Capítulo 2: Depressão muda as pessoas.

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O meu pai me abusou sexualmente apenas uma vez. Foi quando ele começou a beber.

— Filha, o seu pai está bebendo muito, ele irá começar a chegar bêbado em casa todos os dias. Não sei mais como fazer ele parar.

Meu pai ia para o trabalho pela a manhã e chegava em casa na madrugada, bêbado.

Desde que meu pai me abusou, eu fiquei com um medo filho da puta dele. Quando ele começou a beber, o meu medo aumentou para 200%, foi quando, pela a primeira vez, ele levantou alguma coisa para bater em mim.

Meu pai chegava em casa bêbado todos os dias depois do último acontecimento. Todos nós achamamos que ele pegava brigas, ou entrava em brigas no caminho de volta para casa, o que resultava a sua raiva e o que resultava diversas marcas no meu corpo. Ele começou a me bater, com cintos ou até mesmo com os seus chinelos de couro, normalmente. Se duvidar, tenho até hoje marcas.

— Filha, o que é isto no seu braço? — Ela fala olhando o meu braço e vendo uma das marcas que meu pai havia deixando em meu corpo noite passada.

Noite passada foi a primeira vez que ele me bateu. Nunca cheguei a imaginar que o cara que me chamava de "Princesinha do Papai" chegaria a maltradar a própria filha como fez ontem.

— O pai não lhe disse? — Perguntei. Ela me olhou surpresa. — O pai chegou bêbado hoje na madrugada e descontou a raiva dele em mim. — Falo. Ela soltou o meu braço com violência.

— Você está dizendo, Wanessa, que essas marcas todas, no seu corpo. — Ela fala me olhando de cima a baixo e olhando cada marca. — Foi o seu Pai?

— Ele mesmo!

— Você deve estar de brincadeiras com a minha cara, Wanessa. Você já está na idade de transar, isso foi uma transa selvagem que você teve e está colocando a culpa em seu próprio Pai. — Ela fala e eu arregalo os olhos.

Como ela poderia ser tão... tão... Arrrr! Como uma transa selvagem poderia deixar marcas de cintos pelo o meu corpo? Olho para a minha mãe, fecho os olhos, respiro fundo e apenas concordo com a cabeça. É melhor ficar em silêncio do quê começar uma discussão que não acabará bem.

— A Senhora está certa! — Falo e ela concorda com a cabeça. — Transei com o Emanuel ontem. — Falo de olhos fechados.

Mal sabia ela que eu estava brigada com o Emanuel à quase 2 semanas.

Eu tinha um namorado naquela época, claro, eu conseguia esconder as marcas de tudo muito bem, afinal, a gente só se via no Colégio, já que eramos e ainda somos da mesma sala. Namorei o Emanuel por 1 ano e 2 meses, foi quando eu entrei em depressão, terminei namoro e me afastei de todos.

Estava brigada com o Emanuel pelo o fato que ele estava me ignorando, não respondia minhas mensagens, não falava comigo na Escola e nem ficava comigo durante os recreios, e muito menos me levava para a casa no final da aula. No final, ele veio me pedir desculpas e tudo voltou ao normal, quer dizer, apenas comigo e com ele, porque as coisas em casa continuavam o mesmo inferno que estava.

— TIA NESSA. — Escuto a voz do Gabriel e saiu do meu quarto correndo.

Eu ficava com o Gabriel todos os finais de semanas, quando o trabalho dos pais dele pegavam mais no pé e eram mais puxados.

Pego ele no colo e o encho de beijos. Ele me abraça e fica com os seus pequenos bracinhos em volta do meu pescoço. Gabriel na época tinha 3 aninhos, ia fazer 4 apenas no próximo ano.

— Tem roupas dele aí, Cunha? — Isadora, minha cunhada, me pergunta assim que termina de falar com minha mãe.

— Tem umas 3.

— Ok. Qualquer coisa me liguem ou liguem pro Carlos. — Ela fala antes de se despedir do filho, de mim e da mãe e ir com o Carlos para o trabalho.

Coloco o Gabriel para assistir televisão enquanto tomo banho para sair com ele. Iria levar ele até um parquinho que está na pracinha perto de casa, junto com o Emanuel.

O Emanuel sempre tratou muito bem o Gabriel, e ele até hoje me pergunta o que aconteceu entre eu e ele.

— Tia Nessa, por que o Tio Manel não vem mais ver o Biel? — É quase sempre a mesma pergunta quando ele vem me ver, ou quando eu vou ver ele.

— Esqueceu que a Tia não fala mais com ele? — Pergunto e ele me olha torto.

— Mas o Tio Manel era tão legal, Tia.

— É... Eu sei... — Falo pegando ele no colo e indo até o meu quarto, já era tarde da noite.

Apesar que eu ter terminado com o Emanuel naquela época, não significa que NAQUELA ÉPOCA eu ainda não gostava dele. Demorei muito para aceitar que foi eu que terminei com ele e ver que ele seguiu em frente com a maior facilidade do mundo. Hoje em dia ele está namorando sério — acho que até mais sério do quê o nosso relacionamento — e vou ter que admitir, a menina é um maior pitelzinho. Mas, hoje em dia a gente ainda se fala, somos amigos até, somos da mesma sala, acho que isso é o mínimo que podemos fazer pelo os nossos amigos.

Com minhas amigas já foi um tanto diferente de se afastar delas. Comecei a me afastar das minhas amigas não tão íntimas, são mais colegas, o mais difícil foi se afastar da minha melhor amiga. Ah, uma dica, NUNCA se afastem de NINGUÉM por depressão. NUNCA. Perdi a minha melhor amiga e amigas que eu poderia contar pelo o resto da minha vida.

— Oi, Belle. — Falo com um sorriso torto.

— Oi, amor da minha vida. — Ela fala me abraçando pelo o pescoço. Olho para as meninas e ela estava nos encarando.

— Eu vou indo. — Falo soltando um beijo na bochecha dela e dando um abraço apertado nela.

Aquele foi um abraço de despedida, eu poderia sentir aquilo e eu tenho certeza que ela também sentiu. Foi horrível. Eu saí andando para a quadra normal, mas quando cheguei na quadra, eu me desmoronei em lágrimas. Eu chorei, chorei muito.

Lembram daquela modinha que era de usar cordões de melhores amigas? Eu tinha um com ela. Quando não usávamos no pescoço, usávamos como pulseiras. Eu tenho o meu até hoje guardado. Tínhamos um grupo chamando "#Kiuu", éramos em total 9 meninas. Eu, Belle — ela era minha melhor amiga —, Brih, Kakah, Elly, Kah, Irys, Suh, Rita.

Só voltei a falar com elas porque que a Amanda — irmã da Belle — veio falar comigo. Ela disse que ela estava estranha, não contava nada para ela e etc. Foi quando eu tomei a iniciativa e fui falar com ela. Contei os motivos para ela e tudo. Mas, não voltamos a ser como antes. A gente passou 2 meses apenas trocando sorrisos e respondendo perguntas aleatórias feitas na sala, como: "Que horas são?", "Teve exercio da matéria tal?"

Hoje em dia, trato a Mandy e a Belle como se fosse minhas primas. Tem muitas pessoas que nos perguntam se somos realmente primas e falamos que sim, mesmo não sendo, apenas nos consideramos. Eu devo muito a elas.

Te Além.Where stories live. Discover now