Acordei com dois grandes olhos cor de avelã sobre mim.– Adivinhe que dia é hoje – ordenou Flynn, completa e obviamente empolgado.
Bocejei longamente enquanto meu cérebro ainda meio adormecido vasculhava na minha memória a procura de datas importantes.
Sim, havia uma.
– Hum...
– É meu aniversário! – exclamou, interrompendo minha inútil tentativa de concentração. – A partir de hoje você não pode mais me chamar de pirralho, nem de garoto, nem de menino, nem de moleque, nem de Flynnzinho, nem de...
Meus olhos começaram a se fechar na metade da lista interminável que Flynn recitava quase de um fôlego só.
– Ei! – Ele me repreendeu enquanto sacudia meu ombro. – Levante-se, hoje é o dia mais importante da sua vida, Cay.
– Não quer dizer da sua vida?
– Das nossas vidas.
Olhei feio para Kaine, tinha certeza que esse era o tipo de besteira que ele ensinava para o irmão quando eu não estava por perto. Naturalmente Kaine apenas riu.
Me levantei e desfiz o ninho de cobertores velhos e fedorentos que chamávamos de cama.
– Certo, recém formado homenzinho – caçoei. – Já que agora você já é grande o bastante, vá procurar lenha para a fogueira.
Flynn não gostou de outro apelido, mas não me desacatou. Caminhou até seu novo melhor amigo e o convidou para ir ajudá-lo.
Kaine se aproximou de mim enquanto olhava para o irmão se afastando saltitante.
– Caramba, eu ainda não tinha percebido o quanto ele cresceu nesse último ano.
Concordei com ele.
– Acho que o tempo passa muito mais rápido quando só contamos os dias e não as horas.
Kaine olhou para mim e percebi o exato momento em que ele decifrou algo em minha expressão.
– Algo aconteceu?
Não desviei o olhar, sabia que isso era o mesmo que ser sincera sobre sua pergunta, e eu não poderia ser.
– Não. Nada.
– É que desde ontem você tem estado um pouco... desligada.
Ah, é claro! Ontem...
– Está tudo bem, Kaine.
Ele deixou a conversa morrer, contudo não chegou nem perto de acreditar em mim.
– Temos que preparar algo para o Flynn – falei e o novo assunto caiu como uma luva.
Logo Kaine e eu nos distraímos pensando em algo que poderia tornar o dia do Flynn um pouco mais agradável. Não tínhamos muito com o que presenteá-lo, então nos ocupamos com outras coisas além de presentes.
Pelo menos conhecíamos Flynn o suficiente para saber que muita coisa o agradaria, ele geralmente ficava mais feliz com o fato de nos lembrarmos dele e do seu aniversário do que com qualquer coisa material.
Flynn e Alden voltaram algum tempo depois e enquanto Alden fazia uma fogueira para terminarmos de comer a raposa que jantamos na noite anterior, Flynn saltitava ao nosso redor como uma gazela e tive que lhe dizer que aquilo não soava nem um pouco másculo. Ele – com toda a sua maturidade – me mostrou a língua e foi reclamar com Alden sobre como eu era chata e não sabia como o próprio irmão me suportava.
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Interlúdio
Short StoryInterlúdio é um pequeno conto spin-off de cinco capítulos, contado pela perspectiva de Caydence Morgan, de dezenove anos. Uma garota que, ao lado de Kaine e Flynn, tenta sobreviver no mundo cruel do mesmo universo de Imperfeitos. Sem esperanças de e...