After you

Memórias de sofrimento

"Mãe? Mãe cadê você?"
Me lembro que tudo estava escuro, eu estava parada na frente da escada do porão, estava preocupada porque havia ouvido gritos de lá.
"Pai? Você tá aí com a mamãe?"
Outro grito, dessa vez era com uma voz masculina. Um grito de dor, agonia e sofrimento.
"Mamãe, papai eu tô com medo. Cadê vocês?"
"Tan dan dan dan, shh, fica calma garotinha, a mamãe e o papai foram tirar um cochilo tá bem? Você quer tirar um cochilo com eles princesa?"
Era um homem alto e grande, ele estava com o nosso taco de golfe na mão e tinha uma coisa gosmenta na ponta dele.
"Quem é você moço? Cadê a mamãe e o papai?"
"Calminha menininha, já te disse que a mamãe e o papai foram dormir."
"Moço eu vou ligar pra minha vovó."
"Quietinha, você não vai ligar pra ninguém, por que você não vai a lugar nenhum."

Ouvi passos vindo em nossa direção, de repente o homem me jogou no chão e saiu andando.
Senti outras mãos em mim, dessa vez diferentes. O objetivo desse homem não era me matar, o objetivo dele era outro, e infelizmente eu sabia qual era.
Ele ia me estuprar.
Ali, bem ali naquele prédio que eu morei por toda a minha vida, desde o Acidente Do Buraco 18.
Nada na vida é como a gente espera, eu sempre soube disso, desde os meus 11 anos de idade.

Ele não tirou a venda dos meus olhos em momento algum.
Tudo aconteceu muito rápido. Eu não tive reação nenhuma. Apenas aguentei, tentei não chorar, não mostrar nenhum sentimento, mas aquilo doía.
Eu mostrei sentir dor sim, e quando ameaçava chorar, ele fazia com mais força.
Até que acabou.
Mas não acabou em mim, ou seja, menos chances de levar aquilo pra sempre na forma de uma criança.
Depois que ele foi embora eu fiquei lá. Sem saber o que fazer, por, no mínimo duas horas. Sentia o sangue, os arranhões, sentia que estava nua ali, para qualquer um que passasse.
Mas ninguém passou.

Até que, finalmente eu ouvi alguém gritar. Um homem, que logo veio até mim, tirou a venda e me cobriu. Eu não me lembro de nada, pois assim que a venda descobriu meus olhos, eu desmaiei.