Capítulo 28 - Monstro Marinho

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[YunJi]

Segui SiRan para uma parte do prédio que desconhecia. Funcionários estavam preparando os últimos pontos do evento que aconteceria, algo grande e pomposo pela quantidade de arranjos florais que iam de um lado para o outro. O andar altivo dela não deixava dúvidas que ela sabia que dominava naquele ambiente. Toquei meu peito, sentindo a pressão gravitacional concentrada ali, querendo romper meus músculos e ossos. Ela abriu as portas duplas de um salão e entrou, sinalizando para que a seguisse. Ali dentro, mulheres se arrumavam conforme a tradição coreana.

A mesma sensação ruim que tinha quando criança estava a minha volta. Foi como voltar no tempo, ver as mães com as minhas coleguinhas de escola, as ajeitando e deixando as roupinhas certas, enquanto eu ficava no canto, sozinha, apenas esperando que um meteoro atingisse o prédio. Claro, minha mãe não poderia estar ali. Nem mesmo minha tia poderia estar ali. A obrigação de fazer a cerimônia e as atividades culturais da escola mesmo sabendo que não teria ninguém que me importasse para ver. Eu mesma colocava o hanbok, eu mesmo o tirava, eu preparava o cabelo da melhor maneira que conseguia, sempre acabava torto, motivo de risos. Eu odiava as obrigações, odiava as convenções, odiava todas elas. Os risinhos, o cheiro do pó de arroz doce, os perfumes. Estava tudo de volta e tão aterrorizante e odioso agora como no passado.

Ela parou e apontou para um biombo entalhado por um artesão dedicado, onde havia uma gravura linda de uma gaivota no papel de arroz. "Sua roupa está ali, eu vou esperar aqui" disse e escondeu as mãos nas dobras do tecido. "Mo YunJi, você precisa se vestir adequadamente" SIRan disse e a encarei.

"Eu não quero vestir, eu já estou vestida" respondi.

"Ora, certamente que você não quer ser apresentada assim ao meu marido, não é?" a mulher mais velha disse e mexeu a mão no ar, apontando para a minha roupa.

"Acontece que essa é quem eu sou".

"Eu sei quem você é, Mo YunJi e no mundo real, não existe espaço para sua atitude. Por favor, vista a roupa e não cause constrangimento ao meu filho, ele não merece".

Constrangimento? Era a primeira vez que me associavam a esse sentimento de forma direta. Eu ri, sentindo que havia sido golpeada com muita força. Muito bem, Mo YunJi, você ainda pode ir embora. Simplesmente sair. Você não precisa ser um constrangimento para ninguém além de si mesma.

Olhei em volta e todas as mulheres, novas e velhas, vestiam os hanboks com elegância e usavam as posturas corretas que eram ensinadas ainda hoje as criancinhas. Eu estava em Joseon, talvez num tempo mais antigo, talvez até em outro reino. Tudo rico, em seda vistosa, enfeites com flores reais e pedras preciosas, fios de ouro. As saias tinham a leveza que transformava até a mais pesada das criaturas numa fada, o som do tecido possuía o som único da riqueza e da distinção.

Eu, aquela que dava vida a criaturas, não tinha medo dos monstros mais sinistros das profundezas mais escaldantes ou congelantes de qualquer inferno. Circulava com segurança nos ambientes sombrios das fantasias. Eu não tinha medo, mas estava cheia de pavor ao olhar em volta e me ver cercada de algo que eu não conhecia e que me oprimia severamente. Tudo o que me dava força seria tirado de mim, me deixando vulnerável ao segundo ataque, pois o primeiro já havia me acertado em cheio.

Aquele não era o mundo real. Era o mundo de JiYong. Podia fazer um último esforço e tentar parecer como eles a constrangê-lo com a minha atitude rebelde. Não queria fazer nada que manchasse a imagem dele. Ele tinha sido tão carinhoso naquela tarde, merecia bem mais do que eu podia oferecer. Ficou mais do que evidente que meu lugar não era ali e que eu ia tentar mais uma última vez porque queria que alguém aprovasse que uma pessoa como eu pudesse amar um dragão.

Esse Amor (GDragon Fanfic)Onde histórias criam vida. Descubra agora