguir fazer isso, eu preciso enfrentar os Selvagens, eu vou fazer. Com a sua ajuda, talvez eu não me mate no processo e chegue mais rápido.

Crônicas dos Descendentes: A Guardiã (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora