ANA
- Então, amanhã você vai levar o resto das suas coisas, né? – pergunta ela com um ar triste, mas que também tem um "q" de magoa e até mesmo raiva.
- Não precisa ficar lembrando, Vitória. Já tá sendo complicado o suficiente! – admito.
E é verdade! A dor que sinto por ter que começar essa nova fase me invade de forma dura. Sinto meu coração ser prensado. Até imagino a cena dele sendo arrancado do meu peito e destroçado nas mãos de Vitória.
Sempre soube que isso ia acontecer um dia, mas não queria que esse dia chegasse. Foi uma decisão de ambas, confesso. Mas teve influência do meu namoro, das discussões por conta dos meus atrasos pra chegar em compromissos, e também minha dispersão nas músicas.
Há meses que venho ficando cada vez mais distante de Vitória, da nossa... da casa dela. É pesado admitir isso, mas preciso começar de agora, pois é a realidade. Vitória agora mora sozinha e eu moro no Rio.
Tentamos não nos abalar tanto, manter as brincadeiras e piadas, mas tá obvio, faz mais de um ano que as coisas não são nem parecidas com o que já foram um dia.
Nossa vida, amizade, amor, carreira foi construída por ciclos, fases, e infelizmente uma das que eu mais temi chegou.
- Melhor você ir agora, ou vai acabar perdendo o voo. – ela diz e sei, sinto. Não cabe mais um "nós" aqui.
- Olha, sinto muito por tudo isso, mas não tem que ser assim. Pode ser mais leve, mais fácil. Vamo tentar lidar melhor com isso, Vi? – ela nada diz, só me olha com olhos cheios de lágrimas congeladas que lutam pra não cair de seus olhos tão lindos – Não quero fugir, quero permanecer contigo. Sei que não vai ser como antes, mas ainda vai ser Ana e Vitória.
- Não idealize um sonho, Ana. Por que tá longe disso! Talvez o sonho tenha acontecido lá atrás, mas agora tá longe disso. Muito longe... – Ok, lá se vai uma lágrima. Força, Ana!
- Vamo tomar isso como aprendizado, eternizar na memória. Foram anos lindos aqui, construímos um monte de coisas, Vi. Tem que ficar alguma coisa positiva disso tudo. Por favor. – suspiro alto, enquanto a encaro, mas sei que dói.
Uma vez minha avó disse que a dor da partida é mais sentida por quem fica. Pois é com quem fica que as memórias mais fortes se fixam. É com quem fica que as lembranças insistem em assombrar a mente.
- Só vai, por favor. Se tiver ficado alguma coisa sua, depois cê vem buscar. Ou deixa aí mesmo, apesar de tu tá indo, pode voltar quando quiser. A casa vai continuar sendo sua. – falou soltando um riso fraco.
- Ah, Vi. Não faz isso comigo, por favor... – não consigo mais, é inevitável não chorar.
- Não, Ana. Não tô fazendo nada, sério. Se quiser eu vou contigo, te ajudo com tuas coisas, a arrumar o lugar de cada movelzinho. A afastar os armários e a mesa. Sei que tu não tem força pra fazer isso sozinha. – mais um sorriso e mais um caco do meu coração vem a cair do meu peito - Te desejo muita felicidade nessa nova estação da tua vida, plincesa. Sério!
[...]
VITÓRIA
Eu não quero, nunca quis, passar noites em claro, sofrendo, remoendo sentimentos que nunca pedi pra sentir. Sofri por meses que mais pareceram anos, mas como tudo passa, era a hora de deixar ela partir. Mesmo que fazendo isso significasse que algum pedaço de mim estava indo com ela, estava dentro dela.
Chegara a hora de não mais enfrentar situações constrangedoras, não mais viver de provocações e jogos. Chegou a hora de ir, e quando temos que dividir algo, devemos escolher quem vai e quem fica.
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Amores Imperfeitos
FanfictionCapa: Catarina13ac "... mas eram muitos Cds. Daí eu lembro que eu fui pra casa delas de madrugada, ajudar elas a empacotar todos os Cds, colocar na caixinha e mandar pros fãs. A gente ficou até quatro da manhã fazendo isso. Eu levei minha cachorra...