Capítulo 1 Desperta

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Minhas pernas reclamam intensamente, não sei há quanto tempo, mas meu corpo denuncia que há muito eu não fico em pé e agora as obrigo a correr de forma desenfreada por minha vida.

Meus pulmões suplicam com desespero por um pouco mais de ar, é tudo o que pedem, mas não importa o quanto eu tente, não posso saciá-los.

Eu acordei em uma gaveta igual à de um necrotério, vestida com uma camisola branca parecida com uma hospitalar, com o meu nome numa etiqueta a altura do peito, W. Rangel.

Havia muitas outras gavetas iguais, a maioria fechada como um gigantesco armário, no entanto umas dez estavam abertas como a minha e todas estavam ocupadas por pessoas, algumas que eu reconheci.

Pessoas que eu via diariamente pela cidade e outras completamente estranhas a mim e nas gavetas fechadas etiquetas diziam que não estavam vazias, que tinha pessoas e por seus nomes todas identificadas, o registro de quem eram antes de estarem aqui.

Todos sem exceção estavam completamente parados e inicialmente pensei que estavam mortos, mas todos que verifiquei respiravam e seus corações batiam, estavam apenas dormindo assim como eu há pouco, olhei poucos, mas nenhum acordava, por algum motivo desconhecido apenas eu.

Um grupo de homens entrou na sala e me viu desperta.

Agora estão atrás de mim.

Não sei quem são eles e nem o que querem, mas não desejo descobrir. Inicialmente eu pensei que eles eram pessoas boas. Que havia uma explicação lógica para tudo isso até um deles dizer que eu não devia ter acordado, que eu devia voltar a dormir e agora seria para sempre.

Assim que ele levantou sua arma estranha e puxou o gatilho eu fugi deles.

Não sei quase nada sobre armas e nunca imaginei que existisse algo parecido com a que usavam.

Mas sei de muitas coisas:

Sei que ele disparou em mim.

Sei que a arma não falhou.

Sei que ele não errara.

Sei que não fui rápida o suficiente para sair da frente da mira.

Sei que não estou ferida.

Sei que não morri.

Agora estou na rua e livre para correr em todas as direções, posso pedir por ajuda, mas não consigo, há um problema, não tem ninguém, ninguém mesmo. Muitos carros parados nas ruas, mas nenhuma pessoa, mesmo sendo o fim da tarde de uma cidade movimentada. Normalmente à essa hora as pessoas estão deixando seus empregos, buscando seus filhos na escola e passeando, as calçadas estão cheias, as ruas paradas pelo trânsito, mas não hoje, agora há apenas eu e meus perseguidores.

Logo escurece e as luzes dos postes não acendem, nem as luzes das casas e dos prédios, tudo fica completamente escuro como em um blackout.

Eu sei que logo eles aparecerão às minhas costas, estavam atrás de mim antes de eu deixar o prédio, eu os deixei para trás, contudo sei que por pouco tempo.

A cidade de alguma maneira está muito diferente, tudo é como antes, ignorando os carros abandonados na rua e a ausência de pessoas nada mudou, mas de modo geral está diferente.

Corro desnorteada, sem me importar para onde, querendo apenas me afastar o máximo possível de meus perseguidores, eu viro numa esquina que me é familiar e me deparo com a rua de minha casa, involuntariamente segui para o único lugar que realmente faz eu me sentir segura.

Agora sei onde estou, paro de correr e ando devagar observando tudo a minha volta.

Está uma noite nublada, vestida apenas com uma curta camisola era para eu estar com frio, mas a adrenalina em minhas veias impede-me de sentir qualquer coisa além dos fortes batimentos de meu coração, o pulsar de meu sangue quente e a tremedeira de meus músculos prontos para continuar a correr.

MORPHEUS - Mundo AdormecidoWhere stories live. Discover now