Capítulo 9

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Caminhei em passos rápidos até a saída do Colégio. Tive que dar uma de Flash, quando vi a Cindy uma das amigas da Karen. Ela olhava em todas as direções e segurava um celular
Acho que estava á minha procura.
Bom, se estava não vai me achar
Conferi se não estou sendo seguido, e não muito distante vi a Enoth parada em frente ao portão.
Onze e trinta e cinco como combinado. Essa garota é pontual. Me aproximei de fininho e levei minhas mãos até seus olhos os cobrindo e a mesma quase gritou.
- Shiii... calma. Não tenha medo
Sussurrei em seu ouvido. Ela suspirou e percebi seu alívio
- Que susto Nuno
Ergui uma sobrancelha e tirei minhas mãos dos seus olhos. Ela se virou e agora estamos nos encarando
- Como soube que era eu?
- Reconheci sua voz.... e o cheiro do seu perfume
Ela disse em um tom baixo. Cheiro do meu perfume? Me surpreendi. Não pude deixar de sorrir com isso
- Melhor irmos antes que sua namorada apareça e faça um escândalo
Assenti ainda sorrindo. Caminhamos até meu Lamborguini branco que ganhei de aniversário alguns meses atrás e abri a porta do mesmo para ela. Entrei em seguida e ela estava nervosa
- O que houve?
- Não sei se é uma boa idéia
Ela disse me fitando com essas duas esmeraldas no lugar de olhos. Me sinto tão vulnerável quando olho para ela. O que estou dizendo?
- Relaxa Enoth. Só vamos tomar um sorvete juntos.... sabe, eu estou querendo conhecer você melhor
É.... intrigante
Ela franziu o cenho.
- Intrigante? Eu sou intrigante?
- Sem dúvida
A mesma balançou a cabeça em negativa e deu de ombros.
- Ainda dá tempo de você desistir
- Não...
Sorri ao ouvir sua resposta. Coloquei o cinto de segurança e dei partida.
Não demorou muito pra chegarmos na sorveteria até porque fica praticamente ao lado do Colégio.
Estamos sentados em uma mesa que fica em frente á uma enorme janela. Toda vez que venho aqui, me sento nessa mesa por causa da vista.
- Faz anos desde a última vez que estive em uma sorveteria
Enoth disse, seu olhar é triste. Me pergunto o que essa linda garota esconde.... o que esses olhos verdes já viram?
- O que aconteceu?
- A vida. Simplesmente eu não tinha ânimo pra ir á lugar algum
Timidamente, toquei em suas mãos que estão em cima da mesa e ela puxou suas mãos rapidamente
- Desculpe
- Não.... Eu só não esperava
Enoth deu de ombros. Tentei sorrir para deixá-la mais tranquila
- Tem muitas coisas que quero saber sobre você.... da mesma forma que tenho muito para te contar
Falei em um tom baixo. Nossos sorvetes enfim chegaram. Pedimos de chocolate com cereja, meu sabor favorito.
- Prove vai gostar
Enoth sorriu e em seguida levou lentamente a colher com um pouco de sorvete até a boca. Fechou os olhos enquanto saborea a delícia gelada e caramba.... Acho que estou babando.
Senti uma vontade de tocar em seus lábios assim que vi um pouco de sorvete no cantinho..... quero limpar com meus dedos ou, quem sabe....
O que estou dizendo? Preciso controlar esses meus pensamentos
- Nossa.... É uma delícia!
Ela disse com um largo sorriso.
- Te disse que ia gostar
- É o melhor sorvete que já provei....
- Está sujinho bem aqui....

Não resisti e toquei seus lábios com meu dedo indicador. Enoth me fitou um pouco séria e retirei meu dedinho atrevido dos lábios dela
- Obrigada eu não percebi
- Tudo bem....
Após alguns minutos em silêncio, decidi fazer algumas perguntas.
- Há quanto tempo mora aqui?
Ela ergueu a cabeça e sorriu de lado
- Seis anos
Franzi o cenho. Como assim? Seis anos e nunca à tinha visto em outro lugar ao não ser no Colégio?
- Nunca tinha te visto....
- Não costumo sair de casa. Me mudei com a minha tia há seis anos e... estávamos passando por momentos muito difíceis. Eu não ia para a escola de jeito nenhum. Ela decidiu contratar professores particulares para mim
Uau.... Essa garota me surpreende cada vez mais.
- Eles eram excelentes professores mas eu queria ir para um Colégio como as outras garotas da minha idade.... sair com amigas para um shopping e fazer compras, coisas de uma adolescente de dezesseis anos....
Mas, nunca fui para um Colégio nem mesmo quando era criança. Meus pais me educaram em casa... minha mãe era professora. Então, eu não tinha amigos para brincar e nem sair. Quando passei a morar com a minha tia, ela contratou aqueles professores todos e gastou uma fortuna. Eu não queria nada daquilo.
Quando fiz dezesseis, decidi que não ia mais viver daquele jeito. Queria ser uma garota normal e... bom, ainda quero. Ela me matriculou no Colégio e... bem, foi assim que você me conheceu.
Ouvi tudo atentamente. Que história... mas sei que não acabou por aqui. Há muitas coisas que devo saber sobre a garota em minha frente, mas vou com calma.
- Nossa.... desculpe mas, porque você foi morar com a sua tia?
Enoth suspirou pesadamente e desviou seu olhar do meu. Será que fiz mal em perguntar isso?
- Eles morreram quando eu tinha dez anos
Ela disse em um tom baixo. Quase sussurrando. Minha nossa.... pobre Enoth. Era apenas uma criança quando perdeu seus pais. Não quero nem imaginar o que ela passou.... a dor que sentiu e pelo visto, ainda sente. Eu não sei o que faria se perdesse meus pais ou o meu irmão Tobey. Mesmo ele sendo um chato às vezes e me irritando ao ponto de eu querer empurrar ele das escadas, o amo muito. Não viveria sem eles
- Eu sinto muito
Toquei novamente em suas mãos. Dessa vez ela não afastou as mesmas das minhas.... ainda bem.
- Tudo bem, já faz algum tempo.
Apesar de tudo sinto falta deles.... todos os dias.
Ela está me encarando. Comecei à acariciar suas mãos com meus dedos e torcendo para ela não afastar suas mãos das minhas. Sua pele é tão macia.... mesmo a Karen usando todos aqueles óleos e hidratantes caros, sua pele não é tão macia quanto a da Enoth. Como isso é possível?
- Eu não quero ver você triste. Seu sorriso é tão lindo.... que me faz sorrir também. Até a minha alma
Falei fitando suas mãos unidas com as minhas.
- Nuno.....
- Sim?
- O sorvete está derretendo
Olhei para nossas taças com o pouco sorvete que praticamente se transformou em água. Balancei a cabeça em negativa e ri baixo.
- Tudo bem... estou satisfeito mesmo
Enoth também riu e nossa.... que risada gostosa.
- Acho que também estou. Melhor irmos embora
Lentamente ela afastou suas mãos das minhas e aquilo me entristeceu um pouco. Já estava gostando do calor das nossas mãos....
- É.... vamos

Estou levando ela para casa e de vez em quando, me atrevo à olhar seu rostinho lindo encostado na janela do carro. Ela parece pensativa.
Não gosto muito de conversar quando estou dirigindo, mas gosto de ouvir a doce voz da Enoth.
Acalma meu ser.... o que estou dizendo? Suspirei pesadamente e decidi continuar o trajeto até o endereço que ela me deu assim que tínhamos saído da sorveteria.
As casas desse bairro são elegantes e bonitas. Tudo bem que não são iguais as mansões que enjoei de ver, mesmo eu morando em uma, mas são bonitas. Se moro em uma mansão? Sim. Deveria me orgulhar disso eu sei. Mas a verdade é que minha vida é monótona. Vivi sempre no meio do luxo e tive tudo que quis, mas sinto que falta algo.... mas o que? Será que aquele ditado : " Dinheiro não traz felicidade" é verdade?
Porque eu tenho tudo... mas ao mesmo tempo é como se não tivesse nada.
- É ali
A voz da morena me despertou dos meus pensamentos. Parei em frente a uma bonita casa de dois andares vermelha e branca com flores na frente e seu estilo é vitoriana aparentemente. É a casa mais bonita da rua.
- Entregue sã e salva
Disse sorrindo para ela
- Obrigada. Foi.... legal
- Foi ótimo passar essas duas horas e meia com você Enoth
Ela corou ou é impressão minha?
- Até amanhã...
- Espera!
Puxei levemente o seu braço.... caramba, senti como se uma corrente elétrica tivesse passado pelo meu corpo agora. Só com a Enoth.... isso aconteceu
- Me dê seu número de telefone
Ela franziu o cenho.
- Eu não sei se é uma boa idéia
- Está preocupada com a Karen?
Enoth revirou os olhos e em seguida pegou sua mochila e colocou em cima do colo. Abriu a mesma e retirou seu celular
- Não é que estou preocupada com a patricinha da sua namorada... mas não costumo dar meu número de telefone para quem conheço há apenas três dias
Ela deu uma piscadela. Nossa.... doeu um pouco. Balancei a cabeça e mordi meu lábio inferior. Quis rebater mas ela têm razão... acho.
- Não sou tão estranho assim. Quero conhecê -la melhor como já disse.
Podemos ser amigos... a menos que não queira
Alguns segundos se passaram e ela permaneceu calada. Nossos olhos não se desgrudaram nem por um segundo.
- Porque eu não ia querer sua amizade?
Ela se pronunciou.
- Porque tenho uma namorada ciumenta e.... patricinha como você disse
Enoth riu baixo.
- Nuno Jackson... você realmente não me conhece.
- Por isso mesmo. Me deixe conhece-la
- Aqui está
Ela me deu o seu número de telefone e meu sorriso está de orelha a orelha.
- Obrigada
- Não me agradeça. Amei o sorvete
Ela disse, abrindo a porta do meu Lamborguini e pulando pra fora. Me aproximei da janela e disse :
- Vou ligar pra você mais tarde.
Por favor atenda está bem?
Ela olhou para trás e deu de ombros. Entendi isso como um... talvez? Não. Prefiro um sim
Ela entrou na casa e encostei minha cabeça no banco do carro. Nossa... que manhã maravilhosa eu tive.
Descobri um pouco da morena que está me deixando confuso e com o coração quase saltando pra fora do meu peito. Como isso é possível? mal conheço a garota.
Mas vou conhecê -la. Decidido! Hoje á noite ligarei pra ela. Dei partida rumo á minha residência... talvez eu não queira esperar até á noite para ouvir novamente a doce voz de Enoth Grey

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