Capítulo 3: Quando conheci ele.

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Se eu gosto dessa vida? Ah, vamos lá. É só um trabalho. Você gosta do seu? Não tem dias que você quer sair correndo e nunca mais voltar? Você está afim de fazer isso que você faz para o resto de seus dias? Às vezes você não sente que está empurrando tudo com a barriga em troca de um contracheque descente? Nossas realidades não são muito difetentes nesse ponto. Eu também estou atrás da felicidade, sinto falta dela, mesmo achando que nem sei o que é.

— Amiga, lembra daquele jogo que a gente jogava quando éramos crianças? — Maria Luiza fala assim que passa pela a porta da minha casa.

Maria Luiza era a minha melhor amiga desde então. Ela que estava ali quando eu precisava, me escutava e só dava a opinião dela quando eu pedia, às vezes eu só desabafa com ela e ela me consolava no final.

— Aham, sei. O que tem ele?

— Volta a jogar! Sério, agora existe um negócio chamado Imgur. Amiga, sério, tem cada cara GATO! — Ela fala animada, encaro ela e começo a rir.

— Tá. Me manda o link.

Desde desse dia, a única coisa que ela falava era de um cara chamado Allan. A única coisa que eu sabia dele era que o nome dele era Allan e que ele também jogava esse jogo.

"Amiga, vou te apresentar pro Allan." [Skype 19:56]

"QUE ALLAN, MARIA LUIZA? Tô cansada de você só falar nesse cara! Meu Deus, manda o disco, garota!" [Skype 19:58]

"Mandei o seu Imgur pra ele, vou te mandar o dele, espera." [Skype 20:00]

PUTA QUE ME PARIU. — eu queria colocar a foto que ela me mandou dele, mas vocês iram se apaixonar por ele e eu não quero isso, rsrsrs. — A foto que ela me mandou, ele estava cobrindo os olhos com uma das mãos e a foto focava apenas no sorriso dele. Sabe aquele sorriso que a gente vê e pensa: "PUTA QUE PARIU, TEU PAI FEZ CERTINHO"? Esse é o sorriso do cara chamado Allan. E eu digo uma coisa a vocês, eu amei o sorriso dele bem antes de amá-lo.

Dias antes de voltar a jogar o jogo e ver o sorriso do cara chamado Allan, eu havia sido internada, pois estava com pneumonia e anemia forte, passei minhas férias inteirinhas na cama de um Hospital.

— Bom dia, Wane. Como passamos a noite? — A médica fala entrando no meu quarto e parando do meu lado na cama.

— Foi até que bem. A minha bombinha acabou em um estalo de dedos.

— Irei pedir que tragam mais duas bombinhas. Então, vir aqui avisar que recebi seus exames. Você está com pneumonia e a sua anemia está forte, muito forte.

Recebi alta do Hospital 2 semanas depois. Eu havia terminado com o Emanuel em Abril, fiquei internada no meio de Junho até o final de Julho.

Quando eu ainda estava no Hospital, recebi uma visita do Emanuel, claro que eu fiquei surpresa, mas autorizei a sua entrada no meu quarto, já que passei 4 dias na UTI.

— Oi, Wane. — Ele fala entrando no meu quarto. Por que ele ainda continua me chamando pelo o meu apelido?

— Sabe que eu não gosto que me chame pelo o apelido. — Falo e ele puxa uma cadeira se sentando do lado da minha cama.

— Por que não me contou sobre isso tudo?

— Não finja que se importe, Emanuel!

— Mas eu me importo! Eu me importo contigo sim! Para de ser durona, Wanessa! Você poderia ter me contado, eu ia lhe ajudar, você não tá aguentando passar isso tudo sozinha, olha a sua situação!

— Não me chame de fraca! Você não sabe quantas vezes eu pedi para mim mesma parar de chorar e tive que sair por aí com um sorriso que não era meu.

— Que drama, Wanessa.

— Você não sabe pelo que eu passei. Não sabe pelo que eu ainda passo. Então não vem com essa de dizer que é drama. E mesmo que for, respeitar faz bem e todo mundo merece.

Ok. Voltando para o cara chamado Allan.

A MaLu me mandou o contato do Allan. Eu procurei a minha melhor foto naquele tempo e coloquei no perfil, — claro, temos que causar uma boa impressão. — Depois que coloquei a foto, chamei ele.

"Opa, opa, moço." [Skype 21:30]

"Opa, opa, moça." [Skype 21:30]

Responde rápido, assim que eu gosto.

"Lindo o seu sorriso, moço." [Skype 21:31]

"O seu é mais lindo ainda, moça." [Skype 21:31]

Não vou mentir, quando ele disse isso eu fiquei com uma vergonha filha da puta, eu sentia as minhas bochechas arder de tão vermelhas que elas estavam.

A gente começou a conversar. O papo foi bom. Tínhamos o quase todos os mesmos planos para o futuro, rimos e conversamos sobre coisas aleatórias e coisas interessantes. Descobri no meio disso tudo que ele também é fodido em relação a saúde e em relação a família.

"Ia me esquecendo. Tem quantos anos, moça?" [Skype 23:02]

"Tenho 17, moço. E ti?" [Skype 23:02]

"Faz a continha. 17 + 3 = ?. Não gosto de falar minha idade." [Skype 23:03]

Eu não contei para ele sobre a minha história de vida no começo, a única coisa que eu acho que ele merecia saber apenas no começo, era que eu estava passando por uma época difícil da minha vida, estava com depressão e me cortava. — sim, eu me cortava. — Muitas pessoas falam que se cortar é falta de 'rola'. Primeiro, passem pela a depressão, passem pelo o que a gente passou para nós levar a isto, não saiam julgando as pessoas por se cortarem, a gente não se corta porque a gente quer, quando nos percebemos estamos com os braços jorrando sangue e a lâmina na mão.

"Moça, você é minha versão feminina. É fodida na saúde e na família, está passando por depressão e não sabe qual é o seu lugar no mundo. Acho que a gente vai se dar bem." [Skype 00:00]

"Também acho que vamos nos dar bem. Agora, vamos para de chamar um ao outro de Moço ou Moça, acho que já podemos nós chamar pelo os apelidos." [00:01]

Eu sempre achei que ele levava a vida como um vento, que ele era leve e que apenas queria viver a vida e se divertir, que ia para as festas, pega muitas e ficava bêbado na 5 garrafa de Skol Beats blue. Mal sabia eu que ele também era tempestade por dentro, igualzinho a mim.

"Eu quero conhecer uma mulher que me faça me sentir o cara mais feliz do mundo. Que possamos ter dois filhos, um casal, e iríamos viver em uma casinha pequena, mas ideal para nós 4. Esse é um dos meus planos para o futuro." [00:10]

E foi ali que eu criei o meu primeiro plano com ele: Iríamos nos casar na beira do mar, iríamos ter um casal de gêmeos e morariamos no interior do Rio de Janeiro. Bem clichê.

"Não tenho muitos planos. Quero fazer uma boa Faculdade, de preferência, Federal, e no final, irei pensar em me casar e ter filhos. Até porque, filhos é uma imensa responsabilidade." [Skype 00:11]

Eu acho que acabei o clima bom, e o papo bom com aquilo. Eu acabei avisando que ia dormir, pois estava cansada.

Eu havia falado com a Diretora do meu Colégio quando as aulas voltaram. Eu ia para o Colégio apenas depois do almoço, já que ele era integral, eu não queria passar mal, e não era tudo que faziam lá que eu poderia comer.

Fui dormir depois de dar tchau e boa noite para o cara chamado Allan. Espero que ele também sonhe comigo.

Te Além.Where stories live. Discover now