Capítulo 01

1.2K 97 39
                                    

" Que tempos penosos foram aqueles anos - ter o desejo e necessidade de viver, mas não a habilidade ."

Misto Quente - Charles Bukowski

"Volta às aulas, se há um ano atrás chegasse esse período eu estaria em êxtase, mas nesse ano não é nada do que eu quero ouvir

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

"Volta às aulas, se há um ano atrás chegasse esse período eu estaria em êxtase, mas nesse ano não é nada do que eu quero ouvir. Quer saber o que mudou ? Tudo, minha vida, as pessoas que estão à minha volta, eu mudei.
Antes eu ficaria feliz de ir para escola, ver meus amigos, compartilhar minhas férias com eles, enquanto eles também contavam seus 'belos' momentos . Entretanto como a chuva as amizades são passageiras e o pior não é como se você falasse acabou e esquecesse, sempre tem algo que nos faz lembrar, aí você percebe que é saudade, por mais que dizemos a nós mesmos que não sentimos falta, nós sentimos e ai as vezes passa pela pessoa e ela nem olha em seu rosto ou te cumprimenta e aí você lembra da época em que vocês eram inseparáveis, lembra dos momentos felizes e pensa como era bom, isso é saudade, isso é o vazio que ela deixou, porque se não sentisse falta você nem lembraria ..."
Fecho o diário e corro para o banheiro, já que hoje senti a necessidade de escrever antes de tudo .
Tomo meu banho, escovo os dentes e vou correndo me arrumar, pego minha calça preta jeans, meu coturno marrom, uma blusinha de renda branca e preta e coloco o meu moletom por cima, já que hoje amanheceu um pouco frio, pego minha mochila e desço correndo para cozinha porque hoje acordei faminta e não vai ser o silêncio dos meus pais que vai mudar isso .
Como eu imaginei chegando na cozinha encontro Ricardo Davis sentado na mesa tomando café e lendo seu jornal calmamente e se eu perguntar pela minha mãe ele vai dizer " Teve um imprevisto no trabalho " típico de Patrícia Davis fugir dos problemas, então já nem me incomodo de perguntar.
Enquanto preparo meu prato vejo meu pai estreitando os olhos por cima dos óculos .
- Bom dia para você também Mirela.- Falou dando um gole em sua xícara de café
- Não vejo nada de bom .

Ele levanta abruptamente e abre a boca pra falar algo mas se cala e volta a sentar .
Termino de comer e vou para a escola caminhando mesmo, já que não tô afim de passar nem 2 minutos em um ambiente com meu pai .
Minha sorte é que hoje esta um dia extremamente agradável . Apesar de tudo eu ainda sei apreciar as coisas . Chegando na escola vejo vários alunos entrando na escola outros se abraçando, mas minha atenção vai pra ela Amanda Miller a nova patricinha da escola que por sinal ela e sua gangue estão vindo em minha direção tento mudar o rumo para não encontrar com ela, mas parece que isso não é o que ela quer .
- Oi Mirela como vai a vida ?- Pergunta Amanda olhando para as unhas rosa shocking.
Ela me olha com um sorriso simpático, mas que tá cheio de veneno típico das cobras que tentam hipnotizar suas presas.
- Licença preciso ir para a aula ! - Me esquivo tentando mais uma vez me afastar mas o carrapato do namorado dela me impede.
- Manuel sai da frente ! - Rosno.
- Ui ui ui a nerd ficou nervosinha - Fala Carla uma das jararacas que seguem Amanda.
Se eu tivesse em outro lugar com certeza eu teria metido a mão na cara daquela nojenta da Carla, que só a voz dela parecia a unha arranhando o quadro negro, uma tragédia !

- Mirela, meu bem, parece que você fez compras em um brechó, suas roupas parecem que vieram da reciclagem - Diz Amanda tentando mais uma vez me abalar.

Por mais que eu soubesse que aquilo era mentira porque apesar de distante, minha mãe fazia questão de comprar roupas de marca para mim, doía ouvir aquilo não pela roupa mas sim por saber que ela tinha prazer em me fazer sentir inferior.
Consegui contornar o bonde do horror e corri para ir no banheiro mas para o meu azar o sinal bateu e eu não podia perder a primeira aula já que era geografia e eu não sou nem um pouco boa nela ainda mais com o professor Phillips que só sabe sentar aquele traseiro gordo na cadeira e passar atividades sem explicação .
Cheguei e fui direto para a cadeira do fundo do lado das janelas, já que sentar lá na frente esta completamente fora de questão. Minha maior surpresa foi ver que em vez de entrar o professor Phillips veio um novo, em todos os sentidos da palavra, provavelmente ele acabou de se formar porque ele parece tão jovem e pelo o que percebi Amanda , Carla e Ingrid acharam ele muito mais que novo. Como é que essas garotas ficam dando em cima do professor são muito tontas.
- Bom dia alunos, eu vou ser o novo professor de geografia de vocês já que o anterior se aposentou, meu nome é Alex Walker !
A aula começou e toda hora a Carla levantava a mão para tirar dúvidas, para quem nunca conviveu com ela até pensaria que ela é uma aluna dedicada, mas eu sei que é tudo para poder falar com o professor que por incrível que pareça é mil vezes melhor que o professor Philips, mas acho que a maioria dos professores são melhores que ele. Assim que bateu o sino peguei meu material e corri para ir para a próxima aula enquanto as assanhadas daquelas garotas ficaram ao redor da mesa do professor.
Quando cheguei na sala da professora Zoraya encontrei ela com uma cara de múmia distorcida.
- Pelo menos alguém lembrou que tem uma aula de língua inglesa aqui, onde estão os outros alunos ?
- A maioria das meninas tá na aula de Geografia já os outros não sei não. - Falei erguendo os ombros.
- Vai para o seu lugar !
Fui para o final da sala enquanto ela, sem nem mesmo se importar com a quantidade mínima de alunos na sala, encheu o quadro com um texto em inglês .
Aos poucos vários alunos foram chegando até encher a sala, mas a professora já estava no outro lado do quadro e terminando o que queria dizer, que logo ela apagaria o quadro e mais da metade da sala não teria copiado. Dito e feito ela apagou e continuou a escrever mesmo com o protesto de alguns alunos .
-Se vocês tivessem chegado antes teriam copiado, agora se virem porque quero o texto até o final da aula.
Assim que ela terminou eu terminei junto com ela e levei o caderno como ela pediu .
-Pelo menos alguém vai terminar hoje- Resmungou.
Peguei meu caderno e fui para o meu lugar. A menina que senta na minha frente chamada Sophie se virou pra mim e sorriu.
- Você pode me emprestar seu caderno ?
- Tudo bem .
- Obrigada !
Enquanto rabiscava no meu bloco de notas que sempre carrego comigo, vi que meu caderno foi sendo passado de mão em mão. Depois de um tempo Sophie me devolveu meu caderno.
Assim que abri meu caderno no texto da professora vi em cima destacado de vermelho " Além de Nerd é sem vergonha ficou dando em cima do professor lambisgoia " . Aquela foi a coisa mais ridícula que me falaram, mas eu não podia negar que doeu.
Quando bateu o sino para a próxima aula, fomos informados que as próximas aulas seriam vagas, já que a maioria dos professores não tinham voltado ainda.
Quando estava passando no corredor para ir embora senti uma mão em torno do meu braço.Atrás de mim com a maior cara de pau estavam Carla, Ingrid e a Amanda.
- Olha aqui sua vadia mal vestida nem pense em piscar para o meu professor - Carla decreta.
- Larga de ser sem noção Carla nem olhei para ele .
- Deixa ela Carla você acha que ele ou alguém olharia para ela se nem amigos essa dai tem, imagina um namorado - Zombou a líder do grupo.
O trio do terror se virou e foram embora mas me deixaram sozinha com o peso daquelas palavras que por mais que eu negasse eram verdade e apesar delas não dizerem ou saberem, nem minha família me quer .
Sai correndo para o banheiro em busca de um lugar para chorar, por isso quando cheguei lá tranquei a porta antes que alguém me visse eu estava com tanta raiva e tristeza que só quando cheguei no banheiro percebi que estava com as unhas cravadas nas mãos, desde quando as meninas me pararam no corredor e quando soltei vi que tinha formado pequenas feridas em formato de meia lua nas palmas das minhas mãos e um pouco de sangue estavam nas minhas unhas .
As feridas estavam ardendo e muito por sinal e só depois de alguns minutos encarando o que eu fiz que eu percebi que a dor física afastou por alguns momentos as lembranças da dor emocional.
Naquele momento eu tinha descoberto a minha fuga da dor usando a própria dor.

Naquele momento eu tinha descoberto a minha fuga da dor usando a própria dor

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Diário de uma garota depressiva (Finalizado)Onde histórias criam vida. Descubra agora