Capítulo 3

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Acordei com dois grandes olhos cor de avelã sobre mim.

– Adivinhe que dia é hoje – ordenou Flynn, completa e obviamente empolgado.

Bocejei longamente enquanto meu cérebro ainda meio adormecido vasculhava na minha memória a procura de datas importantes.

Sim, havia uma.

– Hum...

– É meu aniversário! – exclamou, interrompendo minha inútil tentativa de concentração. – A partir de hoje você não pode mais me chamar de pirralho, nem de garoto, nem de menino, nem de moleque, nem de Flynnzinho, nem de...

Meus olhos começaram a se fechar na metade da lista interminável que Flynn recitava quase de um fôlego só.

– Ei! – Ele me repreendeu enquanto sacudia meu ombro. – Levante-se, hoje é o dia mais importante da sua vida, Cay.

– Não quer dizer da sua vida?

– Das nossas vidas.

Olhei feio para Kaine, tinha certeza que esse era o tipo de besteira que ele ensinava para o irmão quando eu não estava por perto. Naturalmente Kaine apenas riu.

Me levantei e desfiz o ninho de cobertores velhos e fedorentos que chamávamos de cama.

– Certo, recém formado homenzinho – caçoei. – Já que agora você já é grande o bastante, vá procurar lenha para a fogueira.

Flynn não gostou de outro apelido, mas não me desacatou. Caminhou até seu novo melhor amigo e o convidou para ir ajudá-lo.

Kaine se aproximou de mim enquanto olhava para o irmão se afastando saltitante.

– Caramba, eu ainda não tinha percebido o quanto ele cresceu nesse último ano.

Concordei com ele.

– Acho que o tempo passa muito mais rápido quando só contamos os dias e não as horas.

Kaine olhou para mim e percebi o exato momento em que ele decifrou algo em minha expressão.

– Algo aconteceu?

Não desviei o olhar, sabia que isso era o mesmo que ser sincera sobre sua pergunta, e eu não poderia ser.

– Não. Nada.

– É que desde ontem você tem estado um pouco... desligada.

Ah, é claro! Ontem...

– Está tudo bem, Kaine.

Ele deixou a conversa morrer, contudo não chegou nem perto de acreditar em mim.

– Temos que preparar algo para o Flynn – falei e o novo assunto caiu como uma luva.

Logo Kaine e eu nos distraímos pensando em algo que poderia tornar o dia do Flynn um pouco mais agradável. Não tínhamos muito com o que presenteá-lo, então nos ocupamos com outras coisas além de presentes.

Pelo menos conhecíamos Flynn o suficiente para saber que muita coisa o agradaria, ele geralmente ficava mais feliz com o fato de nos lembrarmos dele e do seu aniversário do que com qualquer coisa material.

Flynn e Alden voltaram algum tempo depois e enquanto Alden fazia uma fogueira para terminarmos de comer a raposa que jantamos na noite anterior, Flynn saltitava ao nosso redor como uma gazela e tive que lhe dizer que aquilo não soava nem um pouco másculo. Ele – com toda a sua maturidade – me mostrou a língua e foi reclamar com Alden sobre como eu era chata e não sabia como o próprio irmão me suportava.

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