Capitulo 1

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Nenhuma criança de dez anos merece perder as duas pessoas que mais amava na vida.... Um pai protetor e uma mãe amorosa... Me lembro muito bem daquela noite trágica.... a pior da minha vida. Meu pai chegou transtornado em casa, era sábado e passava da meia-noite; minha mãe correu em sua direção e tentou acalmá-lo. Ele á empurrou e ela bateu a cabeça na parede atrás dela. Assim que percebeu o que fez ele implorou seu perdão e disse que á amava. Eu sentia tanto medo... minhas pernas tremiam e meu coração quase saltou pra fora da minha boca. Apertava Encantado meu ursinho branco de pelúcia em meus braços enquanto as lagrimas jorravam dos meus olhos.
- Princesa o que faz aqui?
Ele perguntou com a voz falha ao me ver parada ao pé das escadas. Me aproximei lentamente dele e da minha mãe que estava com uma expressão de desespero. Ela repetia em voz baixa :
- My dirty litlle..... my.... vá dormir princesa. Vá dormir agora ficaremos bem
- O que faz aqui Enoth? Volte para seu quarto!
Olhei nos olhos do meu pai e em seguida o abracei. O peguei de surpresa, mas ele logo retribuiu meu abraço. Senti um beijo casto no topo da minha cabeça e aquilo me passou uma rápida sensação de alívio.
- Está tudo bem minha princesa....me perdoe. Hoje é seu aniversário e eu nem pude te dar um presente. Mas ouça, vou cuidar sempre de você. Sempre.... tudo o que fiz foi por nós.
Sorri com tais palavras, ele parecia mais tranquilo. Eu me libertei dos seus braços assim que percebi pelo vidro da janela, algumas luzes familiares e alguns barulhos inconfundíveis! Vi o desespero tomar conta dos olhos do meu pai novamente. Ele correu em direção às janelas e espiou pela fresta.
- Malditos!
Ele gritou
- Me encontraram.... malditos.
- É a polícia não é Edgar?
Minha mãe perguntou. Eles se entreolharam por longos segundos. Meu coração estava batendo cada vez mais rápido e o pobre do Encantado estava sendo praticamente esmagado pelos meus braços magros. Eu sabia que algo estava errado, percebi em seus rostos.
- É Nicole.... chegou a hora.
- Eu sabia que esse dia chegaria Edgar... Eu estava sentindo.

Meu pai suspirou pesadamente e olhou novamente para mim. Apontou para as escadas e disse :
- Quando eu contar até três você vai correr até seu quarto e pegar sua mochila dentro do armário e vai retornar para cá e depois vai sair pelas portas dos fundos e continuará correndo princesa. Vai correr pela floresta sem olhar pra trás e vai até esse endereço aqui....
Ele retirou do seu casaco em cima do sofá um pedaço de papel amarelo e me entregou. O papel estava amassado e sujo.... notei manchas de sangue nele e foi quando me dei conta de que as mãos do meu pai também estavam sujas. Arregalei meus olhos e quando estava prestes a dizer algo, minha mãe gritou
- Filha vá! Agora Enoth não temos tempo. Agora!
- Mas mãe....
Ela me abraçou apertado e ouvi seus soluços abafados.Comecei a chorar também mas logo ela se afastou
- Seja forte Enoth. Esse momento iria chegar cedo ou tarde. Lamentamos que tenha sido no seu aniversário....
- Vá e faça o que mandei princesa. Vá! É muito importante que não perca esse papel. Não pare quando estiver lá fora e nem fale com estranhos. Não pare até chegar nesse endereço

Segurei firme o papel em uma das minhas mãos e subi as escadas o mais rápido que pude. Corri até meu quarto e segui as instruções do meu pai. Ao pegar a mochila que sempre levei quando fazíamos viagens em família, me surpreendi com o peso da mesma. Pensei em abri-la mas não podia perder tempo. Retornei até a sala de estar e vi meu pai com um litro de gasolina nas mãos, ele estava despejando o conteúdo pelos móveis, paredes, cortinas.... toda a sala. Me desesperei e tentei impedir que ele continuasse mas minha mãe se pôs em minha frente com os olhos inchados e vermelhos. Ela havia chorado bastante
- Não Enoth! Filha.... vá. Corra o mais rápido possível e não olhe pra trás. Nunca.... olhe pra trás. Não se esqueça que te amamos
- Tudo o que fiz foi por nós princesa
Olhei para meus pais com os olhos cheios de lágrimas. Comecei á soluçar alto e descontroladamente
- Mãe Pai.... por favor! Não façam isso Gritei implorando mas eles pareciam decididos.
Minha mãe estava com uma caixa de fósforos nas mãos e á segurou contra o peito. Em questão de segundos, um barulho estridente despertou nossa atenção. Foi a porta de entrada que foi arrombada. Vi vários policiais invadindo a minha casa com armas e lanternas. Quase entrei em choque mas tinha que ser forte!
Olhei para as duas pessoas que me deram a vida pela última vez antes de criar coragem e correr desesperadamente até a porta dos fundos. Abri a mesma e saltei pra fora quase tropeçando. Quando ouvi aquelas palavras...
- Nunca se esqueça princesa vou encontrar você!
Pensei em parar e quase o fiz. Mas sempre fui uma filha obediente e meus pais me ordenaram á correr sem parar e sem olhar para trás. Foi o que fiz enquanto sentia lágrimas brotando dos meus olhos e o vento balançando meus cabelos.
Assim que adentrei na floresta ouvi uma explosão. Naquele instante uma dor terrível tomou conta de mim e foi quando desobedeci Edgar e Nicole pela primeira vez na vida e parei de correr. Olhei para trás e vi.... Minha casa, o lar em que nasci e cresci com pais que me deram amor, educação... passei os anos mais felizes da minha vida naquele lugar.... havia se transformado em cinzas. Não existia mais nada além de chamas e mais chamas. Gritei o mais alto que pude e chorei colocando toda a dor pra fora. Após ter chorado até minhas pálpebras inchar, reuni as forças que me restaram e continuei correndo. A floresta estava escura e densa, o único barulho que podia se ouvir era as batidas do meu coração. Após horas correndo, minhas pernas estavam doloridas e meu corpo inteiro exausto. Me lembrei do papel com o endereço que meu pai havia me dado. Estava sujo de sangue mas as letras estavam visíveis. Reconheci as letras, eram do meu pai, ele anotou o endereço da minha tia Elisa. Eu sabia muito bem como chegar lá não precisava nem olhar o papel.
Não foi fácil, admito. Até hoje me pergunto como cheguei viva na casa dela pela distância.
Não foi uma recepção muito boa, já esperava por isso. Mas, naquele momento eu só queria um consolo.... tinha certeza que meus pais estavam mortos.

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